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Fotografia: Gonçalo Afonso
Publicado a: 06/12/2022

Completamente envolvido.

Extrazen: “O I THINK I THINK TOO MUCH é um retrato e uma reflexão sobre o meu overthinking

Fotografia: Gonçalo Afonso
Publicado a: 06/12/2022

Em Abril de 2021, Extrazen lançava “Pinewood St.” na expectativa de tentar a sua sorte no panorama musical português e subir a alguns palcos por esse país fora, até que a pandemia lhe trocou as voltas, mas isso não o fez parar, pelo contrário. Um ano e alguns meses depois, Francisco Andrade apresentou finalmente o seu primeiro trabalho de originais, o EP I THINK I THINK TOO MUCH. De Santo Tirso, entre engenharias concretas e criatividades abstractas, também o encontrámos a certa altura ao lado de YANAGUI e LEFT. em “Cleopatra”; no próximo dia 10 de Dezembro é no Musicbox, em Lisboa, que estará a mostrar como chegou até aqui e o que tem para dar ao vivo.



Fazes música desde muito cedo. Sempre viste isso como uma faceta de ti ou são duas coisas muito distintas, o teu verdadeiro eu é o Extrazen e depois tens o lado do Francisco com uma personalidade mais preparada para a realidade?

Se calhar no início achava que era duas pessoas distintas, que havia ali algum tipo de diferença e de gap entre essas duas personalidades. Mas agora acho que estão a coligar-se cada vez mais e isso notou-se mais a partir do momento em que comecei a produzir música. Quando comecei a produzir, havia ali uma fase em que estava a tentar aprender a produzir e a simular ou “copiar” — entre aspas porque copiar na arte é sempre relativo — algum tipo de som. A partir do momento em que comecei só a explorar e a ouvir muito mais aquilo que eu gosto, acho que se começou a misturar cada vez mais e mais as coisas que eu falo nas músicas. E até a atitude, sinto que se transmite para a minha vida no geral. Por isso, acho que é um bocado por aí.

E que tipo de atitude é que tu queres transmitir nas tuas músicas? 

Acho que depende um bocado de música para música.

O que queres transmitir com este EP, que teve uma viagem um bocadinho turbulenta? Queres falar sobre isso? 

Foi, demorou muito tempo e se perguntares a todas as pessoas que estão comigo, que trabalham comigo, amigos e família, ao tempo que já ando a dizer que vou fazer um EP e vou lançar e tudo mais e depois as coisas foram andando para a frente e foram puxando para trás, depois tínhamos umas faixas, depois arrumávamos porque para mim não estava bom o suficiente… Foi um bocado um pára-arranca até alguém chegar à minha beira e eu meti mesmo na cabeça, “se não fechares aqui estamos a fazer um EP para sempre e nunca vais ficar satisfeito com isso”. E isso também reflecte um bocado da minha pessoa, porque eu penso demasiado nas situações, situações básicas da vida “normal”. Eu tendo a agir de uma maneira impulsiva e depois de agir penso que devia de ter agido de uma maneira diferente e daí o título do EP. Dessa aceitação — que pode soar um bocado cliché — que toda a gente pensa demasiado. Mas durante o processo foi tudo isso. Foi demasiado pensado e acho que acabou por pautar o EP no geral. 

O EP acaba por ser um reflexo teu?

Sim, 100%.

Quando lançaste o primeiro single, antes da pandemia, li numa entrevista que tinhas expectativas de concertos e que isso abrisse portas, mas, entretanto, a pandemia aconteceu e agora que as portas estão mais soltas do que nunca, quais foram as tuas expectativas para o lançamento e desde então como tens sido esta experiência? 

