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Fotografia: B+
Publicado a: 24/06/2022

O eterno estudante que, entretanto, também se tornou professor.

J Rocc: “Dilla e Madlib? Fui atirado para o meio deles e passámos a ser os Três Mosqueteiros”

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Publicado a: 24/06/2022

Mil novecentos e noventa e sete: Deep Concentration, incrível compilação com desafiante música de Cut Chemist, Prince Paul, The X-Men ou Peanut Butter Wolf procurava estratégias para carregar o hip hop até ao futuro, alinhando-se, por um lado, com os caminhos do gira-disquismo trilhados pela série Return of the DJ, e, por outro, com o tipo de produção mais exploratória que alguém como DJ Shadow apresentava em Endtroducing. Em letras mais pequenas, no tema “They Don’t Fall Down”, eram dados créditos a Babu e J Rocc, membros dos Beat Junkies e responsáveis pelos cortes nessa faixa assinada pelo patrão da Stones Throw. Começa aí — discograficamente falando — a mais visível parte da carreira de J Rocc, DJ e produtor que nos últimos 25 anos, de forma discreta, foi vendo o seu percurso cruzar-se com o de gente como Peanut Butter Wolf, Madlib, J Dilla, Cut Chemist, DJ Nu Mark, DJ Shadow e demais elite do lado mais criativo do universo do DJing e da produção de hip hop.

Imerso na cena de Los Angeles, Rocc estava lá quando Shadow produziu a homenagem aos grandes bateristas como Earl Plamer e James Gadson que rendeu o filme e o concerto de homenagem Keepintime, lançou muitas mixtapes que evidenciavam o seu lado de digger e, finalmente, em 2011, apresentou-se também como produtor com Some Cold Rock Stuff, o seu álbum formal de estreia. Mais de uma década depois, esse trabalho tem finalmente sucessor à altura: A Wonderful Letter é uma sentida declaração de amor à cidade de Los Angeles, à sua vibração particular, à sua ampla paisagem musical.

Em conversa mantida via Zoom, J Rocc revela-se um generoso interlocutor, um apaixonado pela cultura disposto a partilhar memórias de uma humilde perspectiva de quem se sente afortunado por ter partilhado espaço com alguns dos maiores de sempre.



Obrigado por teres tido tempo para esta chamada.

Sem problema. Eu é que agradeço por convidares. 

Começo por te perguntar sobre a razão — nesta era supersónica em que tudo é tão urgente — para teres levado 11 anos a editar o sucessor de Some Cold Rock Stuf. Deves ter carradas de material por lançar.

Tenho tentado aperfeiçoar o meu estilo e encontrar a minha própria voz. E foram anos atribulados… Não sei. Demorou-me algum tempo a fazer outro disco. Fui apanhado na cena do DJing, a fazer edits e cenas assim. Não andei propriamente a pensar num outro álbum. Sei lá. Foi uma daquelas coisas que me veio à cabeça um dia. “Man, eu preciso de fazer outro álbum!” O [Peanut Butter] Wolf até foi das pessoas que me disse que eu precisava de fazer outro álbum. Comecei-o há cerca de 3/4 anos. Algumas dessas faixas eram só beats. Apercebi-me de que precisava de rappers em algumas delas. Enviei-as para algumas pessoas e tive de esperar que elas fizessem a parte delas. Foi um processo… Demorei mais, também, porque porque andava metido noutras coisas. O meu período de DJ quase que enterrou tudo o resto. Mal me conseguia focar em fazer beats. Para mim, chegar a casa depois de uma digressão e pensar, “‘bora fazer uns beats“… Não vou conseguir fazer bons beats [risos]. É preciso tempo. E passadas duas ou três semanas já tinha de sair novamente para outra digressão por mais um tempo. Eu tinha muita coisa por terminar e precisei de assentar. Isto foi ainda antes da pandemia ter começado. Eu sentei-me e comecei a trabalhar.

