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Fotografia: Pedro Rodrigues
Publicado a: 16/12/2020

O cantor é um dos nomes confirmados para o Rádio SBSR.FM Em Sintonia, que acontece nos dias 17 e 18 de Dezembro na Altice Arena, em Lisboa.

Ivandro: “Começo a descobrir mais da minha voz com o passar do tempo”

Fotografia: Pedro Rodrigues
Publicado a: 16/12/2020

Existiam muitos planos para 2020, e grande parte deles saíram furados. Que o diga Ivandro, que em Janeiro aparecia feliz ao lado de Bispo numa foto que o anunciava como o primeiro artista da Mentalidade Free Music. Esse seria o primeiro passo para um planeamento que o levaria até ao seu álbum de estreia, isto num ano que se esperaria de afirmação. Em vez desse longa-duração, vem aí um outro tipo de trabalho:

“Basicamente, conforme as coisas estão, não quero lançar o álbum. Há sempre aquele risco dele sair e não me dar o que eu quero e acredito profundamente que ele está bem feito. Acho que posso deixá-lo para outra altura e ele vai fazer jus [na mesma]. Vou aproveitar para esta altura continuar aquela linha do ‘Não É Fácil’, pegar em vários temas que eu tenho ali, talvez fazer um EP e dar às pessoas.”

Depois de “Mais Velho” dar o pontapé-de-saída desta nova fase da sua carreira, o single que se seguiu (com instrumental de FRANKIEONTHEGUITAR e SuaveYouKnow) puxou-o para um registo mais tranquilo que favoreceu, e muito, as propriedades terapêuticas da sua voz.

“Eu e o Frankie já trabalhamos há um bom temp. Deve fazer uns três anos que nos encontrámos pela primeira vez em estúdio, curtimos da vibe um do outro e começámos a trocar ideias. O ‘Não É Fácil’ foi [feito] durante a quarentena, eu estava no estúdio e encontrei uma melodia, comecei a mudá-la — eu também sei produzir. Mudei a tonalidade, o tempo da cena e comecei a escrever a letra. Mandei-lhe… quando eu faço música, normalmente mando ao Frankie, Bispo ou ao D’Ay para saber o que é que eles acham. Ele curtiu bué do som, disse-me para acabar de escrever. Assim que acabei de escrever, mandei-lhe as vozes. Ele fez uma boa progressão de acordes para mim e entregámos ao Suave. Era a cena da quarentena, não podíamos estar todos juntos e tínhamos que inventar. Acho que naquela altura estávamos mesmo em lockdown, se não me engano, e o Suave acabou aquilo. Acho que está ali um triângulo bué fixe. Não precisamos de conversar muito para saber o que é que o outro está à procura. Estamos todos à procura do mesmo.”



O músico anteriormente conhecido como Joaquim Paulo chegou a passar, em fases diferentes, por concursos de talentos como os Ídolos e o Got Talent Portugal, momentos precoces de aprendizagem que o ajudaram a perceber os caminhos que teria de seguir para ganhar algum conhecimento do showbiz. No entanto, a verdadeira educação musical acontecia ao lado de um dos grupos que tomou conta do rap português no último ano, os Instinto 26 de Julinho KSD, Trista, Kibow e Yuran, com quem assinou singles como “#BOSS” e “Foreign Car“.

“A gente já trabalha há muito tempo, é uma história muito antiga. Quando comecei a partilhar a minha música com outras pessoas, foi com eles. Gravava covers com um amigo meu, tinha um canal de YouTube e, mais tarde, esse canal de YouTube ficou só para mim. Ele tocava guitarra, eu cantava. E depois o irmão mais velho do Trista disse-me, ‘olha, se quiseres gravar, tenho estúdio, vem cá’. Era em casa dele. E ali começámos a trabalhar, comecei a aprender com ele, ele também aprendia comigo e depois dali aprendi a gravar, comecei a gravar-me a mim próprio e comecei a gravar o Tristany mais novo. Aí surgiu o grupo que na altura não se chamava Instinto 26 mas Xpolituz. E eu também gravava.”

E o sucesso do grupo foi surpreendente para Ivandro? Mais ou menos…

“Foi surpresa e, ao mesmo tempo, não foi. De certa forma, nós todos estávamos lá a dizer: ‘isto vai dar certo’. Nós estávamos todos com o mindset certo com o objectivo de ver se começávamos a ver melhores resultados e se as coisas ficavam num estado em que podíamos mesmo ter a certeza que podíamos só fazer isto da nossa vida. Do nada, aconteceu [risos]. No fundo, a gente planeou as coisas e lançámos as músicas para isso acontecer.”



