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Publicado a: 19/02/2018

Já vimos os três primeiros episódios de Club Atlas: é um caldeirão cultural para mergulhar de cabeça

Publicado a: 19/02/2018

[TEXTO] Alexandre Ribeiro [FOTO] Direitos Reservados

O fado deixou de ser a nossa principal exportação musical — como Chris Rock disse no seu novo espectáculo, Tamborine, “não sentimos saudade de ninguém em 2017” –, e a batida de Lisboa passou a estar no centro das atenções dos promotores e jornalistas internacionais. O paradigma também mudou dentro da própria cidade: em 2018, temos as Noites Príncipe no Musicbox ou Na Surra da Enchufada no B.Leza como paragens obrigatórias na preenchida agenda lisboeta.

Queremos acreditar que esta nova abertura a outros mundos também se deveu, parcialmente, aos Buraka Som Sistema e à sua utilização despudorada dos diferentes elementos musicais que”importavam” dos bairros lisboetas, inicialmente, e nas sonoridades características dos locais mais exóticos que foram encontrando, numa fase posterior. Tendo em conta a importância do grupo para a destruição de vários “muros” sociais, é natural que Branko, um dos produtores portugueses mais relevantes da última década, seja o cérebro por detrás de Club Atlas, a nova série documental que estreia hoje na RTP2.

O acesso aos três primeiros episódios permitiu-nos captar uma série de pormenores importantes e, pelo caminho, deixar-nos ansiosos pelos restantes cinco. Com a ajuda imprescindível de João Pedro Moreira, realizador e membro dos Beautify Junkyards, João Barbosa começa a aventura, como não poderia deixar de ser, em Lisboa, o porto de embarque antes de viajar para o resto do mundo — onde é que já ouvimos isto…?

 


Club Atlas: “Olhar para tudo com uns olhos novos”


A mistura de protagonistas na série documental é equilibrada e a primeira paragem é o exemplo máximo disso mesmo. Por um lado, Vhils e Vítor Belanciano são escolhas óbvias — ambos são nomes activos na discussão das transformações sociais na capital. Pelo outro, Diogo Clemente (produtor de artistas como Mariza ou Carminho), Slow J (um dos mais audazes “misturadores” da nova geração), Ivo Costa (baterista que proporciona aquele que é, pelo que pudemos ver, o momento mais pedagógico) ou Tiago Pereira (realizador e documentarista) intrometem-se na discussão, não fossem também eles, à sua maneira, intervenientes

O segundo episódio leva-nos até Mindelo e Cidade da Praia, em Cabo Verde, e Cachupa Psicadélica, Mayra Andrade e Dino D’Santiago são embaixadores de uma nova vaga de músicos do arquipélago que nos deu um dos maiores nomes da lusofonia, a malograda Cesária Évora. Tal como no primeiro episódio, a bateria (e o seu baterista correspondente) volta a estar em destaque. Desta feita, Fernando “Ndu” Carlos a dar-nos mais uma aula de ritmos. E não é o único professor: a “lenda viva” Bitori pega na gaita e envergonha, sem maldade, Branko. Uma lição para mais tarde recordar.

E se a intenção era descobrir e dar a conhecer novas sonoridades, o território cabo-verdiano foi fértil nisso, mostrando-nos o “sobrinho do funaná”, o Cotxi Pó. Para um ouvido ligeiramente destreinado, Scúru Fitchádu é a ligação, mesmo que mais conotado com o punk e metal, a este sub-género fervilhante, criando uma ponte entre os dois países que, à primeira vista, não seria normal acontecer ainda em estado embrionário.

Com a sensação de que estamos sempre entre amigos, a chegada a Lima, Peru, não foi diferente: os Dengue Dengue Dengue, que integram os “quadros” da Enchufada, são os responsáveis pela introdução a uma cidade que traz uma série de momentos únicos para a equipa, desde a limpeza espiritual de Branko com uma curandeira peruana até à sua actuação na companhia dos DJs e produtores entrevistados.

Num registo bastante pessoal — encontrar o melhor sítio para comer às 5 da manhã é uma forma descontraída de ligar todos os pontos –, Club Atlas é, sem sombra de dúvida, um projecto que transparece todo o prazer e empenho que os envolvidos tiveram a criá-lo. Se os restantes episódios mantiverem a fasquia, estamos perante um caso sério da televisão portuguesa em 2018.

 


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