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Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 28/02/2023

Com a mira nos palcos.

Jaca: “Sou sempre atraído pela experiência e pelo que me pode acrescentar à vida”

Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 28/02/2023

Desde novembro de 2021, ainda antes de lançar o seu primeiro single, que ansiávamos pelo EP de Jaca quando, em entrevista ao Rimas e Batidas, Mike11 revelou estar a colaborar com um dos “melhores artistas que Portugal vai ver” — “um jovem de 19 anos que sinto que foi talhado para ser produzido por mim,” confessava. Um ano depois, o guitarrista e produtor imprimia mesmo o selo de executive producer em Licor De Jaca que chegava assim às plataformas de streaming.

No tempo que passou, o EP de seis faixas captou a atenção do público através do single “Ausência”, que serviu para construir uma base respeitável de fãs em Lisboa, onde poderemos finalmente escutar o projeto ao vivo no dia 4 de março, no Musicbox. Pensado para ser uma seleção dos temas que melhor servem para apresentar o artista ao público, Licor De Jaca está carregado de sentimentos e olhares próprios sobre relações (românticas e não só) e o mundo, deitados sobre uma cama rítmica de um r&b fresco e sedoso, mas que arranha.



Antes de falarmos do teu álbum, que chegou há relativamente pouco tempo, eu gostava de perceber de onde és e como é que te iniciaste na música. Sei que és do Porto…

Sou de Gaia, mais propriamente, e já tive uma pequena passagem pela música ainda muito jovem. Na adolescência a cena voltou a surgir, com os amigos, só por começar a ouvir música em grupo e a partilhar o que cada um de nós gostava. Mas facilmente aquilo que gostávamos de ouvir esgotou-se e, em vez de música, começámos a procurar beats da net para tentarmos nós criar alguma coisa. E a coisa foi evoluindo por aí, comigo também a perceber que não tinha perdido o jeito de todo. É que, ainda em miúdo, quando parei com a música, nunca perdi a ideia de voltar. Depois, com o apoio dos amigos e a aprovação do pessoal, um tipo vai ganhando mais confiança.

Quando falas que começaste muito novo, foi exatamente como? Estavas num coro, nalgum grupo?

Fui cantar à televisão. Fiz parte do Factor X na segunda edição, a primeira em que deixaram inscrever pré-adolescentes. No final de todas aquelas audições acabei por ficar entre os 12 melhores homens de Portugal. Numa epifania minha chateei muito a minha mãe para vir, por causa de uma brincadeira de escola. E ela, como em tudo o que tem feito, não me cortou as asas.

E como é que correu essa aventura?

Aquilo para mim era uma brincadeira e por muito que eu gostasse de música aquilo era televisão… É um pouco diferente e foi até traumático. Eu saí no final do bootcamp, ainda antes de começarem os diretos, mas passei a ser reconhecido na rua automaticamente sempre por aquilo. Eu era muito novo e rapidamente deixei de me identificar com o que fiz no Factor X.

Então tu acabas essa experiência desiludido, passas algum tempo sem fazer música e, mais tarde, por intermédio de amigos, voltas a cantar pela diversão. Como é que isso evolui para o ponto em que estamos hoje?

Também muito em jeito de brincadeira, mas uns anos mais à frente, já com outra genica e outras acessibilidades, começas a evoluir naturalmente. Vais procurando formas de gravar o melhor possível as tuas dicas e, mais tarde, percebemos que não tínhamos que usar só beats da net. Também podíamos fazer os nossos próprios beats e fizemos imensas tentativas por aí. E foi nesse fluxo de inexperiência que a coisa arrancou, porque quem não tem experiência tem que dar o dobro para conseguir fazer alguma coisa com nível. E eu sempre fui alguém muito exigente, de mim e dos meus. 

Inicialmente éramos um grupo de 4 amigos, que paravam muito em casa um dos outros, e decidimos avançar com isto da música, mas eu já levava isto muito a sério, porque o passado tinha deixado um peso emocional muito grande em mim. Por isso, quando voltei a tentar a minha sorte com a música, tentei encarar a coisa com seriedade e muito respeito para não sair magoado outra vez, basicamente.

