Pode não ser o nome mais sonante da TDE, editora onde sobressaem Kendrick Lamar (que está em vias de sair), ScHoolboy Q, SZA, Isaiah Rashad, Jay Rock ou Ab-Soul, mas Lance Skiiiwalker é um dos mais intrigantes desse poderoso elenco, tendo já lançado o álbum Introverted Intuition (2016) e os EPs Tales From the Telescope Chapter 1: Rebirth e Tales From The Telescope Chapter 2: Internal Shine, ambos em 2021.
“Chicago” é a terceira faixa do seu último projecto e, a partir de hoje (e com o selo de Staff Pick do Vimeo), podem ver o vídeo assinado pelo português João Pombeiro (que, neste caso, acumula créditos na realização, conceito, direcção de arte e animação). Um realizador com currículo: já viram o seu trabalho por aí no grafismo e vídeos do projecto SG GIGANTE (tributo a Sérgio Godinho curado por Capicua) e em colaboração com artistas como Nightmares On Wax, Surma, Cave Story ou Nadia Schilling.
Fomos saber um pouco mais sobre este “encontro” com a equipa da Top Dawg Entertainment e perceber como é que se acaba a trabalhar com uma das casas mais poderosas do rap americano na actualidade.
Lance Skiiiwalker — Chicago from João Pombeiro on Vimeo.
Como é que surge o convite para trabalhar com o Lance Skiiwalker?
O convite foi feito directamente pelo Lance, que conheceu o meu trabalho através de um amigo dele que é realizador e que tinha visto o que eu fazia no Vimeo.
Já conhecias o trabalho dele?
Na altura apenas o conhecia de nome. Talvez até devido ao Rimas e Batidas, que falou do seu primeiro disco. Mas não me lembro de ter ouvido nada até começarmos a trabalhar juntos.
Qual foi o briefing da parte da equipa dele?
Não houve um briefing propriamente dito. Apenas me disseram que adoravam o vídeo que fiz para a Surma e que gostariam que eu pensasse em algo para esta música.
Pelos créditos pode-se depreender que trabalhaste de perto com os chefes da TDE. Como foi a experiência?
Na verdade trabalhei apenas com o Lance e também com o Keaton Smith que, para além de produtor, é também sound designer. Ele foi o elo com o resto da editora e trocámos muitos e-mails acerca das minhas ideias e das possibilidades deste vídeo.
Como acabei por seguir uma abordagem mais cinematográfica, a música foi estendida e remisturada com elementos de sonoplastia, de forma a adaptar-se melhor ao conceito do vídeo.
Qual é a tua relação com a cidade de Chicago? Tiveste de mergulhar profundamente na sua história ou já existia um relacionamento prévio?
Não tinha relação com a cidade e apenas a conhecia superficialmente de filmes e séries. No entanto, como este foi um projecto desenvolvido durante a pandemia, tive oportunidade de fazer uma pesquisa profunda. Como estávamos em quarentena, pude ler imenso e ver documentários sobre a história da cidade, a sua arquitetura e urbanismo, as cenas musicais e artísticas, ou até ensaios sociológicos sobre gangues ou movimentos de direitos civis. E como estávamos em quarentena até aproveitei para passear por Chicago no Google Street View ou em vídeos no YouTube da Chicago Transport Authority, onde podemos “apanhar” o L Train e viajar pela cidade em tempo real nas suas diversas linhas de comboio e metro. A dada altura dei por mim a reconhecer as principais avenidas e bairros da cidade, a saber de cor o nome dos arranha-céus e edifícios históricos. Toda esta pesquisa foi fundamental, pois permitiu-me representar a cidade de uma forma bastante realista e detalhada no vídeo, ou até incluir uma série de referências menos óbvias à história de Chicago.