[TEXTO] Alexandre Ribeiro [FOTOS] Sara Falcão
Passava pouco da meia noite e a fila para entrar no Musicbox ia longa. A primeiro conclusão da noite era simples: a casa ia esgotar com o concerto de Holly Hood. O final do ano aproxima-se, Sangue Ruim está na calha e as novidades – como deviam ter lido na entrevista ao ReB – prometiam uma noite diferente.
O evento no Facebook marcava o início do concerto para a 00:30, mas o tempo de espera prolongou-se mais de 30 minutos, dando oportunidade para que se ouvisse, por exemplo, uma malha incrível de Freddie Gibbs, que lançou recentemente música nova, com a produção de Madlib. Uma pista que a noite celebraria o hip hop ao mais alto nível. Esta foi a terceira vez que vi Holly Hood, depois dos concertos no Lux Frágil e Festival Iminente. Os dois foram igualmente electrizantes e mostraram que a música d’O Dread Que Matou Golias tinha um efeito nocivo no público.
Adiante: Here’s Johnny, arquitecto sónico das produções da Superbad, foi o primeiro a subir a palco, logo seguido por Stones Jones e a estrela da noite, Holly Hood. “O Meu Nome” abriu o set, tal como acontece no álbum, e foi, mais uma vez, o pontapé de saída perfeito – não é demasiado “quente” para começar.
Lembro-me de falar com alguém e discutir que seria muito improvável, na óptica dele, o Regula aparecer. Não me lembro das justificações, mas aconteceu exactamente o contrário: Don Gula entrou no Musicbox a pés juntos para passar o testemunho. “Choque” e “Qualquer Boda” meteram a audiência eléctrica e tornaram (ainda mais) especial a noite. Se Holly Hood conseguiu chegar aqui, muito deve ao caminho desbravado por Regula, mas, ao contrário do que possam pensar, o “Dread” nunca deixou de ser protagonista, sendo evidente que o MC/produtor conseguiu criar o seu espaço e ter uma identidade marcada.
De Regula para No Money, “Cartas da Justiça” é uma habitué na setlist, mas ontem era dia de festa e o rapper da Superbad também estreou “Veneno”, primeiro avanço do seu novo álbum. Um beat massivo que obrigou o MC a esforçar-se o dobro para conseguir acompanhar. A autoria, muito provavelmente, terá dedo de Here’s Johnny. E, como os pormenores ganharam outra relevância nesta noite, vamos reflectir um bocado sobre o papel do produtor e do colectivo: Here’s Johnny é, sem sombra de dúvida, um dos melhores produtores de Portugal e um hitmaker -perguntem ao Regula, 9 Miller – que trouxe a sua “Limonada” para o Musicbox -, No Money e ao Holly Hood se não é verdade. Se 2016 fica marcado pelo trabalho de Holly, 2017 poderá muito bem ser abençoado com trabalhos de todos os membros da Superbad, que se coloca dessa maneira numa posição de liderança para criar uma hegemonia no rap nacional.
“Entretanto há de sair um single, em breve, de Sangue Ruim. Posso adiantar o nome da música, chama-se ‘Ignorante’“, revelou o MC da Linha da Azambuja em entrevista com o ReB. Como não poderia deixar de ser, a surpresa da noite foi a estreia dessa mesma faixa. O ADN está lá: trocadilhos perspicazes e flow tóxico numa produção trap preparada para meter-vos a abanar a cabeça. A segunda parte do álbum promete logo no primeiro avanço…
O Dread Que Matou Golias é reconhecido de fio a pavio pela audiência – a Linha da Azambuja esteva em peso no Musicbox, por exemplo – e “Fácil” ou “Cobras e Ratazanas” são os pontos-altos: bangers com versos dilacerantes que não deixam ninguém indiferente. Se a carreira de Holly Hood for longa, estas duas faixas nunca poderão faltar na setlist.
Como também é habitual, Here’s Johnny foi o último a sair do palco, mas antes disso estreou uma nova canção do seu trabalho a solo com a voz de Gson, um talento imenso que vai entrando com tudo no rap nacional. A saída do espaço aconteceu mal o produtor terminou e, enquanto nos dirigíamos para a saída, o público dedicava cânticos de apoio a Johnny, algo muito merecido para um dos obreiros do sucesso da Superbad.
A noite prolongava-se com DJ Big e DJ Kronic, mas isso já não era para nós. A Superbad veio para dominar o hip hop nacional e esta noite foi a cereja no topo do bolo. 2017 promete muito e nós estamos cá para assistir na primeira fila à vitória inequívoca.