E há alguma coisa dessas tuas primeiras aventuras em nome próprio que ainda possamos ouvir?

O meu primeiro som a solo ainda está no Spotify. Foi uma brincadeirinha para a minha cota e chama-se “9 AUG”. Foi o primeiro som que lancei a solo, mas anteriormente lancei umas coisas com os meus 3 amigos. Agora, a minha carreira começa mesmo quando, em meados de 2020, eu me tranco no estúdio com uma personagem, ainda antes de conhecer o Mike11, o Tiago Pinto que ainda hoje é um grande amigo. 

Apresentaram-me o Pinto numa noite no Porto e conheci-o com outro rapaz que também fazia música. Estávamos, como sempre, de caixa de som na mão, a mostrar as dicas que tínhamos escrito uns aos outros, e o Tiago Pinto, às tantas, disse-me que podíamos ir gravar a um estúdio onde ele gravava, não muito longe dali, e que como o mano dele estaria por lá devíamos conseguir gravar sem problemas. Nós fomos e gravámos a primeira demo. Aquela não foi bem a  primeira vez em que entrei num estúdio, mas foi quase, e à medida que o tempo foi passando a nossa relação foi evoluindo. Ele percebeu rapidamente que eu era uma pessoa séria, com muita vontade de fazer aquilo e com demasiadas coisas para expressar que eram impossíveis de gravar numa noite. 

Depois disso fui passando a ir ao estúdio com mais regularidade e, à medida que nos vamos conhecendo, ele diz-me: “brotha, tens uma data de sons no mesmo registo, acho que está na altura de começares a organizar isto tudo num projeto”. No dia a seguir agarro nele e fecho-o no estúdio até termos aquilo que seria o meu primeiro EP, que nunca viu a luz do dia. Quando lá cheguei já tinha tudo, o conceito do EP e um slogan, tudo feito! Já sabia o que queria gravar e quais as faixas que iam entrar… era só gravar. 

E porque é que esse EP nunca chegou a sair?

Aquilo foi tudo feito muito rapidamente, no início do mês de agosto. Para já, não saiu nada porque não tínhamos margem para cobrir a parte que diz respeito aos visuais. Era tudo muito verde ainda — paguei 100 euros pelo meu primeiro videoclipe. E é curioso que ainda o outro dia falei disto com um amigo. Estava a lembrar-me da correria que foi depois de ter gravado esse EP e houve uma altura em que a minha mãe me perguntou o que é que me faltava para lançar o projeto. Eu precisava de guita para fazer os vídeos e ela perguntou se eram mais 100 euros. Naquela altura eu precisava de fazer para 4 músicas, portanto eram 400 euros: ela percebeu e mandou-me dormir, que amanhã é outro dia [risos]. Curiosamente, uns meses depois, outra vez a conversar com a minha mãe, ela ainda pensou em dar-me o dinheiro, mas quis pôr-me à prova e disse para me fazer à pista. Eu continuei a correr e é por volta dessa altura que entra o Mike.

Esse é o próximo passo, não é, quando conheces o Mike11? Como é que se conheceram e decidiram trabalhar juntos?

Eu já tinha visto os videos do Mike na net a tocar guitarra, mas tudo aquilo que envolve o Mike11 é um bocado fora da minha realidade, percebes? Eu desde puto que ouço todo o tipo de música, mas o Mike abriu-me os olhos para perceber que, querendo ou não, a música tradicional mais portuguesa que há é o fado. É o fado e o pimba, os dois de mão dada, e tens uma praça cheia de portugueses atentos a ver o que estás a fazer.

Eu cruzei-me várias vezes com os vídeos dele sem que me criasse curiosidade suficiente para pesquisar quem seria, até porque eu via um gajo todo tatuado e cheio de marcas a tocar guitarra portuguesa, mas eu nem tinha a certeza se ele seria português… Certa madrugada eu estou por casa, o que era raro, e ele manda-me uma mensagem que dizia só “bro“. Se eu estava na dúvida se ele era português, então fiquei ainda mais à toa. Inicialmente ele convidou-me para entrar no projeto dele, mas num espaço de cinco minutos já pensou que seria fixe fazer o meu primeiro EP já com já com a sua produção e foi isso que aconteceu. 

