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Texto: ReB Team
Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 16/08/2022

Uma experiência intensa.

Já podem ver a actuação de Yussef Dayes em Joshua Tree no YouTube

Texto: ReB Team
Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 16/08/2022

A Soulection convidou Yussef Dayes e a sua banda para gravarem um concerto em Joshua Tree e o resultado está disponível desde 4 de Agosto no YouTube. Esta semana, dia 19, a editora inglesa Brownswood edita o EP de cinco faixas que resulta dessa sessão no parque americano.

Rocco Palladino (baixo), Malik Venna (saxofone), Elijah Fox (teclados e sintetizadores) e Alexander Bourt (percussão) são os músicos que acompanham o baterista que tem causado ondas nos últimos anos, principalmente quando se faz acompanhar por outras mentes de pensamento musical avançado : Black Focus (2016) com Kamaal Williams e What Kind Music (2020) com Tom Misch foram lançamentos que marcaram a agenda das vibrações mais modernas do jazz.

Em Novembro do ano passado, Rui Miguel Abreu teve a oportunidade de sentir que experiência é essa de vê-lo ao vivo no Super-Sonic Jazz Festival, em Amesterdão:

“Mas não se poderá condenar ninguém que ao final da sessão tenha ficado com a memória totalmente preenchida pela actuação absolutamente gigante de Yussef Dayes, acompanhado por um trio de absoluto luxo: Charlie Stacey nos teclados e Rocco Palladino no baixo – a equipa original que gravou Welcome to The Hills –  e ainda um discreto, mas fantástico percussionista de nome Alexander.

O concerto abriu logo com uma lição na arte da síncope, versão escola não matematicamente correcta de J Dilla, com Dayes a explanar os seus amplos recursos estilísticos, exibindo o maior som de bateria de todo o festival. O seu kit é aditivado com vários ‘periféricos’, incluindo woodblock e timbales, mais um generoso conjunto de diferentes pratos, que trabalha para um profundo efeito cromático. Mas é sobretudo entre o bombo, a tarola e os timbalões que se desenham os seus padrões, de uma precisão absolutamente incrível, com fluidez plena, sem nunca perderem de vista a ideia de groove, mas aqui reinterpretado com gritante complexidade. Na sua sombra, sempre com elegantes complementos, segue o percussionista. 

Dayes, obviamente, toca que se desunha. E percebe-se que adora o que faz porque há um amplo sorriso que não se desfaz nunca do seu rosto e que ilustra bem o deleite que sente por tocar com os seus companheiros: foram várias as vezes em que desarmou para manifestar estupefacção perante o que Rocco Palladino ou Charlie Stacey traziam para a mesa. Mas, ao mesmo tempo, foi sempre também um assertivo líder, dando indicações com a cabeça para os músicos o seguirem ou se retraírem em determinados momentos.

Com carregado sotaque jamaicano – ‘ya, man’, ouviu-se de cada vez que assomou ao microfone para explicar o quanto gostava de estar ali, como estava a adorar o público ou dando a todos autorização para se levantarem… –, Yussef Dayes demonstrou ser um host irrepreensível, mas um músico que não cede um milímetro expondo no material, sobretudo de Welcome to The Hills, mas também com direito a passagem pelo registo que o lançou quando dividia atenções com Kamaal Williams, uma visão do jazz que parte, sobretudo, do seu atento estudo do hip hop e do continuum caribenho. 

Há lugar para duelos lúdicos com Charlie Stacey, com Dayes a apontar ao teclista o que tocar expondo as suas ideias na bateria, algo que, aliás, experimentará mais tarde com o público, mas sobretudo há amplo espaço para ampliar peças que todos conhecem de cor, como ‘For My Ladies’, tema que o baterista revelou ter sido escrito por Stacey ali mesmo, no palco do Paradiso, numa das suas duas passagens anteriores pelo cartaz do Super-Sonic. ‘Turn on the red lights. Amesterdam is the city of the red lights, right?’, questionou o líder antes de uma soberba passagem pelo tema que também possibilitou a Rocco Palladino brilhar ainda mais intensamente. Como Dayes ou Stacey, também ele é um músico de elite, dotado de uma expressividade singular, com um melodismo poético e um som altamente personalizado. Filho de peixe, sabe mesmo tocar baixo. No tema seguinte, que soou a reinvenção de ‘Palladino Sauce’, o baixista voltou a viajar até às estrelas.

O concerto foi, enfim, tremendo, juntando-se às notáveis prestações de Sons of Kemet, cktrl e Nubya Garcia como as mais memoráveis de todo o festival. Apesar do adiantado da hora, e com o segundo ‘turno’ a aproximar-se rapidamente, com a sala a precisar de ser limpa e o palco mudado de novo para os SMANDEM se apresentarem uma vez mais, o público, no entanto, não estava disposto a deixar Yussef Dayes sair, juntou-se num afinado coro chamando por ‘YUSSEF’ a plenos pulmões, trazendo o músico de volta para mais uns 20 minutos de intensidade máxima, com tempo para tudo, até para Charlie Stacey demonstrar que tem chops de pianista clássico (‘as in Mozart and shit’, como diria Dayes) e o líder a terminar com um solo de brilhantismo tão intenso que se diria ter explodido por ali uma supernova.”


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