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Publicado a: 30/11/2018

HHY & The Macumbas no Lux: a importância do palco na compreensão total de um disco

Publicado a: 30/11/2018

[TEXTO] Vasco Completo [FOTOS] Hugo Silva | Red Bull Content Pool

Tal como foi explicado no press-release, a ideia desta série de eventos organizada pela Red Bull assenta em afirmar a influência local dos artistas que pisam os palcos da famosa discoteca lisboeta. “Para muitos, locais são aqueles que deixam uma verdadeira pegada cultural na sua cidade de escolha, independentemente de onde vieram”, escreveram. Dito isto, os protagonistas da segunda edição eram os HHY & The Macumbas.

Em Setembro, o grupo portuense lançou o segundo trabalho de originais: Beheaded Totem apresentou uma abordagem semelhante ao antecessor, Throat Permission Cut, aplicando mais vezes e mais intensamente a componente electrónica através da mistura de som de Jonathan Uliel Saldanha.

Antes dos HHY & The Macumbas entrarem em palco, escutámos “Big Fish” e “Alyssa Interlude” do penúltimo álbum de Vince Staples. Lentamente, entre as batidas do rapper de Long Beach, apareceu o sample de trompete processado de “Wilderness of Glass”. Desapareceu a voz de Vince, adensou-se o som do tal sample de trompete no invejável sistema de som da sala de espectáculos do Lux. E aí, puff, magia: o colectivo completo em cima do palco tocava a primeira faixa de Beheaded Totem.

O grupo apresentou-se de maneira semelhante ao concerto que presenciámos recentemente no OUT.FEST, no Barreiro. Porém, este espaço fez jus à sua aura e encaixou melhor na dança ritualista do quinteto. Com Jonathan na mesa de mistura no fundo do palco – que se encarregou de grande parte da componente electrónica do grupo – ao lado do baterista e do trompetista, a disposição em palco ainda contou com um percussionista, que se dividiu entre a percussão acústica e electrónica com um drum pad, e, no centro, uma espécie de maestro que leu e informou os compassos com braços e ancas, encarregou-se das danças do ritual e activou samples com dois dispositivos que se encontravam em cada mão.

 



O líder da banda já tinha descrito este formato de processamento de som em tempo real ao Rimas e Batidas, mas só presenciando é que podíamos entender na plenitude a forma como o músico consegue alienar-se de um som que está a executar em tempo real, sendo que o ouve no PA de maneira distorcida, ecoada. O auto-descrito voodoo dub-cibernético percorreu um espaço sonoro mais profundo pela aglutinação da acústica com a electrónica, e Saldanha tomou todas as decisões enquanto orquestrava o grupo.

A “personalidade” e sonoridade do curto mas interessantíssimo reportório ganhou uma dimensão bastante mais física, profunda e agressiva ao vivo. O sistema do som da discoteca de Santa Apolónia ajudou? Talvez, mas o jogo imprevisível da actuação ao vivo de HHY & The Macumbas trouxe um âmbito dinâmico mais profundo e adensado, em que temos de saber dividir a atenção entre os diferentes instrumentos, ritmos e frequências que cada instrumentista executa e, ao mesmo tempo, ouvi-los como um todo. Além disso, a multiplicação dos sons processados dava a sensação física de estarmos a ver o concerto à frente de uma fanfarra inteira no palco, onde afinal se encontravam apenas cinco elementos.

É, sem dúvida, motivador pensar na relevância de um espectáculo que não apela a ecrãs, interacções com o público e o que quer que seja que se possa comummente considerar o necessário para um público geral se sentir/manter entretido. Existiu a teatralidade e o jogo com o espaço dos sons com o “mascarilha” ao centro, a variedade e conjunção rítmica e tímbrica da acústica com a electrónica, os mantras ritualísticos de chamamento ao transe, a constante luz vermelha enevoada da cave do Lux, acompanhada de esporádicos flashes. E isso chegou.

Terminando o concerto num êxtase de som, interrompem subitamente e agradecem modestamente a atenção do público, aparentemente satisfeito com o que viu, pronto ainda para ficar o resto da noite com a Extended Records, Ohxalá, Pedro Tenreiro com João Tenreiro, Joe Delon e Nick Craddock, que trouxeram electrónica, house, funk e infusões de batidas africanas para aquecer a noite. Foi intenso. E nem outra coisa se esperava.

 


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