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Fotografia: Bruno Ferreira
Publicado a: 16/12/2022

Uma estrela que brilha cada vez mais.

Ivandro: “Quero ter mais de um milhão de ouvintes mensais no Spotify”

Fotografia: Bruno Ferreira
Publicado a: 16/12/2022

Desde cedo decidido a vencer, Ivandro apontou para o céu e acertou nos astros com sucesso atrás de sucesso e milhares de ouvintes e fãs por esse país fora. Depois de provar que tudo em que toca se transforma em ouro, causando euforia geral quando, por exemplo, apresenta o seu nome a seguir a um “feat”, foi-lhe atribuído o troféu de artista nacional mais ouvido em Portugal, em 2022, no Spotify, metendo o corpo e a alma em três das músicas mais ouvidas do ano nesse serviço de streaming: “Moça”, “Lua” e “Como Tu”.

Há uns tempos com uma mentalidade de “Mais Velho” e com o foco que sempre o guiou, o cantor não abranda neste momento de consolidação no topo das tabelas, sempre munido da sua voz imponente e letras poéticas que põem tanta gente a suspirar enquanto admiram constelações e pensam em tudo o que lhes é de mais íntimo.

O Rimas e Batidas esteve à conversa com o autor de Lua Cheia (2019) para entender os detalhes da viagem de foguetão deste astro e, pelo caminho, foram desvendadas histórias inéditas da criação dos seus sons, o percurso pelo estrelato e a rota daqui para a frente.



Foste o artista português mais ouvido no Spotify em Portugal este ano. Como é que recebeste estas notícias? Estavas à espera?

Desconfiava. Não estava à espera, mas desconfiava porque estava com números bué bons e recebi [essa notícia] com a maior alegria, festejei com os meus amigos e com a minha família.

Sentes que tens um bom grupo de apoio à tua volta?

Sem dúvida. Sinto que o meu círculo hoje é o círculo perfeito para eu conseguir progredir. 

Cada vez se ouve mais música portuguesa e existe uma preferência acentuada por hip hop tuga. Sentes que tens um trunfo na manga por conseguires não só ter essa vertente de rap, mas também uma vertente mais melódica?

Sinto que talvez. Não é só pela parte melódica, eu próprio consigo adaptar-me a qualquer estilo, acho que tenho só de trabalhar bem e sai daí alguma coisa boa, por isso acho que tenho esse trunfo do meu lado.

Ainda não vimos tudo o que há para ver de Ivandro, ainda há muito por explorar…

Sem dúvida! Podem esperar sempre surpresas a cada som que sair.

Atingiste este grande feito ainda sem um álbum. Em 2020, numa entrevista que deste ao Rimas e Batidas, revelaste que havia planos para lançar um álbum com a Mentalidade Free, mas que não o querias lançar naquela altura, com a pandemia. Achas que agora pode ser a altura certa?

Sinto que agora estamos perto da altura certa, mas ainda preciso de acabar o plano que comecei. Ainda faltam sair músicas e depois disso vem um projecto. Nenhuma destas músicas vai fazer parte do projecto, este é outro projeto, o Trovador, e ainda faltam duas músicas; e o Festival da Canção: também vou dar atenção a essa música.

O que nos podes dizer sobre a tua participação no Festival da Canção?

Posso dizer que adorei o convite, vou lá tentar mostrar o meu melhor e espero que as pessoas gostem da música. Já está feita, acho que está muito boa, está diferente e espero que as pessoas gostem.

O registo é parecido com o que temos ouvido de ti?

Diria que talvez a sonoridade encoste na “Imagina” com o FRANKIE[ONTHEGUITAR], ele também participa nesse projecto.

Sei que também produzes, podemos esperar ver mais desse teu lado?

Sim, neste momento sempre que faço uma música dificilmente não entro na parte da produção. Mas claro que gosto de chamar pessoas como o FRANKIEONTHEGUITAR, D’Ay, o Syd -V-, o Dminor, que têm outra cabeça para isto e ajudam-me a completar ali o puzzle e fazer a cena.



