“XNX” assinala o regresso de J0TA aos lançamentos em nome próprio e tem Sr. Timóteo creditado na produção da faixa.
Foi dado a conhecer no Bandcamp a dia 13 de Junho e, no último fim-de-semana, foi a vez do videoclipe aterrar no YouTube, uma peça realizada pelo rapper em parceria com Carolina Panta e Filipe Baião, dupla que ficou também responsável pela componente de edição. Ao Rimas e Batidas, J0TA (anteriormente conhecido como Jota) explicou como a sua estreia neste formato fez aumentar a fasquia para este novo trabalho:
“O clipe foi muito louco de se fazer. O Sebastião Santana inspirou-me muito quando fizemos o ‘Fondue de Queijo‘. Prometi a mim mesmo que quando fizesse outro clipe seria eu a realizar e não podia baixar a fasquia. Mesmo não percebendo nada de edição e só com uma ideia geral do que queria fazer, sem sequer ter uma noção se era possível. A ideia original deu muitas voltas para chegar ao produto final. Estou grato à Carolina e ao Filipe, que em vez de descartarem as minhas ideias descabidas só as complementaram e tornaram ainda melhores. Os cenários foram pensados e montados ao pormenor, quer na escolha dos elementos quer na disposição dos mesmos, bem como a execução das cenas e dos planos. Envolveu muitos testes e repetições até alcançar aquilo que consideramos estar perfeito. Foi um processo longo e bonito.”
Desde que se aventurou ao microfone, o rap de João Vieira já passou por inúmeras fases e fez parte de uma revolução estética que abanou as estruturas do circuito underground durante a década passada. Projectos de contornos neo-clássicos como 17X & 9J (a meias com VULTO.), King Kong vs Godzilla (ao lado de Secta) ou Azquecessem (mixtape de Fonseca que elevou a cena local da Marinha Grande) não seriam os mesmos sem os salpicos corrosivos que saltam da saliva de J0TA. E não são os últimos dois anos de menor fulgor criativo que apagam um percurso tão singular, conforme nota numa das primeiras linhas de “XNX” — “Sempre que eu gravar um som, celebra/ Faço som p’ra quem soletra/ Lancei um álbum e não sei se alguém se lembra” — que fez questão de explicar à nossa redacção:
“A dica referente ao meu álbum tem dois propósitos: primeiro, o de responder a quem pede cenas novas e diz que não lanço nada há muito tempo e, quando questiono, nem sequer conhecem o meu álbum; depois, vem o propósito de mostrar o que isto me faz sentir, que muita da música boa que sai nos dias de hoje pode até nem passar despercebida mas rapidamente se torna supérflua. Estamos numa fase da música em que os ouvintes querem o constante e não o intercalado. Uma fase em que quanto mais existe mais se quer, e nem se faz a digestão. Fala-se de um som que saiu a semana passada como se tivessem passado 10 anos.”
Com isto, J0TA está agora à procura do balanço perfeito, que lhe permita criar e editar sem pressas mas com uma regularidade mais afinada. “Tenho tentado criar uma rotina de escrita mais assídua”, disse-nos já no final de uma conversa, revelando a vontade de manter a parceria com Sr. Timóteo, ao mesmo tempo que deixa uma janela aberta para outras colaborações que possam vir a surgir — “há um conjunto de people com quem ainda quero trabalhar”, atirou.
Próximos passos? “Não tenciono explorar nenhuma sonoridade específica, mas sim tornar a minha sonoridade cada vez mais específica e única. A minha praia é grande o suficiente, não descarto explorar sonoridades fora do meu registo habitual.”