E como é que o Mike chegou até ti? Foi tudo pelas redes sociais?

Pelo que ele diz, mostraram-lhe um som antigo que eu tinha, uma colaboração com um colega meu chamada “O Tempo Passa”, com o Carvisosa. Ele ouviu e o som tem um contraste muito intenso. O Carvisosa entra com uma vibe muito sôfrega, quase a esquecer-se da afinação, e eu entro quase um minuto depois no mesmo mood, mas a abrilhantar-lhe a dica e com uma entoação diferente. Acho que esse som causou algum choque no Mike11… E graças a deus que ele ouviu o som mais de um minuto…

Ou nem te teria ouvido a cantar.

Ele diz que ainda tentou fazer com que tirassem o som, mas alguém lhe disse para esperarem por mim, que eu ia rebentar.

Passada uma semana daquele primeiro contacto meti-me a caminho de Lisboa para me ir encontrar com ele. Precisava de saber o que era aquilo. Com a pulga atrás da orelha é que não podia ficar. “Quem era o Mike11? O que é que ele me poderia ensinar?” So pela experiência… Ainda hoje posso estar sempre a pensar em grandes voos, mas sou sempre atraído pela experiência e pelo que aquilo me pode acrescentar à vida. 

O Mike11 aparece neste teu álbum como executive producer. Isto é um título mais comum no cinema do que na música. Qual foi o papel do Mike11 neste projeto?

Neste projeto todas as músicas têm base de guitarra. E não para puxar a brasa à minha sardinha, mas acho que é quase inegável que o Mike11 é dos melhores guitarristas portugueses, para ser honesto e não lhe dar demasiada moral. Todos os sons surgiram com os dois no estúdio, as bases harmónicas são feitas por ele à guitarra e eu começo logo a cantar. Depois chegamos a um consenso sobre se gostamos ou não do que estamos a criar. Numa segunda fase entra o ZOO para dar um balanço aos temas com os drums e, mais tarde, o Areias para os retoques finais.

O tempo vai passando e vamos tendo um tema, dois temas… E para nós este sistema é quase um vício. Começamos a trabalhar e não queremos parar mais. Mas, no fundo, o título de produtor executivo é isso mesmo — estas músicas são tanto minhas como dele. 



E daqui surge um EP que vais apresentar ao vivo no sábado, no Musicbox. Como é que está a ser recebido o projeto?

Acho que está a ser muito bonito. Para primeiro projeto, este EP tem mesmo muita qualidade e não digo que é algo que nunca foi feito porque pode-me ter passado alguma coisa ao lado, mas é algo muito raro de acontecer, alguém partir da estaca zero – ou zero e meio, vá lá –  já com esta produção toda, equipa e estrutura. E isso é mesmo muito gratificante.

A nível de adesão do público estou muito contente. Acho que a minha música é para quem ouve com atenção e ouvidos de ouvir. Depois os números revelam isso, mas como ainda estamos no início a minha música não chega a tantas pessoas quantas gostaria, mas tenho a consciência de que quem ouve gosta, procura e volta a consumir aquilo que lhes estou a apresentar. Ao mesmo tempo, acredito que isto crie intriga no público e deixa em aberto o que se segue, o que acresce responsabilidade para o meu lado. Mas não tenho problemas com isso, porque se fizer o que tenho feito e com a mesma entrega, o que fazemos daqui para a frente será igualmente bom ou melhor.

Fala-me um pouco sobre as faixas deste teu álbum. O que é que querias transmitir com cada uma?

Todas as faixas falam muito sobre mim e das minhas vivências bem como da forma como observo o mundo. O “Licor” é uma perspetiva minha sobre “o amor” de uma vida. Sou eu a relatar e a desabafar sobre o que penso que diria, devia ter dito ou disse e não me ouviram… 

A segunda faixa do teu EP foi a que rebentou mais, a “Ausência”, e está a ter um grande sucesso. Porque é que foi este o single?