Lançaste agora a tua música mais recente, “I’m Sorry” com Mizzy Miles e Piruka. Como é que surgiu esta colaboração, de quem foi a ideia?

A ideia desta colaboração foi do Mizzy Miles, começou com ele a mostrar-me o instrumental. Mandou-me o instrumental e disse-me que me via a cantar lá, então combinámos um jantar, estivemos a falar um bocadinho, ele explicou-me o projecto dele, qual é que era a ideia e depois disso fomos para estúdio. Nesse dia eu fiz o refrão, levei o refrão para casa — em casa também tenho um espaçozinho para poder gravar — e gravei logo o meu verso no dia a seguir. Mandei-lhe, ele curtiu bué e aí ele disse-me: “Olha, eu ‘tou a achar que o Piruka encaixava aqui bem”; mandou ao Piruka e ele depois veio para Lisboa e fizemos acontecer.

Lembras-te como foi gravar a tua primeira música?

Lembro-me… já foi há imenso tempo, já lá vão talvez uns 10,11 anos. Acho que a primeira foi uma que se chama “Estive Sempre Lá”… não sei se ainda está na net, porque eu pus em privado alguns vídeos [risos].

Porque é que os puseste em privado? [Risos]

Porque eu acho que entrei na música um bocadinho – um bocadinho não, muito — na base da experimentação e levei algum tempo até perceber o que é que me representava; e por isso pus em privado algumas músicas que eu sinto que já não me representam [risos]. 

Quando é que te apercebeste que estavas a ter sucesso e a começar a ficar grande?

Eu diria que foi assim que lancei o tema com o Bispo, o “Essa Saia”. A partir daí percebi mesmo que era a sério e quis mesmo arriscar.

De todas as tuas músicas, tens alguma pela qual sentes um maior carinho?

Um carinho maior não sei, mas talvez assim diferente diria a minha música “Mais Velho”. Era para ser a primeira música do álbum e foi, digamos, aquele início. Hoje em dia o álbum está todo diferente e eu adoro, mas gostei muito da forma como a música surgiu: ouvi o instrumental e quase que foi só cantar a música, não senti que tive que escrever a música, tinha as palavras cá dentro e elas queriam sair, por isso é muito especial para mim. Foi um dos momentos mais intensos que experienciei, quando estive a escrever o som. É um som que fala sobre a família, é um “amo-te” ao meu pai, à minha mãe, ao meu irmão mais velho e ao meu irmão mais novo. Faz-nos pensar: “Quando é que foi a última vez que disseste ‘Amo-te’ aos teus pais?”. Se pensares bem nisso, não é uma cena que dizemos todos os dias e a música está ali para quando me quiserem ouvir dizer.

E fala sobre crescer também. Consideras que tens crescido muito nos últimos tempos?

Ya, imenso. Estou já com 25, parece que a vida deu pausa a partir do momento em que fiz os 18 e começam a vir as responsabilidades, mas sem dúvida que sinto que fiquei mais velho. Quando escrevi essa música foi mesmo o momento em que eu senti: “Não, vou tomar decisões e pensar como é que a minha vida vai ser. Vou ser eu a decidir.”

O teu EP intitula-se Lua Cheia, uma das tuas músicas mais conhecidas chama-se “Lua”. Existe algum simbolismo por detrás desta escolha?

Epá, há. Eu gosto mesmo muito de cenas do espaço, adoro tudo sobre isso, estou sempre a investigar, tento estar a par do que se passa e sonho mesmo um dia ver a lua de perto [risos]. 

Olha, não sei se sabes, mas a NASA bateu o recorde de distância mais longa atingida por uma cápsula para astronautas. Se calhar um dia podes ser tu [risos].

Sei sim senhora! [risos]. A Artemis.

As músicas portuguesas mais ouvidas do ano também te pertencem: “Lua”, “Moça”, e “Como Tu”, fazendo aqui um hattrick. Como é o teu processo criativo? Quando estás a fazer as músicas ficas logo com a sensação de que vão ser um hit?

