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Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 25/01/2019

Hangloser: “Este projecto nasce da vontade de fazer uma coisa só minha”

Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 25/01/2019

A 18 de Janeiro saiu o primeiro disco de Hangloser, trabalho inaugural da editora Capital Decay. No entanto, o produtor não é um completo desconhecido. Entrando no Bandcamp de Proposition 1231, podemos ler nos créditos: “escrito e produzido por José Quintino”. Ora, José Quintino, para os mais distraídos, assinou instrumentais mais virados para o hip hop com bass music envolvida — foi um elemento importante para a carreira de Mike El Nite, principalmente nos tempos d’O Justiceiro.

E não “eliminou” DWARF, que agora está “sentado no sofá”, como confessou em conversa com o Rimas e Batidas. Sem descurar a bass music, a rigidez electrónica e a ambiência dos samples que poderíamos encontrar em trabalhos anteriores, o artista virou-se para um lado industrial mais agressivo, ríspido e acutilante. Com algum ambiente e techno à mistura, explorou uma atmosfera mais profunda — e o cuidado pelo design sonoro também se sente.

“Às escondidas”, Hangloser já tocou no Festival Impulso e no Musicbox antes do lançamento deste disco. Daqui para a frente, Proposition 1231 ainda vai dar um videoclipe e a editora Capital Decay anunciará brevemente novos nomes para o seu elenco.



Antes de mais, o que aconteceu ao DWARF? E como é que surge o Hangloser?

Foi uma evolução natural do meu percurso na música. Fazer algo deste género já estava nos meus planos há anos, mas ainda não tinha executado a coisa. DWARF continua vivo, mas sentado no sofá. Honestamente, Hangloser é a concretização da minha vontade de me demarcar do que já fiz, daí o registo completamente diferente.

O que disseste ao Orlando Rodriguez quando lhe pediste esta capa? Qual é a ideia por detrás deste Proposition 1231?

Na verdade, não disse nada. Pegámos umas litras e escolhemos entre umas quantas feitas por ele, totalmente ao seu critério. Toda a imagem da Capital Decay funcionou assim. O chocalheiro é do misto rural-urbano que temos no grupo. Na altura andávamos a ver se comprávamos uma máscara do Chocalheiro da Bemposta, e ficou. Há uma certa influência do caos sonoro dessas tradições pagãs, embora completamente transformada. É tudo rave do entrudo.

É uma abordagem tua mais experimental, menos conectada com o hip hop e mais ligada à electrónica, quase ao techno e ao industrial, a uma sonoridade mais agressiva. Deixa-nos a pensar… o que tens andado a ouvir?

Dos nomes mais repentinos que me marcaram no último ano, Helge Ebinger (Mutualism) e Réelle (Danse Noire). Lee Gamble, também, e o Ben Vince (Where to Now? Records). Vangelis, sempre.

Nota-se maior qualidade e profundidade neste teu trabalho ao nível do espectro sonoro e das texturas que se ouvem. Usaste algum material novo que tenha sido relevante para esta evolução?

Experimentei gear novo sim, mas não creio que tenha sido por aí. Vem mais das 400 faixas que fiz com o mesmo modus operandi até chegar a esta sonoridade, que era a que pretendia. Usei o Monologue e o Casio SK-1 q.b., mas o cerne é Ableton Live puro e duro.

Fala-nos da Capital Decay, que surge com este teu primeiro EP como Hangloser.

A Capital Decay surgiu numa churrascada do nosso grupo de amigos. Quando terminei o Proposition não sabia por onde lançar, mas queria ter um formato físico. Então decidimos juntar-nos e fazer isso. A estética do colectivo vem de uma decadência urbana que todos sentimos associada a Lisboa, daí a identidade apropriacionista e humorística que escolhemos. Tínhamos mais músicos no grupo, interessados também em lançar projectos com caras novas, que serão apresentados em breve. Temos DJs e pessoal interessado em outros formatos mais conceptuais e quase académicos. No fundo só queremos que seja uma plataforma amorfa, da qual vá saindo o que nos dá na telha.

Neste novo projecto, com quem gostarias de vir a trabalhar futuramente?

Na verdade, este projecto como Hangloser nasce da vontade oposta, a de fazer uma coisa só minha, sem associações a circuitos demarcados. Mas a escolher seria provavelmente com Coletivo Vandalismo ou com a BLEID. E gostava de trabalhar com pessoal da new media art, tipo Error-43 ou berru, para montar um show pesado.

Pensas ainda apresentar Proposition 1231 em mais algum formato? Ao vivo ou em vídeo, por exemplo?

Já dei dois concertos meio às escondidas. O primeiro a abrir para Actress no Musicbox, quase um DJ set, porque o projecto ainda estava em estado embrionário. O segundo foi no Festival Impulso, mais a sério, onde já subi ao palco com o André Godinho, o responsável pela parte visual dos concertos. É com este formato que vamos apresentar o Proposition 1231.

Também temos um clipe no forno, que vem também de uma brincadeira de amigos. Mas dentro da Capital Decay vou lançar outra coisa, com uma componente de vídeo e editorial. Estejam atentos.


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