Estavas a mencionar as pessoas a quem enviaste as faixas — LMNO, Koreatown Oddity, MED… guia-me por essa parte. O que é que te faz pegar no telefone e ligar a uma determinada pessoa?

Muitas delas são pessoas com quem mantenho ligações. Entre o Some Cold Rock Stuf e este novo, trabalhei num disco com o MED chamado Axel F.. Eu e ele temos uma relação de amizade e ele é sempre um dos MCs a quem eu telefono sempre que preciso de algo. A mesma coisa com o LMNO, que é um amigo chegado. O Key Kool? Era dos Visionaries e eu produzi umas quantas faixas para eles. Foi do tipo, “Hey, man, está na hora de pagares de volta”. [Risos] São trocas. Nós fazemos muitas permutas. “Eu faço scratch nos teus temas, mas se um dia precisar de vozes vou bater à tua porta”. Ninguém paga a ninguém. A gente entende-se no fim. O Koreatown Oddity? Tinha feito cenas para o último disco dele. Uma outra troca que fiz com ele. Com o Steve Arrington, tinha feito um tema para o álbum dele que gostava de o ter no meu álbum. Na verdade, eu fiz aquilo para o meu álbum. Mas o Wolf, “não, man. Vamos usá-lo no álbum do Steve”. “Que merda” [risos]. Os Slave são um grupo com o qual eu cresci. O Steve Arrington é um dos meus favoritos de sempre. Tinha mesmo de o usar no meu álbum também.

Remisturaste-o?

Ya. Refiz a bateria e dei-lhe um final diferente. Há o The Egyptian Lover, que é meu mano desde que me lembro. É dos meus manos mais próximos. Terias de lhe perguntar a ele [porque o convidei].

É um grande herói meu.

E é um grande herói meu também! Mas é do tipo, ele é um gajo com quem eu saio. Foi eu dizer-lhe, “estou a trabalhar num álbum e adorava que fizesses um tema para mim”. Ele vira-se, “claro que sim, baby!” Eu já tinha feito scratch para o álbum dele, o 1985. Veio praticamente tudo dessas permutas. “Eu fiz algo por ti, agora deixa-me ver se tu me consegues safar também”.



O que me descreves é muito parecido com as dinâmicas dentro de uma família. “Hoje vou eu a tua casa e levo-te uma coisa. Amanhã vens tu à minha e trazes tu uma coisa.”

E é isso mesmo. Praticamente toda a gente que entra neste disco são pessoas que considero família. Não há ninguém no álbum que eu te possa dizer que não consigo entrar facilmente em contacto para conversar. Até mesmo o Budgie, que é do Reino Unido, mas está agora a viver em L.A.. O gajo já fez cenas para o Kanye, tem projectos com o Alchemist… O gajo curte utilizar a talkbox e o vocoder. Perguntei-lhe se poderia fazer isso no meu álbum. São todos irmãos. Não foi difícil de levar estas pessoas a envolverem-se no projecto. Foi só enviar o beat e eles encontrarem algum tempo para o terminar.

Que métodos de produção utilizas actualmente? Percebo que o sampling ainda desempenha um papel fundamental no teu processo criativo, mas como é que a forma como o abordas evoluiu? Que ferramentas estás a usar de momento?

Para produzir, estou a usar o Ableton Live. Também uso o Serato, para mexer no pitch e fazer scratch, claro. Uso a MPC Live… Uso tudo isso em conjunto. Posso fazer a parte da bateria na MPC e a parte do sample no Ableton. E vice-versa. Cada uma delas tem o seu processo. O beat que eu vou fazer no Ableton não vai ficar igual se o fizer na MPC. Gosto de usar os dois mundos. Na MPC sinto-me mais puxado para chopping, enquanto que no Ableton trabalho mais por manipulação de loops. Neste disco, arranjei forma de adicionar alguns teclados e linhas de baixo. Há pequenas coisas que fiz de forma diferente, em comparação com projectos anteriores. Nesses discos eu não toco grande coisa ao nível de teclados. É praticamente só bateria e samples. Este não tem breaks tão doidos. É uma cena mais descontraída. Abordei-o dessa forma. Foi diferente.