Eu tento encontrar… é mesmo tentar encontrar… como é que eu explico isto? Por exemplo, quando fomos fazer a “Como Tu”, começámos por ouvir uma melodia que era bué boa e fizemos uma cena, mas não senti que era aquilo. Depois fizemos outra e outra e de repente começa a tocar a melodia da “Como Tu”, o Rodrigo [Correia] começou a tocar na guitarra e a Bárbara [Bandeira] começou a cantar e assim que ela encontrou o refrão eu imaginei logo aqueles versos, já estava a sentir que estava aqui dentro alguma coisa por dizer. É tentativa-erro. E às vezes de tanto tentares, chega a altura que estás no mood certo, com a perspectiva certa, com as cenas certas para dizer.



Colaboraste com o Slow J na minha música mais ouvida no Spotify em 2021, “Imagina”, e mais tarde, no mesmo ano, sai a “Moça”. Como é que de “TryAndMeltMyFaith” saiu esta música?

Eia… foi daquelas músicas que eu ouvi o beat e percebi logo o que queria cantar ali. Ouvi o álbum dele, o Slo-Fi, e parei naquele instrumental; começou logo a surgir a letra, foi fácil de escrever. E depois foi o processo de lhe dizer [ao Slow J] o que é que eu ia fazer, estarmos juntos e mostrar-lhe a cena.

A “Como Tu” com Bárbara Bandeira explodiu e tornou-se num dos hits mais ouvidos deste ano. Se pudesses juntar-te a outra mulher icónica de momento para outro som desta escala, a quem te juntarias? 

Nenny. Nós já estivemos algumas vezes em estúdio, por acaso já fizemos uma música ou outra, não sei se vai sair, mas ya. Fizemos cenas muito bonitas, ela é um monstro em estúdio e acho que por causa mesmo disso podemos fazer uma cena histórica.

Também colaboraste com IZA na faixa “Mó Paz”, creio que tenha sido a tua primeira colaboração com um nome internacional. Com que outros nomes internacionais gostarias de colaborar? 

The Weeknd, Drake, Bryson Tiller, 6LACK, J. Cole, Kendrick [Lamar]. Acredito que possa acontecer, mas acho que há um caminho a ser feito até isso fazer sentido.

E portugueses? Alguma escolha que nos possa surpreender?

Olha, gostava bué de fazer um som com o Sam The Kid… [pausa]. A cena é que há pessoal com quem eu já estou a trabalhar [risos] e não quero dar spoiler.

Mas isso significa que vamos ficar surpreendidos com as colaborações do teu álbum?

Neste momento estou ainda a decidir em termos de colaborações como é que vai funcionar. Quero que este projecto represente o que é que aconteceu, acho que foi um álbum que foi acontecendo, estão para lá muitas músicas que já fiz há algum tempo, da altura em que estava a gravar o Julinho [KSD] com o “Sentimento Safari”, por exemplo. Daí para a frente estive sempre a fazer música, então quero que o álbum seja a representação desse caminho. Acho que está ali a energia que eu tive em cada um desses momentos: se há músicas mais tristes era porque eu estava assim, músicas mais alegres era porque estava assim, e quero que o primeiro álbum seja isso. Por isso, em termos de participações, vai ser mesmo o pessoal que foi aparecendo nesse caminho.

Gravaste a “Sentimento Safari”?

Ya, gravei as vozes dele [Julinho KSD] e fiz a edição do som, do beat, para estruturar a cena e também ajudei ali numa back ou outra que era mais fixe eu fazer, também tenho lá backs! [Risos]

Muita gente pensa que fazias parte de Instinto26.

Por acaso é fixe falarmos disto porque há aí uma história bué engraçada. O meu processo foi interessante, porque o que também me fez muito acreditar foram as coisas que foram acontecendo à minha volta; não só eu ter começado a trabalhar com o Bispo da forma que comecei, porque eu era fã dele e de repente ele liga-me a dizer que queria trabalhar comigo… Eu atendi o telefone e ouço: “É o Bispo.” E eu: “Qual Bispo?” [risos], “é impossível, tu não tens o meu número.” Fiquei à toa [risos] e a primeira coisa que pensei foi: “Será que é ‘o’ Bispo mesmo ‘o’ Bispo?”, e dali começou uma cena incrível! E no meio disso tudo, ali antes de eu começar a trabalhar com o Bispo, entrei na faculdade e montei um estúdio em casa por causa disso, para conseguir fazer os projectos e aproveitar para fazer música ao mesmo tempo, como desculpa [risos].

