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Fotografia: Cláudio Ivan Fernandes
Publicado a: 09/11/2024

Com os The Phunky Nomads.

GZA no Lisboa Ao Vivo: a noite das espadas líquidas e a celebração do legado dos Wu-Tang Clan

Fotografia: Cláudio Ivan Fernandes
Publicado a: 09/11/2024

Um ano depois da estreia dos Wu-Tang Clan em Portugal, um dos seus mais eloquentes e hábeis membros passou por cá com uma tour especial. Falamos, claro, de GZA, que se uniu aos The Phunky Nomads para um espectáculo em torno do seu aclamado álbum Liquid Swords, que cumpriu precisamente na noite desta quinta-feira, 7 de Novembro, o seu 29.º aniversário. E GZA celebrou-o com a plateia do Lisboa Ao Vivo.

A sala intermédia deste complexo composto por três armazéns de diferentes dimensões ficou composta, por portugueses e estrangeiros, para assistirem ao vivo a um concerto de uma referência. GZA pode não ser o rapper mais carismático ou vistoso dos Wu-Tang Clan, mas é certamente um dos mais engenhosos com a palavra, um dos valores mais seguros do clã de Shaolin.

Mais de 30 anos volvidos desde o início do seu percurso, mostrou-se maduro, profissional e competente em palco. Não tem a performance mais enérgica ou agitada, mas é ágil o suficiente para conseguir ser eficaz e interpretar as canções muito palavrosas quase sem máculas. 

Os pequenos engasgos ou as curtas faltas de memória são encarados com naturalidade quando se debitam velozmente milhares de palavras em palco e é exactamente assim que se devem contornar esses percalços que, de tão insignificantes, nem sequer o chegam a ser. Aliás, numa era de cada vez maior artificialidade e de precisão robótica, um inofensivo erro humano é bem-vindo e deve até ser valorizado, também tendo em conta a vulnerabilidade de um artista, mesmo que experiente, que se apresenta perante uma multidão.

O alinhamento percorreu sobretudo Liquid Swords, o álbum que está a ser celebrado nesta digressão, mas escapou aqui e ali com momentos de grande entusiasmo, naturalmente, quando as escolhas recaíram sobre algumas das mais emblemáticas faixas do universo dos Wu-Tang Clan, com “C.R.E.A.M. (Cash Rules Everything Around Me)”, “Shimmy Shimmy Ya”, “Clan In Da Front” ou “Reunited” a merecerem cânticos colectivos e ovações. 

Por mais qualidade e mérito que rappers como GZA possam ter nos seus trajectos a solo, o cancioneiro dos Wu-Tang Clan e, em particular, do seu icónico álbum de estreia,Enter The Wu-Tang (36 Chambers) (1993) irá sempre ultrapassar as aventuras criativas que os seus membros fizeram (e fazem) individualmente. Wu-Tang é uma entidade e um universo muito maior do que uma só pessoa ou artista.

A junção entre GZA e os The Phunky Nomads é particularmente feliz. Os instrumentais soulful, por vezes dramáticos e nostálgicos, são tocados com um groove inabalável por uma formação composta por Phearnone (violino e teclas), The God of Sound (teclas), Djibril Toure (baixo) e Ramsey Jones (bateria), irmão de nada mais nada menos do que Ol’ Dirty Bastard. Os beats não perdem peso; antes pelo contrário, são ampliados e alargados através destes arranjos, evocando os sentimentos transmitidos pelos samples

À sua frente, um GZA sem toques de vedetismo e que também não tenta forçar uma juventude que inevitavelmente ficou no passado. O rap também pode e deve ser maduro, e se for de qualidade e envelhecido nas melhores barricas, tem tudo para soar cada vez melhor com o passar dos anos. 

Com o seu estilo pausado, GZA deslizou pelos instrumentais como manteiga, interpretando as suas rimas mas também as dos seus companheiros nas músicas de todo o clã. Acima de tudo, foi uma performance digna da discografia e do legado de Wu-Tang e do álbum Liquid Swords, uma noite de celebração que, embora tenha começado morna, atingiu picos saudáveis de energia suficientes para satisfazer o público mesmo que possa haver quem desejasse um concerto ligeiramente maior.


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