E dentro do sampling, sentes-te a percorrer novas avenidas?

Eu samplo de tudo, como sempre. Acho que o tema que abre o álbum tem um sample de música turca. Também samplo soul antiga, house antiga. Fui buscar aqueles sons de rave antigos. Eu vou a qualquer cena. Aprendi com os melhores. Madlib, J Dilla, Alchemist… Todos esses manos, vi-os a crescer e vi a forma como eles fazem as merdas. Fui tirando as minhas notas e ia para casa reflectir nelas. É tudo inspiração boa que eu tenho a sorte de ter à minha volta. Ajuda-me, definitivamente, estar rodeado dessa malta. Não é uma questão de byte — eu não quero soar igual a eles. Quero é aprender com eles. Até mesmo o Kxwledge, eu ouço-o e vejo como é que é o processo dele. “Porra! Tu consegues fazer isso assim?” Volto a casa e vou eu tentar fazer como ele fez. Nunca será exactamente da mesma maneira que ele o fez. Será à minha maneira e eu vou dar-lhe uma camada extra de loucura.

Já tiveste a oportunidade de andar a viajar pelo mundo — e eu sei do teu fascínio pelo Japão — mas guardas sempre Los Angeles num patamar muito especial. Fala-me sobre esse teu amor pela cidade.

L.A. é uma cidade lindíssima no que toca à cena musical. Tive acesso a tanta coisa quando cresci. Havia uma estação de rádio, a KDAY, que foi das primeiras a dedicar-se ao hip hop. Mais do que isso, tinham excelentes pessoas a misturar as músicas. Chamavam-lhe as Traffic Jams. Às 17h estavas a ouvir os melhores DJs a cortar e a misturar. Uma outra estação, a KACE, não era tão “contemporary adult” mas mais “scratch happy”. Não passavam as malhas pesadas dos Run DMC, mas passavam cenas mais dançáveis. E as misturas também eram boas. Foi isso que me fez querer ser DJ. Havia também toda a cena do gangbanging… Quando tu ouves N.W.A., aquilo soa mesmo a L.A. nos anos 80. Era de loucos e era muito perigoso. Podia ser muito perigoso se fosses parar a uma determinada área, se saísses à rua a vestir a cor errada ou se andasses com o boné virado para o lado. Nos 80s nem podias andar de boné dentro do carro…

Driving while black, não é?

É o que isso era, basicamente. Driving while black. Experienciei tudo isso. Vivi em Orange County mas tive a sorte de, a determinada altura, ter conseguido ir mesmo para Los Angeles. Mas mesmo estando em O.C., não estava muito longe de L.A.. Tenho um amigo cuja irmã foi namorada do Dr. Dre há muitos anos. Ele chegou a andar de carro com o Eazy E e era um dos gajos que fazia as tais mixes para a rádio. L.A. tem tanto a acontecer e é um lugar muito bom. as pessoas vêm cá para sentir aquela vibração, sentirem-se mais criativos. Tal como o meu amigo Budgie, que veio do Reino Unido.



É um sítio onde se inova e onde se colocam em prática novas ideias, seja no jazz ou na música electrónica. Deves sentir-te quase como se estivesses dentro de um laboratório, em que há sempre novas energias a vir ao de cima.

Sempre. Aparece sempre alguém novo por cá, que te vai inspirar a fazer qualquer coisa. E nós temos tudo o que tu quiseres: queres ir a um clube de house? Tens um que é o melhor dos melhores. Queres um clube de hip hop? Tens um que tem os melhores espectáculos do momento. Existem todas estas cenas diferentes em L.A.. Mas, no final do dia, toda a gente se conhece e toda a gente se pode reunir e trabalhar junta. Até mesmo eu, que sou reconhecido como DJ de hip hop, tenho datas para sets de disco, por vezes de house. Tens de ser aceite. E tens de provar que mereces ser aceite. Ninguém te vai dar nada só porque fazes algo. Vais ter de provar o que vales. E se fazes isso e és aceite, toda a gente te adora e te dá as chances que mereces. Tu recebes o respeito das pessoas.