Estudaste o quê?

Tecnologias da Música na Escola Superior de Música. E nós tínhamos um estúdio que era do pai do Tristany; partilhávamos com o Tristany mais velho e com o Tristany mais novo — nós chamamos Tristany aos dois e funciona, isso é que é incrível [risos], eles sabem com quem é que estamos a falar — e nessa altura era muita gente ali a gravar, tínhamos sempre de estar a checkar os horários uns com os outros para a cena funcionar e depois tínhamos de usar a noite e com os vizinhos não podias fazer muito barulho. Então, na minha casa fiz mesmo um sítio, no meu quarto, isolei tudo, tipo caixa para isolar o som, e começámos a trabalhar ali. Gravámos bué sons, o meu PC tem para aí 2000 projectos, estávamos ali mesmo a fazer músicas e músicas, umas 20 versões da mesma música às vezes e começámos a ver que estavam ali músicas boas. Começámos a tirar, começaram com a ideia dos Instinto26, eu estava a tratar da produção e depois aconteceu a cena do Julinho com o “Hoji en sa tá vivi” mais ou menos na altura em que eu lancei o “Porta” e a seguir a isso ele lançou o “Sentimento Safari” e a cena explodiu. Isto foi o que me fez ver a cenas. Eu vi o processo, vi que não é preciso magia, não é preciso bué cenas, é possível mesmo! Eu gravei a música e percebi logo que aquilo estava ridículo. Foi mesmo aquele processo de “bora criar e pôr isto bonito” e funcionou. E um tempo depois eu estava em casa, a dormir e começo a ouvir o som, o “Sentimento Safari”… e eu assim: “ ‘tou a sonhar, espera aí”; acordei, fui à procura de onde estava a vir o som, começo a ver se vinha do meu irmão, porque lhe tinha mandado o som, não era, até que eu chego lá fora, ao lado da minha casa, onde tens um sítio de escuteiros, e estavam lá todos a sentir bué o som! E eu: “What? Eu gravei isto aqui em casa e eles estão a ouvir ali? O que é que se passa?” [risos]; fui para a net e percebi que a cena estava ridícula, foi a primeira vez que o som em 24 horas fez 100 mil views

Mas lançaram sem saberes?

Eu estava atento na minha cena! Gravei a música dele, lançámos o som… não estava à espera que fosse tão surreal. Eu fiz a partilha, do tipo: “olhem, ele fez um som novo e tal” e depois voltei para as minhas coisas e de repente ouço o pessoal lá fora, tudo a cantar, fui para o PC e vi que o som tinha subido bué. Depois desde ali sempre a cada som a cena foi funcionando e isso fez-me mesmo perceber que eu conseguia. Se fizesse as coisas bem, conseguia. 

Resumindo, sempre fizeste parte de Instinto26 [risos].

Sim, o grupo começou por ser Xpolituz, foi assim que começámos a fazer música. Aí já usávamos o meu PC, ainda tenho para lá projectos dessa época. Mas depois várias pessoas foram saindo do grupo, por terem outras responsabilidades, e fiquei eu, o Yuran e o Tristany mais novo e continuávamos a estar todos no estúdio, mas eu disse-lhes: “Nós somos um grupo mais pequeno agora, não era o plano inicial; eu vou começar a fazer a minha cena como Ivandro, mas estou aqui na mesma”. E também cada um deles tem a sua cena a solo, daí é que surge também oportunidade de aparecer um Julinho. E essa situação de podermos estar em grupo, mas ter também o nosso nome a solo abriu portas para a cena do Julinho, por exemplo, que também se focou em ter uma cena dele naquele ambiente de “criei sons novos, olhem lá” e quando vais ouvir estão bué fortes [risos]. Puxámos muito uns pelos outros e isso foi um momento muito bom, tanto para mim, como para os outros. 



