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Fotografia: Vera Marmelo
Publicado a: 10/12/2018

JASSS e André Gonçalves na ZDB: Imersão total nos tecidos sónicos

Fotografia: Vera Marmelo
Publicado a: 10/12/2018

Na passada quinta-feira, a Galeria Zé dos Bois recebeu a apresentação das experiências de JASSS na sua residência artística na ADDAC System, uma co-produção da ZDB com o Matadero Madrid. Uma das peças fundamentais da equipa produtora de sintetizadores híbridos – concebidos com a visão de conectar o mundo digital com o analógico, tal como é proclamado pela companhia – é André Gonçalves, que fez as honras e a primeira parte do concerto.

Uma pequena mas preenchida sala da ZDB aguardava pelo produtor. André já actuou em conceituados festivais de música experimental em solo nacional, reconhecidos pela abertura à exploração do som, tais como o OUT.FEST, ZigurFest ou Jardins Efémeros. Como tal, a curiosidade para ouvi-lo era razão para chegar mais cedo ao espaço lisboeta.

Com a sala obscurecida e um foco de luz branca apontado ao tecto, o som dos sintetizadores e de samples foi crescendo gradualmente a partir das frequências mais graves. A isso, Gonçalves adicionava curtos mas eléctricos espasmos sonoros que foram dando lugar a um ambiente mais frenético, contrastante com a maior serenidade que se seguiu. À medida que as texturas se adensavam, pelo intensificação da dinâmica, pela expansão do espectro sonoro e da estereofonia, o foco moveu-se em sincronia com o som. A experiência imersiva do concerto de André Gonçalves englobou sons sintetizados – graves e agressivos ou sedosos e espaçosos — e alguns mais reconhecíveis, com pianos, harpas ou algo que se assemelhava às vozes de um coro, qual Mellotron, todos alterados electronicamente. Por este cenário sonoro misterioso surgiu ainda a voz processada do amigo e compositor Casper Clausen. A percussão e o acelerar rítmico encerraram a intervenção do músico.

A variedade de espaços sonoros que André Gonçalves nos apresentou durante os quase 40 minutos de concerto foi catalisadora de diferentes emoções, deixando-nos curiosos sobre o processo criativo e a forma como adquire todos estes sons nos ADDAC. Por fim, é uma amostra da capacidade do produtor português, que fez um espectáculo cativante com uma qualidade de som estupenda.



A percepção de um concerto, tanto para a audiência como para músicos, depende sempre e completamente de uma quantidade (talvez infinita) de factores. Entre estes estará certamente o espaço em que a actuação ocorre. Quando vimos JASSS na edição deste ano dos Jardins Efémeros, estávamos mais distantes da produtora sediada em Berlim, que actuou por cima das rochas que seguram a Catedral de Viseu, num magnânimo palco onde se apresentava quase como se de uma superior entidade se tratasse. Em Lisboa, alguns meses depois, o cenário foi diferente: vemos a produtora espanhola a 2/3 metros de nós. A proximidade permitiu-nos entrar de cabeça pelo universo sonoro misterioso e intenso de Silvia Alvarez.

JASSS apresentou-se, possivelmente como resultado desta residência artística, num registo menos expansivo ao nível rítmico. A aposta sentiu-se maioritariamente no abrandar das batidas mas também no intensificar do ruído e das camadas destrutivas dos poderosos sintetizadores. Há uma linha orientadora mais experimental e menos club oriented entre este espectáculo e o seu álbum Weightless.

Tal como o produtor que pisou o palco minutos antes, a artista apresentou uma performance contínua com vários ambientes sonoros diferentes, como se de cenas de um filme se tratassem. Mudou constantemente de cena, de textura, de espaço. A sala escura ajudava ao mergulho nestes universos e levava-nos numa experiência única que só a música pode proporcionar.

Começámos com a voz da produtora em loop e foram-se acumulando ruídos e sons que nos davam quase a sensação de entrar numa gruta, com um som misterioso, mas algo sufocante — a exploração de ideias do noise neste concerto. E talvez venha daí a sensação de som mais solto, experimental e destrutivo, alicerçado em kicks intensos e graves tão potentes que sentíamos o corpo e a sala a tremer. Entre Oneohtrix Point Never ou Qebrus, não retirou, no entanto, a importância às harmonias ou às batidas mais lentas. A sonoplastia complexa de JASSS evidenciou o belíssimo jogo que realizou com os osciladores da ADDAC System. Depois do cataclismo sónico, a produtora saiu timidamente de cena, deixando a música falar por si.


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