Esse é o single muito por causa da expectativa que se criou durante o tempo em que estava a trabalhar com o Mike11. Ao contrário do “Licor”, esta é uma introspeção também por um amor, mas diferente. Pode ser o amor por um parente, um ente querido… É o que pensas quando perdeste alguém, que agora está ausente, por qualquer razão. É um tema introspetivo e sobre coisas que vão na cabeça, enquanto o “Licor” é quase uma conversa de café. É um tema que tem uma mensagem tão íntima que eu acredito que muita gente não gosta que faça parte parte das suas vidas. É quase aquilo que tu sentes e nunca dizes a ninguém.

Depois vem o “Hasta”, que é quase a manifestação de um alter ego meu onde expresso a confiança que tenho no meu trabalho e a certeza da qualidade que tenho. O “Baile no Inferno” é sobre aqueles tempos de crise mano… crise de tudo. O refrão diz mesmo “A minha mamã diz que eu ando a bailar com o diabo” e só essa primeira frase já diz muito de mim. Acho que já deu para perceber que a minha mãe é uma pessoa muito importante nesta minha caminhada e é nesses momentos de crise, que eu nem partilho com ninguém e que guardo apenas para mim, que ela me diz, em tom de concelho, que ando a bailar com o diabo e posso não estar a fazer as coisas certas. Depois eu respondo-lhe que ando a bailar com o diabo mas que é esta agora a minha vida e que foi isto que eu escolhi. Por fim, o “So Good” é um hino ao gueto em festa e um reminder dos dias quentes. Já o “High” é para me despedir e deixar em aberto o que está para vir. É uma reflexão minha sobre a minha vida.

Isto são só seis faixas mas acredito que tu e o Mike tenham muito mais temas arrumados. Têm estado a trabalhar em coisas novas?

Claro que nós não fizemos só seis faixas em dois anos, mas acredito que este EP é uma seleção daquelas que faziam sentido para apresentar o Jaca. Depois temos é pequenos projetos e dicas que fomos gostando mais, com várias oportunidades de progressão. Ou seja, onde pode valer a pena investir mais tempo. Mas assim de repente posso dizer que ainda tenho muita coisa para vir.

E estás já a planear algum lançamento, ou este EP ainda é demasiado verde para isso? Passaram menos de 6 meses desde o lançamento do Licor de Jaca.

Eu acho que o conteúdo nunca é de mais. Se estou a começar, eu tenho é que fazer música para quem está a gostar de me ouvir, sejam 10, 10 mil ou 20 mil. Nesse aspeto estou muito despreocupado e vou fazer as coisas quando sentir que as devo fazer. E também temos aí um projeto à porta que tenho a certeza que vai ser especial, que vai ser levar o EP para palco. Mas estou mesmo preocupado é em construir bem a base deste castelo. 

E já que falaste em palco… Tens um concerto de apresentação marcado para 4 de março no Musicbox. É o primeiro que vais fazer.

Em nome próprio sim, porque quando o Mike11 apresentou o projeto dele eu marquei presença também para cantar um tema. Foi um momento muito especial e serviu ainda mais para me afirmar e ter a certeza de que é isto que eu quero fazer futuramente. Agora é o Musicbox. Podem esperar uma “zaranza” do caraças, vamos rockar bué, mesmo pesado. Montei uma banda de raiz, estivemos a trabalhar nos arranjos e agora vamos para lá à espera de ser felizes. 

E o Mike11 vai fazer parte dessa banda, ou não?

Acho que vamos ter que aguardar… Ele ainda vai ter que me pedir com jeitinho para entrar. 

E datas ao vivo? Tens o Musicbox esta semana mas imagino que estejas a trabalhar em mais alguma coisa.

Sim, o convite do Musibox nós quisemos agarrar logo para levar a coisa para Lisboa, que aderiu mais à minha dica do que o norte, em termos de reproduções e consumo do meu projeto. Em breve havemos de trazer a dica para o Porto, mas ainda havemos de anunciar isso. Depois é fazer de Chaves ao Algarve e vice-versa. É virar o país do avesso.


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