Voltando ao teu trabalho a solo, trouxeste a Dreya para a tua faixa “Carta”. Achas que está agora nas tuas mãos ajudar outros artistas a terem mais visibilidade, assim como no início da tua carreira outros artistas o podiam fazer por ti?

Sinto isso, sem dúvida. Quero fazer isso assim que sentir que tenho estrutura para tal. No caso da Dreya, é alguém que apareceu no meu caminho nesse processo criativo e de estar em estúdio. Estávamos a fazer música e ela cantou esse refrão por cima dos acordes e eu fiquei: “tch… é isto. Eu tenho uma coisa para dizer aqui” e fiz o verso, mostrei-lhe, ela curtiu e perguntei se ela podia entrar no projecto. Ela aceitou e fizemos acontecer… single de ouro [risos].

A temática nas tuas músicas é muito virada para o amor, sensualidade e relações. Porque achas que seguiste por este caminho? 

A minha música fala da minha vida, ‘tás a ver? Neste momento acho que o meu caminho e a forma como eu achei que ia tirar mais proveito da minha música fez-me começar por aí, mas tenho música para tudo, já tenho feito.

Entras numa faixa e trazes de facto aquela sensualidade muito cunhada. Demorou-te a encontrar isto? 

Sim, mas sinto que o encontrei assim que fiz a minha música “Porta”. Aí há uns cinco anos acho que percebi: “não… se tu conseguires fazer isto mais vezes diferente, é por aqui” [risos].

Ultrapassaste o sauce, agora tens néctar. O que é que queres dar de beber às pessoas? O que queres que fique das tuas músicas?

[Risos] Sentimentos. Quero que a pessoa sinta alguma coisa assim que puser os fones e der play na música, quero que ela sinta alguma coisa e que isso a faça voltar para a música.

Quando te perguntaram também em 2020 relativamente às tuas influências, apontaste para Bryson Tiller com o seu álbum de estreia TrapSoul e nomes que agora se encontram ao teu lado quando falamos dos mais ouvidos em Portugal como Gson, T-Rex e Plutónio. O que andas a ouvir agora?

Tenho parado em projectos que tenho sentido que são bué especiais. Até agora tenho ouvido o álbum do Kendrick [Lamar], do Drake, os dois dele, este com o 21 Savage também. Tenho estado a ouvir música mais estrangeira do que portuguesa, mas vou estando atento, sempre que sai vou ouvindo e costumo seguir as playlists portuguesas. Tenho de ouvir o álbum do Papi[llon], ainda não ouvi, toda a gente anda a dar feedback. Principalmente por ser um álbum, eu gosto de conseguir ter um tempinho só para poder ouvir até ao fim para tentar perceber e assimilar. Porque agora quando ouço música, não diria que o faço sempre num sentido crítico, mas é tipo isso, tento desconstruir e tentar perceber o processo que aconteceu ali.

Mas sentes que o facto de agora música ser o teu trabalho te possa tirar prazer enquanto ouvinte?

Não, porque mesmo entrando com essa perspectiva, há músicas que te tiram o chão e ficas tipo: “Boom! Ok, deixa-me ouvir outra vez agora”.

Com 17 anos levaste “Ordinary People” de John Legend aos Ídolos e depois “All of Me”, do mesmo cantor, ao “Portugal’s Got Talent”. Que música levavas agora para cantar?

[Risos] Opá, uma minha. 

Que música tua é que levavas?

A “Lua” ou “Porta”.

E de outra pessoa?

De outra pessoa? “Monarquia” [risos].

O que achas que o Joaquim Paulo dessa altura diria agora ao Ivandro?

Não sei, acho que ficava… nem sei [risos]. Acho que ia ficar admirado e se calhar nem ia ter nada para dizer, ia só ficar deslumbrado com o facto de ter acontecido mesmo.

Eu vi a audição e lembro-me de dizeres algo como “quero chegar às pessoas e quero que a minha música as toque” e agora aqui estás tu como o artista português mais ouvido no Spotify.

