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Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 04/04/2019

O rapper de Gary, Indiana, estreia-se em Portugal na próxima edição do Vodafone Paredes de Coura.

Freddie Gibbs: o último dos OGs

Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 04/04/2019

É fácil pensar que Gangsta Gibbs anda por cá desde sempre e que a sua presença no movimento remonta para os idos de 90, só que na verdade já a década seguinte ia a meio quando o MC, agora com 36 anos, se começou a afastar do anonimato para dar cartas à escala global. Compreende-se: a postura de Freddie, que tinha entrado na casa dos vinte há pouco tempo, já lhe dava os mesmos ares de veterano que o continuam a caracterizar. Como hoje, a firmeza do tom ajudava a beber as palavras que ia debitando sem filtros ou rodeios, como se de literatura clássica se tratasse.

O auge da sua popularidade continua a ser a Piñata que engendrou com Madlib e que fez desta uma das duplas mais aclamadas dos últimos anos, mesmo que a fórmula não se tenha voltado a repetir — pelo menos de forma tão enfática. Dessa colaboração nasceu ainda um dos momentos mais representativos dos seu percurso, que era para ter começado em 2006 mas que só arrancou com The Miseducation Of Freddie Gibbs, depois de três anos às avessas com a Interscope. Todos os dias saem remixes e versões de temas populares, que estão a bater ou para lá caminham, mas o que Gangsta Gibbs fez no início de 2016 não foi bem a mesma coisa.



O burburinho causado por The Life Of Pablo estava no auge e “No More Parties In L.A.”, com Kendrick Lamar, já se tinha consagrado como um dos sons do ano (apesar de ter visto a luz do dia logo em Janeiro) quando Freddie Gibbs reparou que lá por casa ainda havia restos do seu projecto com Madlib — e que no meio das sobras se tinha perdido o beat que Mr. West decidiu usar dois anos depois. Kanye, mais dado à cultura do que ao movimento, não terá gostado assim tanto do passo improvisado por Gibbs, tanto que o tema desapareceu do seu SoundCloud passados alguns dias, mas o autor de “Thuggin’” saiu a ganhar e, dez anos depois de um início complicado, estava nas bocas do mundo.

“Nobody’s closing me out of my business”. Em “Definition Of A Thug Nigga“, de Tupac, o sample do refrão define em poucas palavras a mentalidade que tão bem caracteriza o rapper do Midwest americano, que só agora, em 2019, completa uma década de actividade oficial. Por isso é que, havendo Gibbs no leme, se pode carregar no like antes de apertar o play, partilhar antes de ouvir, mesmo que decida cantar — e desafinar –, como em Freddie, ou elevar a velha thug lifea um campeonato em que não joga mais ninguém, como em You Only Live 2wice, um dos discos mais sólidos de que o rap contemporâneo terá memória.

A faixa de Tupac caracteriza-o melhor que qualquer opinião ou entrada do dicionário para as palavras “gangster” e “thug”, mas Freddie Gibbs é, verdadeiramente e como poucos outros, o estereótipo de rapper favorito para quem prefere Tupac ou para os que gostam mais de Biggie, verdadeiro exemplo a seguir pelos que perseguem o reconhecimento sem ambicionar a fama, provando que os samples mais óbvios podem alinhar no mesmo conjunto que um bom kick a servir de bass e que um rapper com identidade, independentemente da estética ou dos tempos, acaba sempre por jogar em casa.


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