[TEXTO] Alexandre Ribeiro [FOTO] Direitos Reservados
Depois de uma estreia em cheio no Cinema São Jorge, incluída na programação deste ano do IndieLisboa, o Hip to da Hop viaja até aos Estados Unidos da América (Hip Hop Film Festival) e Alemanha (Golden Tree International Documentary Film Festival).
No primeiro, que decorre em Nova Iorque, de 2 a 5 de Agosto, António Freitas e Fábio Silva, competem na categoria de Melhor Documentário. No segundo, que acontece em Frankfurt, de 19 a 22 de Setembro, a dupla concorre para Melhor Longa Documental, Melhor Realizador, Melhor Edição, Melhor Fotografia e Prémio Golden Tree.
Antes de levarem o filme documental para fora de Portugal, os realizadores lançam a banda sonora, que foi composta pelos strolinflows (sleep在patterns e Lost Soul), e conversam com o Rimas e Batidas.
[A escolha de sleep在patterns e Lost Soul para produzirem a banda sonora]
“Desde o início, quando começámos a realizar o filme, decidimos que iria ter uma estética cinematográfica cuidada em todos os aspectos e pormenores – há muitos documentários que são um registo etnográfico, histórico e social, mas que perdem na sua componente fílmica. Nós sempre quisemos fazer um filme documental e não um documentário.
O António Lopes Gonçalves foi o primeiro a quem pedimos para compor uma música com guitarra portuguesa e ele realizou um trabalho excepcional. O sleep在patterns e o Lost Soul foram os músicos que mais sentido faziam para complementar o lado visual e a narrativa do Hip to da Hop. Já conhecíamos o trabalho dos dois e, além de serem musicalmente excepcionais, houve logo uma grande cumplicidade e entendimento – todas as músicas foram feitas como um fato à medida para momentos específicos e para que tudo ficasse em perfeito equilíbrio e harmonia.
Além deles os dois, os Silab n Jay Fella também foram importantíssimos para completar a banda sonora. Pedimos que a letra da música ‘My Life’ fosse uma extensão de um momento em particular do filme e que tivesse um sentimento nostálgico. E eles conseguiram-no na perfeição.”
[Os festivais internacionais]
“Começámos a perceber o potencial do Hip to da Hop para estar em festivais quando o Indie Lisboa nos convidou para estrear o filme numa das maiores salas do país – a estreia foi linda, além de ter esgotado, e as mensagens de apoio e reconhecimento foram inúmeras.
A confirmação do filme em festivais de cinema em Nova Iorque e na Alemanha foi a dissipação de qualquer dúvida – apesar de ser um retrato cultural do nosso país acreditamos que tem uma capacidade de projecção internacional enorme. A temática é importante, mas a sua estrutura está também pensada para quem não vive em Portugal. O nosso desejo continua a ser esse: fazê-lo chegar ao cinema cá e no resto do mundo.
O hip hop é uma cultura que é cada vez mais compreendida pelo público em geral e que se tem tornado cada vez mais internacional. Mas a verdade é que a cultura hip hop de certos países simplesmente não nos chega tanto como a de outros.
Lá fora acontece o mesmo. Nós temos amigos que vivem no estrangeiro e que ficaram bastante surpreendidos quando lhes dissemos que estávamos a fazer um filme sobre o hip hop em Portugal. Estranharam como se estivéssemos a fazer um filme sobre o rock’n’roll no Tibete. É algo que não imaginam. Conhecem por ser o país ideal para passar férias com boas praias e boa gastronomia.
Quando realizámos o filme, fizemos a pensar também nessa possibilidade e com o objectivo de ser visto lá fora. O facto de ter sido nomeado para dois festivais internacionais é porque existe interesse e há uma compreensão daquilo que é retratado no Hip to da Hop.”
[A concretização]
“Enquanto realizadores vamos sempre ouvir a banda sonora de uma forma diferente – acompanhámos desde início o processo criativo de todas as músicas, a transformação e cristalização de cada uma, e quando ouvimos associamos sempre a algum momento do filme. E isso é positivo: parece que já não faz sentido o Hip to da Hop sem as músicas, tornaram-se duas coisas inseparáveis.
Eles fizeram um trabalho enorme e nós não podíamos estar mais satisfeitos. Conseguiram transpor o sentimento que pretendíamos e fizeram-no com um cuidado estético que nem todos conseguiriam – fazer música para um projecto de outrem é sempre um desafio, quando envolve cinema e uma narrativa com diferentes emoções a dificuldade torna-se ainda mais acrescida.
Eles superaram as nossas expectativas e fizeram um álbum que, não temos dúvida, será bem-recebido, porque já temos esse feedback de quem viu o filme. Tem tanto de nostálgico como de divertido, de triste ou festivo. E, ainda assim, não deixa de estar bastante coeso. Foram excepcionais e este álbum demonstra a genialidade musical de todos eles.”