No passado dia 26 de Junho, Marcelo dos Reis lançou o seu mais recente álbum, Glaciar, pela Miria Records. Amanhã, 2 de Julho, a primeira apresentação deste trabalho acontece na Casa Varela, em Pombal.
Numa entrevista dada recentemente a João Morado, uma conversa que foi publicada no Rimas e Batidas, o músico falou sobre o projecto:
“Eu já tinha planeado este ano fazer um disco a solo. Na verdade, estava a pensar acabá-lo nesta fase do confinamento e gravá-lo no estúdio da Academia de Música que eu também coordeno. Só que, entretanto, já havia conversações há algum tempo para fazer uma residência artística aqui na Casa Varela, em Pombal, e em conversas com o Filipe Eusébio, que é o programador da Casa, pareceu-nos ser uma boa altura para fazer uma espécie de residência em desconfinamento. Portanto, já que ia estar aqui uma semana mais fechado sobre mim, a gravar, e a pensar no que estou a criar… e ainda por cima fora de casa! Nesta fase o que também nos inspira é estar a criar fora de casa. Só por aí, achei que era uma boa altura para gravar este disco a solo. Venho com as ideias já quase todas definidas, apesar de saber que ainda faltam muitas outras, porque é um disco que, ao contrário de muitas coisas que tenho feito, vai ter muita composição, ou seja, vai ser um disco com muito menos improvisação. Vai ser composto por material que fui juntando há algum tempo. Tenho a ideia de lhe chamar Glaciar, até porque é uma música com espaço, reverb e na qual vou usar efeitos. Aliás, vou fazer uma cena que normalmente nunca faço…. normalmente ligo a guitarra ao amplificador sem nada ou toco guitarra acústica, e aqui vou fazer uma coisa com efeitos, psicadélica até.
Em 2017, estive numa residência artística nos Alpes, na Suíça, que fiz com o Luís Vicente durante três semanas. E fomos tocar a Zurique, alugámos um carro e fizemos uma viagem brutal, lindíssima, assim super bucólica, pelos glaciares. Estava um dia incrível de sol. No dia seguinte tínhamos um concerto perto de onde estávamos a fazer a residência, ou seja, tínhamos de regressar, e estamos a falar de uma viagem de cerca de 300 km que nós fizemos de volta durante a noite. Claro que ninguém faz aquela viagem à noite. Imagina o que é passares pelos glaciares daquela forma. É super perigoso e, ainda por cima, estava a nevar. Ao mesmo tempo foi muito inspirador. Estava lua cheia e passámos por glaciares com extensões brutais. Acho que essa foi a imagem natural mais bonita que vi na vida. Foi mesmo surreal. Ninguém presencia aquilo daquela forma porque só dois ‘doidinhos da cabeça’ é que andam por ali às quatro horas da manhã. Lembro-me de ir a conduzir mesmo devagar, a cerca de 5 km/h, e passavam veados ao lado do carro. Nunca mais me esqueci dessa experiência, e isto já foi em 2017. Essa ideia de fazer um disco inspirado por essa viagem foi maturando desde aí…”
Há, para já, mais três concertos marcados: no Jardim Botânico, em Coimbra, no dia 15 de Julho; na Galeria Caos, em Viseu, no dia 16 de Julho; e no Convento de S. Francisco, em Coimbra, novamente, a 21 de Dezembro.