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Fotografia: Vera Marmelo / Jazz em Agosto
Publicado a: 07/08/2023

A vitalidade do jazz nórdico.

Gard Nilssen’s Supersonic Orchestra no Jazz em Agosto’23: da natureza dos dias claros

Fotografia: Vera Marmelo / Jazz em Agosto
Publicado a: 07/08/2023

A irrespirabilidade dos dias claros. Fecham-se as janelas. Pequenos gestos de apaziguamento. No limbo. Um funambulista sem experiência. A estranheza de um fim – Jazz em Agosto 2023. A festa esperada – Gard Nilssen´s Supersonic Orchestra. A escala desmesurada.

Impressiona. Dezoito músicos em palco. Na grafia por extenso, a procura de uma ajuda num mais que hipotético entendimento. Na listagem individual a relevância de um colectivo – Per ”Texas” Johansson (saxofone), Kjetil Møster (saxofone), Eirik Hegdal (saxofone), Otis Sandsjö (saxofone), Mette Rasmussen (saxofone), Maciej Obara (saxofone), Signe Emmeluth Krunderup (saxofone), Thomas Johansson (trompete), Goran Kajfes (trompete), Erik Johannessen (trombone), Guro Kvåle (trombone), Petter Eldh (contrabaixo), Ingebrigt Håker Flaten (contrabaixo), Håkon Mjåset Johansen (bateria), Hans Hulbækmo (bateria), Gard Nilssen (bateria e acrescentamos condução do ensemble).

A construção de um colectivo e a determinação de encaixes individuais e/ou através de pequenos núcleos. A força encontra-se no necessário equilíbrio entre o todo, plenamente assumido por todos e um eu compreendido e aceite pelo todo. Aqui reside a beleza, porque enigmática, desta formação. Aqui habita o encantamento do que tivemos oportunidade de escutar. Um corpo sonoro faz-se por permanentes entretenimentos, a vincar o carácter de celebração, dialogantes. Momentos que desembocam num crescendo e simultaneidade na participação, contrapondo a outros em que a secção percussiva ou de sopros dá o mote. Sem qualquer pretensão para a criação de novos subgéneros, arriscaremos a defini-lo como “jazz viela”. A audiência é conduzida de uma forma pré-estabelecida, intrincada, numa pequena introdução do tema através da bateria, ora pelo trompete, por exemplo, até desembocar num turbilhão festivo. Numa imagem apropriada à noite quente que se fez sentir – um grande fontanário em praça desmesurada.

Colectivo, cumplicidade e familiaridade. Tríade explicitamente assumida ao longo da noite. Colectivo e o desejo de participação de cada um. Bastava estar minimamente atento aos músicos que por momentos não tocavam. De cócaras vigilantes ou a dançar enquanto aguardavam a ocasião para participar. Nunca afastados, nunca desligados. Cumplicidade entre eles. Exemplo da apresentação da Supersonic Orchestra por parte Gard Nilssen, dando-nos a conhecer outras facetas dos músicos, por exemplo o trabalho na área da banda desenhada/ilustração, e apresentando Ingebrigt Håker Flaten com nota de humor – “um dos músicos que mais tocou na edição deste ano.” Familiaridade, com o país e sobretudo com a Clean Feed, não deixando de mencionar que foi a primeira editora a publicar um álbum seu, com alguns dos elementos da banda, numa relação desde os tempos de infância e, em toada humorística, solidariedade com todos os que sofreram do calor vespertino – menção ao soundcheck que bem deve ter custado a fazer. Não admira, portanto, que a meio, num intervalo entre temas tenha juntado a expressão “super fun” a “super song”…

Socorrer-nos-emos do título do álbum If You Listen Carefully The Music Is Yours, para uma síntese possível. Houve quem por reminiscências estranhas tivesse perscrutado – “But what about the noise of crumpling paper“, lembram-se os apreciadores dos instantes mais contraídos, enclausurados. Outros, a grande maioria, deleitaram-se com a dinâmica mais expansiva. No fundo, uma proposta não tão próxima da ideia de risco de Madalena de Azeredo Perdigão, mas que teve, pelo menos, a virtude em mostrar a vitalidade do jazz nórdico, num eixo que se desenha entre Oslo e Estocolmo e as suas diversas ramificações.

Fica a pergunta e a curiosidade sobre a 40º edição que aí vem: Natureza festiva? O assumir na plenitude do risco? Espaço para propostas de cariz mais marcadamente afro-americano, como na edição do ano anterior? A aposta reforçada, como neste ano, no jazz feito por mulheres? Diz-se que o melhor remédio em relação à curiosidade é aguardar. Pois que assim seja.


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