O cantor não surgiu na cena nacional no ano passado, mas o refrão de um tema de Bispo acabou por lhe dar um destaque que até aí nunca tinha tido. Para além de companheiro de estrada e chefe da editora que o alberga, o autor de Mais Antigo é, em primeiro lugar, um amigo que vem lá de trás:

“Ele apareceu na minha vida… isto vai parecer quase um filme [risos]. Eu já conhecia o Bispo da zona. Tenho um irmão mais velho que andava na [escola] Ferreira Castro, eu também andei e o Bispo também andou lá. Ele fazia parte do grupo de amigos do meu irmão mais velho e acho que dali sempre fomos vendo a cara um do outro assim de leve. E, de repente, ele explodiu bué, eu fiquei mega fã, a cena dele estava mega grande. Eu fui ver o meu primeiro concerto do Bispo há anos e fui para o Twitter a seguir: ‘Joaquim Paulo e Bispo vai acontecer’ [risos]. Eu escrevi aquilo mega confiante. E entretanto fui fazendo a minha música, até que chegou um dia em que ele ouviu — foi o D’ay, se não me engano, que lhe mostrou um som meu, ele ouviu e curtiu. Ficou naquela cena de conectar comigo para ver o que é que íamos fazer e ligou-me em 2017.”

Essa amizade e respeito mútuo foram facilitadores na hora de criar um dos grandes hits de 2019 da música nacional:

“A cena com o Bispo corre bem tanto em estúdio como em palco. Sabe bem estar em estúdio com ele, sabe bem estar em palco com ele, sabe bem estar aí todos os dias com ele a trabalhar, mesmo com ele a pensar nas cenas dele e eu a pensar nas minhas cenas. Eu gosto de estar lá para aprender. O ‘Essa Saia’ foi uma cena natural. Estávamos no estúdio, bebemos um bom vinho [risos], estávamos na conversa, surgiu a melodia certa e eu escrevi o refrão. Ele começou a escrever a parte dele e deu logo aquela dica do ‘baby beijava-te na boca, tu ias sentir-te amada’. Ele deu essa barra e percebemos que esse era O som. A partir daí não foi difícil.”

Seja a cantar de uma forma mais melódica ou a “rappar”, o “mais novo” tem mostrado uma evolução notável que só lhe augura um futuro muito positivo. No entanto, há uma divisão clara para si entre o cantor e o rapper:

“Começo a descobrir mais da minha voz com o passar do tempo. A minha parte cantada está a tornar-se o principal. Mas é totalmente diferente quando eu estou a rimar num beat de rap e quando eu estou a cantar. E ultimamente a cena tem estado mais virada para uma cena mais melódica. Às vezes acontece encontrar um instrumental que me vai puxar, e obviamente que mesmo quando eu estou a cantar misturo sempre um bocadinho. Tenho sempre essa influência, mas hoje em dia estou mais virado para a cena melódica. E sinto que fazia diferença se eu fizesse só hip hop. Acho que me destaco mais assim.”



Depois de questionado sobre os seus “professores” e as suas “referências” enquanto se desenvolvia musicalmente, Ivandro apontou lá para fora e mencionou um disco como fundamental para si: T R A P S O U L, álbum de estreia de Bryson Tiller lançado em 2015. Cá dentro, algum do r&b mais celebrado vem de nomes como Gson, T-Rex e até Plutonio, uma tendência que se pode interpretar como uma espécie de benesse diferente para os rappers que decidem aventurar-se nesse género musical em detrimento de cantores no sentido mais tradicional da palavra. Ivandro concorda em parte com esta visão, mas assume a coisa como um reflexo natural daquilo que se está a consumir actualmente:

“Acho que tem a ver com o panorama das coisas, que neste momento estão assim, o rap é um estilo que se ouve muito mais, é o que as pessoas estão a procurar mais e não sinto que me prejudique. Acho que a música fala por si. Há muita gente cá em Portugal que ouve r&b lá de fora. Se chegar a um ponto em que eu consiga trazer r&b português que seja parecido com o que se faz lá fora, acho que não vão ter opção e vão ouvir o português. Acho que consigo andar nesse caminho.”

Amanhã, pelas 17 horas, o jovem artista sobe ao Palco Santa Casa num concerto inserido na programação do evento Rádio SBSR.FM Em Sintonia.

“Vou trazer uma cena acústica, algo simples com guitarra, piano e voz. Diferente. E acho que quem estiver lá não vai conseguir esquecer. Vou trazer umas músicas novas que fazem parte deste projecto que não tem a ver com o álbum. Neste concerto vou já apresentar algumas dessas músicas. Há ali algumas que eu já sinto que têm de sair [risos]. Vou aproveitar para mostrar isso. Mas se calhar só [sai] em 2021.”


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