[Como A Bruma Que Dança]
Nasce uma voz em Coimbra, algures na alvorada dos anos setenta, um murmúrio que, com o tempo, viria a ecoar pelos meandros da música portuguesa. JP Simões, um nome que se insinua na memória como um segredo sussurrado pelas esquinas do destino, é mais que um cantor, mais que um compositor. Ele é o eco de uma cidade envolta em névoa, o reflexo de uma lua partida em mil fragmentos de estórias, melodias e palavras que se esvaem pelo ar como a bruma que dança sobre o Mondego. Ele canta, escreve, narra, interpreta. É uma constelação de talentos que brilha intensamente num céu de possibilidades infinitas, e ainda assim, permanece um enigma, um ser errante no teatro cósmico da vida.
[Um Suspiro Colectivo]
Foi na teia das estrelas que se entrelaçam entre os anos que ele encontrou as suas rotas. Começou nos Pop Dell’Arte, um cometa de criatividade arrojada, uma explosão de cores e formas que desafiam as leis da gravidade da arte. Depois, Belle Chase Hotel, o lugar onde as notas se transformam em fumo, em sombras projetadas na parede de uma sala esquecida onde a música ressoa como um sonho perdido. Quinteto Tati, um suspiro colectivo, uma tentativa de alcançar algo mais profundo, mais antigo, como se as suas cordas fossem fios do tempo que puxam memórias de vidas passadas. E sempre, sempre, JP Simões a solo, uma viagem pelo cosmos íntimo do ser, onde cada canção é uma estrela guia, cada verso uma nova galáxia a ser descoberta.
[Uma Galáxia De Melancolia]
E, no entanto, este homem de muitas vozes, de muitas vidas, não é apenas um músico. É também um mestre das palavras, um argonauta das narrativas. Escreveu contos, teceu libretos, argumentou filmes, e em cada um desses projectos deixou um pouco do seu pó de estrelas. A sua escrita, como a sua música, é uma constelação de significados, uma fusão de estilos e referências que flutuam entre as margens do real e do imaginário. Em O Vírus da Vida, há ecos de uma busca incessante por sentido num mundo que parece desintegrar-se, enquanto A Ópera do Falhado é uma galáxia de melancolia e ironia, onde cada personagem brilha com a luz trémula de uma estrela prestes a apagar-se.
[Um Ciclo Lunar]
E assim, o homem torna-se mito. Participa no Festival da Canção de 2018, trazendo “Alvoroço”, uma tempestade de sons e emoções que se agita como um astro errante, encontrando o seu lugar na órbita das canções eternas. Um ano depois, o reconhecimento desce sobre ele como uma chuva de meteoros e “Alvoroço” é premiado como o Melhor Tema de Música Popular no Prémio Autores’19. Mas JP Simões não se detém, não se prende ao sucesso terreno. Em 2016 e 2021, renasce sob o nome de Bloom, como uma nova lua, diferente, distante, mas igualmente fascinante. “Tremble Like a Flower” e “Alice (From Wonderland)” são fases de um ciclo lunar, ora cheia, ora nova, sempre em transformação, sempre em expansão.
[Um Farol Na Música]
No palco, JP Simões é um planeta solitário e, ao mesmo tempo, um sistema inteiro de corpos celestes. A solo, percorre as diferentes eras da sua carreira como um viajante do tempo, saltando de estrela em estrela, de canção em canção. Com banda, assume a persona de Bloom e o palco torna-se um firmamento onde as melodias brilham como constelações, cada uma com a sua história, a sua lenda. E, ainda, há o tributo a José Mário Branco, um eclipse solar que une passado e presente, uma homenagem que é tanto uma celebração como um lamento, uma despedida ao homem que foi um farol na música portuguesa.
[No Espaço Infinito]
Com uma trajectória assim, as palavras parecem insuficientes para capturar a essência de JP Simões. Mas talvez seja essa a sua natureza — uma estrela cadente, visível apenas por um instante, mas cuja luz persiste na memória, uma voz que ressoa como o eco distante do Big Bang, criando e recriando universos de significado. Cada projecto, cada colaboração, desde as notas fugazes dos Pop Dell’Arte até às explorações introspectivas de Bloom, é uma nova órbita, uma nova trajectória no espaço infinito da criação artística.