Supostamente o primeiro single do EP ia ser com a “Pinewood St.”, que já foi lançado em 2021 e depois, mais uma vez, por causa daquilo que disse, do EP ter sido empurrado, acabámos por nem deixar essa faixa, que publicitámos como primeiro single do EP na altura. Mas a faixa acabou por cair porque já tinha passado imenso tempo, a faixa saiu em Maio de 2021 e o EP saiu em Setembro de 2022, um ano e quatro meses depois, por isso acabámos por cortar a faixa. 

Para ser honesto, desde o início tentei não criar uma expectativa demasiado alta para não me iludir. É o meu primeiro projecto e é bom ter confiança no teu trabalho, mas as coisas acabam por se fazer a longo prazo e, tendo em conta tudo o que acabou por ser este EP, mantive-me ligado com os pés à terra sem pensar no que podia ser. E para já está a correr bem, fizemos o primeiro concerto no Plano B, fizemos uma listening party na Cupra City Garage em Lisboa, que também correu super bem, e agora faremos o concerto no no Musicbox, no dia 10 de Dezembro, e a partir daí vamos vendo. Entretanto também há outras coisas que vão sair, mas acho que para já está a correr bem. 

O processo todo do desenvolvimento do EP, processo criativo, processo de divulgação e tudo mais, como é que sentes que isso teve um impacto na tua vida como na parte de artista? 

Acho que, como artista, sinto-me muito mais a perceber o que envolve fazer um projecto de início ao fim. Desde fazer música, produção, gravar vozes, teres que alinhar tudo e ficar no ponto para ficar como queres antes de lançar é um processo longo, que exige muito de ti. Mesmo esse tipo de decisões que se calhar até agora era o que falhava, porque havia decisões, mas não eram concretas, [faltava] algo assertivo nesse sentido. Mas acho que foi um processo que me fez crescer imenso e perceber de facto o que é que envolve e sinto que daqui para a frente me vai ajudar imenso a lançar música nesse sentido, por ser capaz de fazer essas decisões que são importantes, se não ficas à voltas e não vais a lado nenhum.

Que tipo de “erros” não queres repetir para a frente? 

Eu não diria “erros”, até porque já quando estávamos a lançar o EP as faixas já estavam prontas há tanto tempo que comecei a questionar e tu olhas sempre para o progresso entre a diferença de quando fizeste as faixas e quando estás agora-

Há uma certa distância…

Sim, é isso, mas acho que é saudável e isso é bom para um artista, teres esse caminho. Se eu agora fizer um álbum, que vou fazer eventualmente, quero ouvir a diferença. Ou seja, eu não diria que são erros porque eu não mudava nada do que está lá. O que está lá, está lá e é para estar lá, e é o que faz sentido. E é isso, é um bocado esse progresso e no próximo projecto essas “falhas”, podes melhorar, mas também são importantes. 

Fizeste uma colaboração em “Cleopatra” com o YANAGUI e o LEFT. que foi muito bem recebida. Que portas é que achas que essa colaboração te abriu?

Acho que me abriu várias portas, principalmente a relação com as pessoas com quem fiz a música, com o YANAGUI e o LEFT., que são agora dois amigos bastante próximos. Mas acho que, mesmo lá para fora, a música teve uma boa promoção e nesse sentido também foi importante. É uma música que as pessoas reconhecem porque passou e passa na rádio várias vezes e as pessoas gostam de ouvir isso em concerto.

Neste EP só tens uma colaboração, com o Lucy Val. Tinhas vontade de colaborar mais ou foi uma decisão vincada desde início?

Não, não foi vincada. Mas também não posso dizer que queria colaborar mais, até porque colaborei maioritariamente com produtores, a única colaboração de artista, de facto, é só a do Lucy Val, mas produção maioritariamente sou eu e o Kidonov. Depois também conta com a colaboração do YANAGUI e do Luar. [Na altura] estávamos concentrados em fazer isto e ter esta estética e não foi uma decisão vincada, foi só “não aconteceu” e acabou por ficar só essa colaboração. 

Se tivesses de dar um conceito ao EP, qual é que seria? 