Até mesmo para nós, os Beat Junkies, demorou um bocado. Vir para L.A. e ver todos aqueles DJs, como o Cut Chemist… “És demasiado novo! Sai daqui, miúdo!” [Risos] Eu não era ninguém naquela altura. Era um puto negro ali no meio com os olhos esbugalhados a ver aquilo. “Meu Deus! Estes gajos matam a cena!” Isso fez-me praticar ainda mais. “Vou fazer com que estes gajos me respeitem e que, a certo ponto, queiram até tocar comigo”. Isso é fixe. É a vibração de L.A. que eu gosto. Tenho todo o apreço por Los Angeles.

Estava a tentar lembrar-me de quando foi a primeira vez que me cruzei com o teu nome. Creio ter sido no final dos anos 90, através da compilação Deep Concentration. Foi aquele momento na história em que o turntablism era uma espécie de paralelo do jazz dos anos 60 — uma cena super entusiasmante que estava a acontecer no mundo da música. Muitas ideias estavam a florescer nessa altura e tu fizeste parte disso.

É a tal cena de que te falei. Tu conheces alguém e, às tantas, tornam-se manos. Isso aconteceu devido à minha ligação com o Babu. O Wolf pediu-lhe que ele fizesse alguns scratches para ele, e o Babu, “eu não quero fazê-los sozinho. Vou levar alguém comigo” Para mim era na boa. Fui com ele e acabei por conhecer o Wolf. Olhas para mim agora e vês que ainda mantenho a amizade com o Wolf e que ainda paro com a crew da Stones Throw. Tudo a partir dessa compilação, Deep Concentration. Tal como te dizia, basta seres aceite. Se fores um gajo bacano e fores aceite, as pessoas vão ter contigo.

Tenho aqui uma cópia do Dilla Time e o teu nome está por todo o lado. É um grande livro. Adoro uma história em particular, em que o Madlib e o Dilla vão à Power 106 e tu tens de fazer aquela cena nas turntables, de tocar os samples originais que originaram aqueles beats. Esse foi o ponto de partida para a bonita relação que estabeleceste com ele, não foi?

Foi isso. É a tal cena. Assim que tu provas que és bacano e estás apto para fazeres as tuas merdas, és aceite. Desde que não sejas um bicho do mato… Nessa cena com o Dilla, eu pensei, “tenho mesmo de me pôr à prova! Vou tocar os samples originais dos beats de J Dilla, man! Temos de o receber bem no programa”. Aquela noite foi de doidos. Isso até está no YouTube, a entrevista. Ninguém conseguia prestar atenção ao apresentador. O Dilla estava tão ocupado a ouvir o que eu punha a tocar. “Como é que tu sabes de onde é que isto veio?! Mas que cena?! Vais meter-me em sarilhos!” A partir desse momento, eu sabia que ele ia ser meu mano. Trocámos números. Entretanto regresso ao pé do Wolf, e ele, “tu devias ir para a estrada com estes gajos. Eles precisam de um DJ”. Nessa altura já me dava bem com o Madlib, e ele também veio com essa ideia de eu ser DJ deles. Foi o início de toda a cena. Fui atirado para o meio daqueles dois gajos. Durante uns dois anos fomos os Três Mosqueteiros. Íamos comprar discos, íamos só curtir por aí, fumar e ouvir música. Passávamos os beats uns dos outros. Todas essas cenas. Tive a coragem de tocar alguns dos meus beats ao Dilla naquela altura. “Eu sei que não vão ser como os teus, irmão. Mas ouve aí o meu beat“. [Risos] Foi o início da cena toda. Mesmo aí.

Estas páginas não dariam um belo filme?

‘Tá a ser feito, man! Aí algures no mundo, tenho a certeza de que alguém o vai fazer. Eu não sei quem [risos]. Estou só a dizer-te: alguém pode ter pegado nesse mesmo livro e pensado exactamente a mesma coisa. Imagina que são duas ou três pessoas a tentar fazer algo daí. Vai ser uma competição para ver quem o consegue fazer primeiro.