[Corolário Cósmico]
E assim, JP Simões, errante cósmico, continua a sua viagem pelas estrelas da música, da palavra, da vida. Cada canção é um cometa que atravessa o firmamento, cada letra um planeta em órbita, cada disco uma galáxia que se expande no cosmos das nossas emoções. E nós, meros mortais, observamos o seu trajecto, capturamos os seus fragmentos, e guardamos a sua luz dentro de nós, como quem guarda um pedaço de infinito. Pois JP Simões é isso — um universo em expansão, uma constante dança de astros, sempre em movimento, sempre a criar novas constelações no vasto céu da música portuguesa.
[A Queda Suave de uma Flor que Treme na Terra Fria ou Fragmentos de Um Delírio Lírico]
[Tremores na Eternidade: Dançando no Vazio]
“We will play until the sun goes down, tremble like a flower on the cold, cold ground”
Há uma inocência que vibra entre as linhas, um jogo eterno que se desenrola sob um céu que nunca parece cair. O sol, esse vigilante incansável, mergulha no horizonte, mas o jogo, oh, o jogo continua. “Tremble like a flower”, uma flor que não desabrocha em campos verdes mas no solo frio, cruel. É um tremor que se confunde com a pulsação do cosmos, onde as crianças da noite, eternas errantes, vagueiam sem um reino que as reivindique. “Don’t be fooled by kingdoms that will never come”, pois o engano é a essência de quem espera por tronos que jamais existirão.
A flor trémula é um símbolo frágil, um coração exposto ao vento gélido, e, no entanto, há uma força nesse tremor. “Tell our mommies we’ll be late… Forever.” O atraso eterno não é apenas uma recusa de horários, mas um desafio ao tempo, uma negação da linearidade. O late, tão tardio, torna-se eterno, transcende as fronteiras do agora e do depois. Há uma revolução suave e insana na declaração: “We are every nation’s refugees, builders of a loving new insanity.” Somos todos refugiados, exilados de nós mesmos, construtores de uma loucura amorosa, onde as estrelas são feridas que se abrem em dragões sangrantes.
A música transforma-se num mantra cósmico: “Bleeding dragons, dancing our way back to Mars.” As estrelas, essas entidades distantes, são tanto guias quanto desafios, e dançamos, sempre dançamos, de volta a Marte, o planeta da guerra e do amor. O tremor da flor no chão gelado é o tremor da humanidade, frágil, mas é resiliência num universo indiferente.
[Sinfonia de Uma Flor Trémula Sideral]
Uma guitarra que murmura em dedos de vento,
tocada suavemente, técnica de quem sente
o universo nos pulsos, como quem colhe estrelas.
O som desliza, flutua sobre um pad, uma almofada
feita de éter, de substância invisível,
onde a voz se ergue como um cometa,
serena, orbitando ao redor de nós,
envolta em brumas de sintetizadores,
melodias que se estendem, cósmicas,
como braços de galáxias em espiral,
e a percussão, um coração que bate jazzístico,
ritmo que oscila entre estrelas cadentes,
um pulso, um tremor, uma flor que vibra.
E depois, como um sussurro que se transforma
num grito de cor, entram as guitarras,
eléctricas, psicadélicas,
sons distorcidos como ecos de um tempo
onde Syd Barrett flutuava entre sonhos.
Os sopros surgem, espectros no espaço,
pontos de luz que cintilam e desaparecem,
coros que emergem de um espaço sideral,
fantasmas de uma melodia perdida
nas margens do tempo e do espaço.
O baixo, esse pulsar do cosmos,
um pulsar que nos guia, que nos prende,
que nos mantém ancorados
enquanto a música nos leva,
além, sempre além.
[Alice nas Fendas do Multiverso ou A Odisseia de Uma Realidade Desfocada]
[Alice e o Segredo das Estrelas: Uma Travessia por Mundos que não Existem]
“Here she comes with rainbows, she’s got a spark in her eyes”
Alice, a viajante de maravilhas e pesadelos, surge como um espectro colorido, trazendo arco-íris que não pertencem ao nosso mundo. É uma figura de outro lugar, de outro tempo, talvez de um céu que ninguém conhece. Alice, tão presente e tão ausente, desce das estrelas para se misturar com as ruas lotadas de uma noite qualquer. “Alice (from Wonderland)”, mas Wonderland é mais que um lugar, é um estado de ser, é a essência do que é fantástico, do que é surreal.