Imagina, é o processo, tem piada lembrar-me daquela altura [risos]. Tu às vezes acreditas numa coisa e na vida acho que aprendi que há várias maneiras de acreditar em algo. Naquela altura dizia, mas não sei se acreditava como acredito agora e como comecei a acreditar na altura em que fiz o “Porta”; aí já estava com um mindset inquebrável, já não havia nada que me fizesse duvidar que isto ia dar. 

Como é que surgiu essa “Porta” que tanto mencionas? 

Na altura trabalhava com o Valdo e tínhamos alugado um espaço ali perto de Benfica, Alcabideche. Tínhamos lá uma garagem, foi numa das sessões de estúdio, fizemos bué músicas nessa altura e houve um dia em que eu cheguei… foi bué engraçado: no dia em que fizemos o “Porta”, eu disse que ia passar no estúdio, mas eu e ele não tínhamos carro, então o Resistente é que nos foi buscar e chegámos à porta da garagem e estava a chover [risos]; estávamos todos bué stressados porque tínhamos que ir buscar as colunas a casa do Valdo, a placa de som dele, ele é que trazia o ecrã também, para usarmos para o computador, então fizemos essa missão toda com chuva até chegarmos à garagem e depois quando chegámos à garagem reparámos que nenhum de nós tinha trazido a chave [risos]. Ficámos a olhar uns para os outros tipo: “Ninguém trouxe a chave mesmo?” e ficámos naquela a pensar: “Fogo, fizemos isto tudo e nem vai dar para ir para o estúdio”. Mas ali deu-me aquela cena que te estou a querer dizer: eu acreditava que as coisas tinham de dar certo e mesmo que não fizesse sentido, eu tinha de acreditar que ia dar certo [risos], então disse mesmo: “Não, hoje vamos ao estúdio. Nem que tenhamos de voltar e ir buscar a chave” [risos]. E depois de eu dizer isto, a garagem abriu e saiu um amigo nosso que estava lá dentro [risos] com a chave. Fomos para dentro do estúdio e depois disso ainda fui com mais energia para fazer o som.

Queres deixar alguma mensagem para quem tenha o sonho de vingar enquanto artista?

Eu acho que, por exemplo, de onde eu venho, acreditar sempre que tu vais conseguir ser artista e fazer disto a tua vida é bué complicado. É bué complicado explicar às pessoas que isto faz sentido, que há uma maneira de conseguires fazer isto. Eu acredito que não precisa de ser só sorte, podes mesmo trabalhar e chegar onde tu queres chegar. Por isso, para essas pessoas, tenho a dizer que têm de trabalhar mais que toda a gente. E assim dá certo.

Quais são os planos daqui para a frente?

Tenho assim objectivos sólidos. Quero ter mais de um milhão de ouvintes mensais no Spotify, estável; quero conseguir fazer isso. De resto acho que vou só deixar acontecer, não estou assim com nada planeado, sem ser quantas músicas é que quero lançar e quando. Quero acabar de lançar o projeto Trovador e quero deixar o Festival da Canção acontecer, porque também acho que essa música está muito boa. 

Podemos apontar para 2023 o álbum?

Acredito que sim, mas ao mesmo tempo eu tenho muita música. E, neste momento, tenho muita gente que quer lançar música comigo; há músicas que eu acho que faz sentido saírem e vai depender muito também do que é que essas músicas vão trazer para a mesa. Se continuar a sair, por exemplo, um grande som com uma grande participação e outra e outra e de repente está tudo a funcionar, se calhar vou deixar respirar. Porque, imagina, eu sinto que enquanto estiver focado nesta quantidade de música, fica difícil haver espaço, chega a um ponto em que fica difícil avançar. Quero lançar um álbum para aí com 15 músicas, todas novas.

 É muito interessante ires lançar um álbum sem meteres nenhum destes singles.

Ya, porque eu tenho imensa música feita! E quero que as pessoas finalmente possam ver isso. Foi um processo de estar a diminuir o catálogo [risos] para poder no fim dizer: “Tomem uma quantidade fixe de música”. Mas quero tentar, sem dúvida, orientar todo o início do álbum pelo menos, ali para o próximo ano.


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