Que actor podia representar o Dilla?

Bolas. Não sei. Olha, o irmão dele. Tinham de ir buscar o irmão dele. Davam-lhe umas lições de representação durante umas semanas.



Boa ideia. O Illa J podia fazê-lo. Tal como o filho do Ice Cube o representou no Straight Outta Compton.

É isso. Até porque ele parece-se exactamente com ele, soa tal e qual ele. Quando o conheci pela primeira vez, foi meio assustador. Tive com ele algumas vezes ainda com o Dilla em vida. Depois dele nos deixar, fiquei próximo da família, da Ma Dukes, do Illa J e toda a gente. Naqueles primeiros tempos falava com o Illa J ao telefone. Que cena… Era como estar a falar ao telefone com o Dilla. A voz é a mesma, o riso é igual. Esse gajo é uma cópia perfeita do irmão.

Espero que lhe paguem bem.

É bom que lhe paguem bem!

Indo agora aos Beat Junkies: vocês são uma verdadeira instituição. Vocês têm cursos e tantas outras actividades em que se envolvem. Acho isso espantoso, o dar de volta à comunidade.

O Babu e o Mr. Choc tomam conta disso. Nós temos uma escola, a Beat Junkies Institute of Sound. Está aberta seis dias por semana. Apenas fecha ao domingo. Há duas turmas por dia, por norma. Faz parte dessa ideia do dar de volta. Nem todos queremos ser DJs de clube para o resto da vida. Nem todos querem ter essa preocupação de andar por aí a ver o que temas novos é que andam a surgir. A escola é uma boa forma de darmos de volta, de ensinarmos o que sabemos e de não termos a pressão financeira de estar dependente dos gigs. Isto é algo que podemos simplesmente fazer, aqui. A comunidade vem ter connosco, com vontade de aprender. Isso mantém-nos ocupados, ainda para mais agora, durante estes tempos doidos que estamos a atravessar.

Criar comunidades é das cenas mais importantes para se fazer agora, não é?

É. E é óptimo ver isso na escola. São entre 8 a 12 pessoas que não se conhecem de lado nenhum. Algumas delas nem sabem nada sobre DJing. No final do curso são todos grandes amigos, trocam os números, ligam uns aos outros, praticam juntos. E são tudo pessoas tímidas. Nós, DJs, somos tímidos. Não somos gajos que queremos andar sempre aí à frente da vista das pessoas. Muitos dos DJs não gostam de ser o centro das atenções. Não queremos estar no palco, a mover os braços. Existe essa barreira. Nós só queremos ir tocar música. Por isso, isto são pessoas que não estão habituadas a ter grandes amigos. Estão dentro de uma concha. Quando lá chegam, partem essa concha. Havia uma aluna na escola que era muito tremida no início. Ficou melhor e começou a ir em digressão com uma artista chamada Joyce Wrice. Ela já faz digressões e começou na nossa escola. É bom conseguirmos ver a progressão de todos. E gostamos mesmo de dar essa oportunidade às pessoas. O Mr. Choc chegou a ensinar na Scratch Academy, do Jam Master Jay. Dissemos-lhe que íamos abrir uma escola dos Beat Junkies e ele disse que ajudava. Desenhou o plano curricular. O Babu adora dar aulas. Ele apareceu, “eu já nem quero ser mais DJ. Só quero ensinar. Adoro ensinar e estou totalmente afim disto”. Isso foi fixe. E é fixe ver esta nova geração de miúdos. Nós não tivemos a oportunidade de aprender com alguém. Nós aprendíamos ao ver vídeos, ao ouvir o disco 50 vezes só para perceber como faziam o scratch.

Nas principais instituições académicas americanas, tu olhas para o plano curricular deles e encontras o jazz em várias delas. Achas que algum dia vocês venham a receber uma chamada — sei lá, de Harvard ou de Princeton — a pedir-vos para ensinaram àqueles alunos a vossa cultura?

