Depois de, no ano passado, se ter estreado enquanto Félix Gambino num disco mais próximo de sonoridades latinas que evocava o imaginário de Pablo Escobar, Pedrouços Clandestino (Amor & Narcotráfico), desta vez o produtor aposta num disco mais “sinistro e suburbano” sobretudo influenciado por sonoridades trip-hop, intitulado Águas Furtadas (Volume 1).
O primeiro aperitivo está servido e tem por título “É Tudo Mentira”, um single que junta Félix Gambino a MONA LINDA, uma colaboração que andava a ser idealizada há mais de uma década. O Rimas e Batidas colocou algumas questões ao produtor, que levantou o véu do novo projecto que aí vem.
Este single “É Tudo Mentira” representa bem o álbum que aí vem? O que já podes contar?
Sim! Representa da forma mais crua e despida, e daí considerar a faixa que representa melhor aquilo que será o disco; é provavelmente a música mais “suja” do Águas Furtadas (Volume 1) e, por causa disso mesmo, aquela que escolhi para primeira amostra.
O disco vai ter uma linha sonora mais ligada ao trip-hop? Foi a direcção mais natural tendo em conta que este está a ser apresentado como um trabalho mais sinistro e suburbano?
O disco vai ter uma linha sonora mais ligada ao trip-hop e foi a direcção mais natural, visto que este trabalho é mais sinistro e suburbano do que o primeiro EP. Quando comecei a produzir este álbum, estava a ouvir muito, de novo, os discos do Tricky, Portishead, Martina Topley-Bird, UNKLE… e o próprio disco de estreia do MONA LINDA. E o trip-hop, naturalmente, surgiu como a sonoridade certeira para contar estas histórias. Mas também, além do trip-hop, bebo muito do hip hop. Não se nota nos meus outros projectos (Novos Românticos, Malibu Gas Station, David From Scotland), mas cresci com discos de Sam The Kid, Allen Halloween, Sir Scratch, Valete, Mind da Gap, Dealema, Xeg, Matozoo, Raiz Urbana… tudo por culpa do Rui da Biruta Records e irmão do Edgar (MONA LINDA), que partilhava comigo muitos discos de hip hop quando andávamos na escola básica de Pedrouços. Lembro-me de que uma vez, no meu aniversário, na adolescência, ofereceu-me o Conhecimento do Xeg — guardo religiosamente.
Como passaste de uma estética mais latina e inspirada pelo imaginário de Escobar para este Águas Furtadas (Volume I) que começas agora a desvendar?
Acima de tudo, e apesar das estéticas diferentes, pretendo manter sempre o romantismo da clandestinidade. Félix Gambino serve muito para me libertar das amarras dos estilos ou géneros que tenho nos outros projectos; agora é o trip-hop, amanhã posso lançar um disco de beats ou um single de UK garage; é o que estiver a sentir. Não me quero prender, honestamente, e vai depender muito das minhas vivências. Sinto que penso nas histórias dos discos como se estivesse a escrever o guião de um filme. Na minha cabeça, é sempre tudo mega visual. A passagem de um registo para o outro foi por causa disso mesmo, as vivências e o quotidiano… passei por uma fase de saúde mental complicada, estava a precisar de me libertar, e foi terapêutico. Se, de certa forma, tivesse de voltar a compor neste registo, não iria, de todo, resultar desta forma. Sinto-me mais feliz e, provavelmente, se fosse compor agora, haveriam mais temas como o que fiz com a Capital da Bulgária no Pedrouços Clandestino (Amor & Narcotráfico), por exemplo.
Como surgiu esta colaboração com o MONA LINDA? E como foi o processo criativo?
É uma colaboração que está a ser guardada, pensada e desejada por mim há mais de dez anos, certamente. Como já referi, cresci muito influenciado pela carreira do Edgar, seja em MONA LINDA, Conjunto Corona, Roulote Rockers (props ao Raez também, vi-o sempre como um mestre da produção), Raiz Urbana, Ollgoody’s ou L’s Kitchen. Quando finalizei o instrumental, que foi o primeiro que produzi para este disco, entrei logo em contacto com ele. Na minha cabeça, só fazia sentido a sua participação neste instrumental. Ele ouviu, prontamente aceitou, andámos a cozinhar, fomos para o estúdio sem trocar muitas impressões sobre o tema, reunimos os nossos amigos à volta do sofá, falámos sobre tudo e mais alguma coisa, e quando chegou a hora, ligámos os materiais, e siga. Foi tudo muito rápido, pessoal, honesto e sem tretas. É isto, tinha de ser isto. Na altura, o que senti foi que o David de 12 anos se ia sentir super feliz; o de 32 sentiu-se, em parte, com uma espécie de sonho/missão cumprida.
Vais contar com outros convidados no disco? Todas as faixas terão voz?
O disco vai contar com mais convidados e todas as faixas terão voz. Até quase que penso no Águas Furtadas (Volume 1) como uma espécie de colectânea, por causa do talento incrível que tive a sorte de reunir. Além dos convidados, em algumas faixas vou assumir pela primeira vez eu mesmo a voz; fruto, talvez, do meu papel recente como “vocalista” (vocalista muito entre aspas) dos Novos Românticos.
Existe uma data prevista para o lançamento?
Se tudo correr dentro do previsto, em Outubro ou Novembro estará cá fora. Até lá, irei disponibilizar mais singles de antevisão.
O volume I do título sugere que possam existir mais volumes. É esse o plano?
É esse o plano! O disco estará dividido em duas partes, por isso, haverá o volume 2.
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