E ela caminha entre nós, como se soubesse os segredos que nem as estrelas ousam revelar. “Down on the streets, on the crowded nights, the angels go where she goes.” Os anjos, essas criaturas etéreas, seguem-na, como sombras que se estendem no crepúsculo. Alice, com o seu brilho que não é deste mundo, carrega consigo um conhecimento silencioso, um segredo que apenas se revela na dança e na canção. “Oh, she traveled so far just to see where we are.”
Alice não está perdida nas estrelas, ela é as estrelas. Ela conhece cada um de nós, dançando pelo cosmos com uma familiaridade que desafia a lógica. “And you’re dancing along ‘cause she knows you.” Esta dança não é apenas uma dança, mas um reencontro, uma memória partilhada de um lugar que nunca existiu, mas que, de alguma forma, todos conhecemos.
[Alice Perdida no Caos das Guitarras]
A guitarra acústica começa, uma semente que se planta num campo de distorção, e sobre ela, como uma onda que se ergue, as guitarras distorcidas, cósmicas, caóticas, um jogo de sombras e luz num teatro onde Alice se perde, ou talvez se encontre, entre as ondas de som que se quebram e se refazem
num mar de caos.
A voz surfa, dança, sobre as guitarras progressivas, numa coreografia de distorção, um mergulho no abismo, e depois, como um raio de sol que corta as nuvens, sons de piano, notas que caem como estrelas cadentes, pontuando o caos, dando forma ao informe, numa batida que ecoa, jazz ou rock, tanto faz, pois é uma batida do universo, um pulso que nos liga, que nos mantém vivos.
O baixo, minimalista, dá-nos os graves, as raízes, a âncora que precisamos neste oceano de som, neste turbilhão de caos, neste universo onde Alice vagueia, não perdida, mas encontrada, numa melodia que é sua, num som que é dela, e que nos leva, sempre, para lá das estrelas.
[Coda de um Universo que Nunca Foi ou Ecos de Uma Flor Trémula e Uma Alice que Dança]
[I. A Travessia pelos Astros: O Despertar da Flor Num Vazio Chamado Infinito]
No início, há o silêncio. Não o silêncio absoluto, mas o sussurro distante das estrelas, como se o próprio universo estivesse a prender a respiração, aguardando o instante exacto em que a música começa. A flor trémula surge nesse cenário, não uma flor que nasce da terra, mas sim uma que flutua no éter, nas bordas de uma galáxia ainda não formada. Ela treme, não pelo frio, mas pelo vazio, pelo peso imenso de tudo o que ainda não existe. E então, as primeiras notas aparecem, como meteoros que riscam a escuridão, anunciando a chegada de um som que não é deste mundo, nem deste tempo.
A guitarra, dedilhada com precisão cósmica, desfaz-se em fragmentos, como asteróides que colidem em silêncio, espalhando vida onde antes havia apenas vazio. O fingertapping é uma criação de quem sabe que cada toque no instrumento é um toque nas próprias veias do universo. A música nasce assim, como um batimento cardíaco de um deus adormecido, uma flor que treme em cada acorde, suspensa entre o ser e o nada. Os coros, vindos de uma distância inalcançável, sussurram segredos de planetas esquecidos, ecos de civilizações que nunca existiram, e o baixo é o fio condutor, a gravidade que impede que tudo se desintegre.
Há uma dança que começa nesse vazio: a percussão. Não é a percussão que marca o tempo como num relógio, mas sim uma batida fora do compasso do universo, um ritmo jazzístico que brinca com as estrelas, oscilando como um pêndulo que nunca pára. Cada batida é uma revolução completa, uma órbita inteira, e a flor, ainda tremendo, dança junto, como se soubesse que o som é a única coisa que a mantém viva.
[II. A Queda de Alice nas Fendas do Espaço-Tempo: Onde a Gravidade é Uma Piada Cósmica]
E então, como num sonho que se desdobra em outro, aparece Alice, essa viajante insólita que caminha por entre os fragmentos do som como se o caos fosse o seu verdadeiro lar. Alice não cai na toca do coelho; Alice navega entre as ondas de distorção, surfando no que resta das notas despedaçadas pelas guitarras. Ela não dança sobre terreno firme, mas sim sobre um mar de distorções cósmicas, cada nota como uma explosão de estrelas a desintegrar-se antes mesmo de brilhar.