Eu diria que pode girar um bocado à volta da questão do overthinking levado a um caso excessivo. Ao longo do EP tens várias faixas que tentam retratar isso, de situações pequenas esticadas em demasia, situações em que cruzava olhares ou conhecia alguém e começava logo a imaginar não sei quantas coisas. Esticar ao máximo. E sinto que isso também foi uma parte importante também para reflectir esse overthinking, porque acaba por ser a maneira como eu penso. Mas eu diria que é um bocado por aí, essa aceitação e retrato de pensar demasiado em situações da tua vida normal.

Que tens em mente para o futuro? 

Em mente tenho um álbum para o futuro — diria um futuro próximo. Não daqui a dois meses, mas eventualmente e já estou a trabalhar numas coisas.



Já tens um tema pensado?

Já tenho algumas faixas possíveis alinhadas, temas que quero abordar e sonoridades que quero explorar. 

Distintas ou que vão no mesmo seguimento que o teu EP?

Um bocado misto, talvez. Tento não me limitar muito, mesmo em termos de produção, sinto que limitar não é fixe para uma pessoa criativa, e as coisas acabam por ficar demasiado numa certa linha que tu não consegues esbarrar contra. Às vezes até pode nem ser a mesma sonoridade, mas há certos elementos em termos de produção, voz ou de versos, que te ligam e as pessoas não vão relacionar diretamente com o EP ou algumas faixas, mas os componentes estão lá. 

E quais é que têm sido as tuas referências para explorares novas sonoridades? O que tens andado a ouvir?

Um bocado de tudo, eu consumo muita coisa, mesmo também em termos de produção gosto de explorar muito… O meu artista favorito de sempre é o Kanye West, também gosto de BROCKHAMPTON, Tyler The Creator, também adoro Arctic Monkeys e mesmo a escrita do Alex Turner também me influencia muito. Também acabo por ir para outros géneros, tipo Arca, a quem vou buscar certos elementos e que tem zero a ver com o tipo de género musical que estou a fazer. Mas coisas que eu gosto em termos de produção, texturas e tudo mais é um bocado por aí, diria. 

Idealmente, quais seriam os artistas portugueses com quem gostarias de colaborar e que fizessem parte do teu álbum?

Deixa-me pensar… há muitos artistas portugueses que eu adoro, mas que também é um bocado aquela questão de onde é que se encontrava o meio, diria. Há toda esta nova geração muito forte para a música portuguesa. Eu diria, por exemplo, amigos meus como o João Não e há outras pessoas que também são relevantes para mim, como o Phaser, que é mais orientado para a música electrónica, os SFISTIKATED, que são uma dupla de Leiria de música eletrónica…Também um bocado os clássicos como o Pedro Mafama, outro artista que não sei o que poderíamos criar, mas [seria] interessante. A Ana Moura que também lançou o álbum dela agora… toda esta vertente nova, o Herlander, um amigo meu que admiro imenso. Podia estar aqui imenso tempo a dizer nomes de artistas, há muitos artistas em Portugal que eu admiro, e com quem estou mais do que disponível para trabalhar. 

‘Tavas a dizer que sentes que há um novo movimento de música portuguesa, como é que tu defines isso e que de forma vês que a tua música pode encaixar? 

Tens um movimento muito forte de artistas portugueses neste momento a fazer música que, principalmente os que eu mencionei, João Não, Pedro Mafama, Ana Moura, Silly, e etc…. sem querer fazer a coisa por género musical, por exemplo, de fechar as coisas numa caixa e dividir, é uma geração de músicos portugueses muito bonita, de pessoas que se querem ajudar umas às outras. A comunidade é boa, os artistas dão-se maioritariamente todos bem e acho que é só uma geração interessante. As pessoas estão a quebrar paradigmas e a explorar géneros musicais, vertentes mais antigas da música portuguesa como o fado, vertentes que foram originárias de África, como kizomba, kuduro e estão a ser usadas na música portuguesa. Portanto, acho que é uma geração de artistas super interessante que só querem fazer musica e não dividir as coisas por caixas e está tudo a trabalhar no mesmo sentido, que é elevar a música. Onde é que eu me posso encaixar? Isso já não sei, já depende de muita coisa, depende dos ouvintes, depende de tudo, mas acho que o importante é fazer parte e eu sinto que faço parte e sinto-me abraçado por essas pessoas, por essa nova comunidade de artistas que estão motivados a fazer música nesse sentido, que é elevar a música portuguesa. 