Eu espero que nos liguem. Porque eu ía mesmo querer ensinar em instituições dessas dimensões. Há quem já o faça. O autor desse livro, o Dilla Time, chama-se Dan Charnas e ele ensina na universidade. Acho que o Oliver Wang também. Há por aí algumas pessoas que já entraram nesses espaços mais privilegiados. Olha, o King Britt está em San Diego a ensinar música negra electrónica. As coisas estão a caminhar mais nesse sentido.



Eu estou a par desses casos. Eu referia-me mais à cena do turntablism, especificamente. Pensei na ideia de vocês poderem ensinar a tocar a turntable num mesmo espaço onde se aprende, por exemplo, a tocar trompete ou bateria.

Percebo a ideia. E talvez consiga ver isso a acontecer. Mas, neste momento, o que eles querem mesmo é poder ensinar a história do hip hop. O DJing seria mais um “curso por diversão”. Um daqueles pelos quais não recebes créditos nenhuns [risos].

Como é que vão as coisas na Stones Throw? Vendo de fora, dá-me sempre aquela ideia de que vocês também são todos uma grande família.

E é o que é. É uma família. Estou com o Wolf desde aquela Deep Concentration. E eu nem planeava fazer discos. Acabei por fazê-los. O Wolf tem a Stones Throw. Ele dá-me todos os test pressings. Tenho cenas de Quasimoto antes de saírem, ou dos Lootpack. Sempre foi nessa base. Quando começas a dar-te com essas pessoas, conheces o Mndsgn, o Knxwledge, o Dam Funk ou o Mayer Hawthorne. Mesmo que saiam da editora, continuam família. São manos. Toda a gente tem de fazer a sua cena e não podes ficar chateado só porque alguém foi embora da Stones Throw. Até aqueles que saem para criar as suas próprias editoras, como o Flying Lotus, eles aprenderam com a Stones Throw. Stones Throw e Brainfeeder são família. E são duas comunidades nas quais podes aprender imenso. Tu conheces aqueles artistas e tornas-te parte da família.

No ano passado fizeste uma mixtape com a crew da Jazz Is Dead. Essa também é uma editora muito interessante, não é?

Mais irmãos. Mais família. É Los Angeles, man. Não é a cena do hip hop, nem a cena do house. É a cena do jazz. Conheço o Adrian e o Andrew Há imenso tempo. Depois de um certo período, tu começas a querer trabalhar com as pessoas. “J Rocc, eu adoro as tuas misturas. Ficaria muito honrado por fazeres um mix de todos os nossos lançamentos”. São cenas desse género. “Claro que sim! São manos. Passem-me a música.”

Eu tenho dois programas na rádio nacional. Um é de hip hop, o outro é de jazz. Portanto, estes são dois mundos interligados e essa é uma editora que é muito importante para mim.

Os gajos dão-lhe bem. Os espectáculos deles são extraordinários. Consegues agendar os Cortex? Os Azymuth? O Dom Salvador? O Ronnie Foster? Tens todos estes espectáculos lendários a acontecer e eles estão, certamente, a criar uma vibe em L.A..

Vais partir para a estrada com o A Wonderful Letter?

Sim. Estou a juntar as coisas ainda. Mas vou, sem dúvida, fazer uma digressão longa à volta do LP. Espero que dure até ao final do ano. Tenho um outro projecto planeado para sair no final deste ano, novamente pela Stones Throw. Isso será mais tarde. Mas essas são as duas coisas que me vão manter ocupado. Eu penso nos discos como cartões de visita, como diria o Miles Davis. É claro que ficaria feliz se o visse atingir o estatuto de ouro ou platina e vendesse muito. Mas é mais um cartão de visita. As pessoas percebem, “wow, o J Rocc ainda faz cenas. Deixa-me ouvir o último álbum. Ele também actua? Vamos vê-lo!” Sou eu numa de, “olá, ainda continuo aqui.”


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