O caos é a ordem natural aqui. As guitarras distorcidas, cósmicas, provocam uma espécie de fascínio desorientado. O som não segue regras; ele flui como uma corrente descontrolada, uma onda de energia bruta que Alice cavalga, sem nunca olhar para trás. E, por entre todo esse caos, há um piano. Um piano que se ergue como uma ilha solitária num oceano de distorção, lançando notas aqui e ali, como quem tenta acalmar o furacão. Mas o furacão não se acalma, e o piano também não quer isso. Ele apenas pontua, relembra-nos que há um ritmo escondido sob a cacofonia.
E a batida. Ah, a batida. Ela é o fio temporal que liga este universo caótico a outro ainda mais distante. Um ritmo que não é puramente rock, nem jazz, mas algo que se desdobra entre dimensões, uma batida que ecoa na matéria escura, puxando Alice, puxando-nos todos, para um destino que nunca poderemos ver, mas que sentimos no fundo dos nossos ossos.
[III. O Horizonte dos Acontecimentos: Onde a Música se Desvanece no Espectro das Estrelas]
Há um ponto em que a música já não é som, mas vibração pura. A flor trémula e Alice convergem, duas entidades que dançam no limite do possível, onde as leis da física se desfazem e onde a música se torna uma entidade por si só. O som, antes tão firme, começa a dissolver-se, como partículas que se afastam umas das outras numa expansão contínua. E é aí que compreendemos: esta música nunca foi nossa. Ela sempre pertenceu ao cosmos, a um universo que nunca foi, mas que sempre existiu nas entrelinhas do nosso tempo.
A flor trémula, símbolo de uma fragilidade que só existe porque o universo permite, dissolve-se. E Alice, a viajante das distorções, continua a sua jornada, sem nunca parar, sem nunca olhar para trás. E nós, como espectadores cósmicos, ficamos suspensos nesse último acorde, num instante de suspensão eterna, esperando por uma resolução que sabemos que nunca virá.
[IV. Ecos Infinitos: O Lamento de Uma Galáxia que Nunca se Formou]
Quando a última nota desaparece, somos deixados com o vazio novamente. Mas este vazio já não é o mesmo. Ele vibra com os ecos da flor e de Alice, com os fragmentos da música que, por um breve instante, nos transportou para um lugar onde o tempo e o espaço eram maleáveis. A música transformou-se numa memória de um universo que nunca foi, mas que, paradoxalmente, agora existe dentro de nós.
O cosmos, outrora silencioso, agora ressoa com os ecos de uma flor trémula e de uma Alice que dança. E é aí que entendemos: nunca houve um universo sem esta música, porque ela sempre esteve lá, nas estrelas, nas vibrações, nas notas que nunca escutámos. E assim termina a coda, num acorde que se expande infinitamente no horizonte dos acontecimentos.
[Finale Cósmico: O Eco Eterno de JP Simões no Espaço-Tempo da Canção]
JP Simões é, antes de mais, uma constelação de sons e palavras, uma figura que se move entre as estrelas da criação com a leveza de quem conhece o segredo do universo, mas o sussurra apenas aos mais atentos. Ele não canta, ele orbita. A sua voz flutua entre mundos, cada palavra uma pedra atirada ao espaço, cada canção um planeta que gira em torno de uma estrela desconhecida. Não há pressa no seu canto, não há urgência, apenas a certeza de que o som continuará muito depois de tudo ter desaparecido.
Ele é feito de fragmentos, pedaços de histórias, letras que são ecos de um tempo que nunca passou, melodias que fluem como nebulosas, entre a densidade do jazz, a leveza da folk, o caos do rock progressivo. Cada nota que toca é uma órbita, cada acorde uma revolução completa ao redor da canção que ele ainda não escreveu, mas que já se sente a pulsar no cosmos.
JP Simões é um alquimista sonoro, misturando linguagens, sons, culturas, para criar algo que não é deste mundo, nem de outro, mas de um espaço entre os espaços, um interlúdio cósmico que só existe enquanto ele toca. Ele transforma a banalidade do quotidiano em poesia espacial, o amor em fragmentos de estrelas, a dor em cometas que passam por nós com a suavidade de quem sabe que a vida, como a música, é passageira. Mas enquanto durar, ela ecoa, e Simões assegura-se de que esses ecos jamais se apagam.
Assim, termina o seu canto, não com um final, mas com um expandir constante, uma última nota que se prolonga, sempre a vibrar, sempre a crescer, rumo ao infinito. No espaço imenso da canção, JP Simões será sempre uma voz a ouvir-se, a ressoar, a criar, num cosmos onde a música é a única linguagem que importa. Ele não é uma estrela; ele é o firmamento onde todas brilham.