Concordas se eu dissesse que existe um novo movimento que está a reformular a música popular portuguesa regressando o às raízes e dando-lhe uma roupagem nova? 

Sim, acho que sim. E acho que também há esse interesse em absorver essa cultura que já está no país e isto pode ser usado de várias maneiras. Sinto que isto é uma mistura de várias coisas, que vais buscar a vários sítios e o resultado está a começar a ver-se. Tens álbuns incríveis da música portuguesa que saíram nestes últimos dois anos que são muito influenciados nessa base que tu disseste e que acho que são trabalhos interessantes e que são bonitos de se ver. Estares a pegar numa coisa tão forte culturalmente como essas vertentes, do fado, etc., e dares um toque moderno a isso. Acho que é super interessante. 

Achas que há algum álbum que te tem acompanhado ao longo do teu percurso desde dos 15 anos até hoje? Consegues citar um álbum que te acompanhe nas tuas produções? 

Eu diria vários, mas talvez o mais óbvio ou o que faz mais sentido seria o Yeezus, do Kanye West, é dos meus álbuns favoritos de sempre, ou o 808s & Heartbreak também… Eu diria que sempre fui fã de Kanye West desde miúdo e sempre acompanhei todo o percurso dele e a inovação de produção e se tivesse de escolher um, seria um deles. 

E falando do Kanye West, achas que podemos separar o artista da obra? 

[Risos] Eu vou dar a minha opinião… pessoalmente, sim. Mas, como é óbvio, acho que cada pessoa tem a sua opinião e eu também sou biased por ser fã da música dele e que não concordo com o que ele anda a fazer ultimamente, o que pouca gente também há-de concordar. Mas sim, diria que sim, que é possível separar o artista da obra.

Então, de que forma é que tu te separas da tua obra?

Acho que já é diferente, porque sinto que a visão que me tinhas contado antes é uma visão de fora e acho que de fora é mais fácil separares o artista da obra do que eu me separar a mim da minha obra, já é uma pergunta mais complexa. Porque é algo que sai de “mim”.

É uma questão de ponto de vista?

Eu acho que sim, que nestas coisas, cada pessoa é que sabe por si. Não sou da opinião de forçar algum tipo de opinião, eu acho que é possível separar o artista da obra e ao mesmo tempo depende dos casos. Mas acho que é mais complicado separares a tua obra de quem tu és. Que acaba por ser um reflexo do que tu és, a não ser que tenhas algum tipo de personalidade à volta. 

Expectativas para o concerto no Musicbox, existem?

Existem. Acho que vai ser um concerto, espero eu, incrível. Vamos trazer a energia que tínhamos no Porto, numa data que esgotou. E para Lisboa, pela primeira vez, apesar de já ter feito um showcase, as expectativas estão lá. Tentar esgotar e que vá o máximo de número de pessoas e que se divirtam e a achem que foi um concerto incrível.

Quem te vai acompanhar em palco?

Vai-me acompanhar o pessoal que teve no Porto: o YANAGUI, o LEFT., o Lucy Val e o Kidonov. É um concerto que já queríamos fazer há muito tempo, eu falo por mim. Sempre quis, desde há muito tempo, tocar em Lisboa e achava que ia tocar há dois anos e, por isso, é uma data especial e quero que seja mesmo em peso. 


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