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Fotografia: Cláudio Ivan Fernandes
Publicado a: 06/05/2023

O músico apresentou o seu primeiro álbum, DECLIVE.

EU.CLIDES no Lux Frágil: a afirmação de um artista fora de série que só tem por onde crescer

Fotografia: Cláudio Ivan Fernandes
Publicado a: 06/05/2023

Desde que se estreou em 2020 com o single “Terra Mãe” que EU.CLIDES tem vindo a construir um percurso ímpar e a afirmar-se como um dos mais entusiasmantes músicos portugueses contemporâneos. Esta quinta-feira, 4 de maio, regressou ao palco do Lux Frágil, em Lisboa — onde já tinha tocado o seu primeiro EP, Reservado, que acaba de conquistar o Prémio José Afonso 2022, entregue pela Câmara Municipal da Amadora — para apresentar o álbum de estreia editado em março, DECLIVE.

A seus pés tinha uma multidão ansiosa por o ver, que tinha esgotado a sala por completo. EU.CLIDES pode representar o oposto da figura de ídolo — ele próprio, característico pela sua timidez e humildade, afirmou ser “anti-manias e anti-ego” durante a performance — mas a verdade é que consegue atrair um público entusiasmado (e diverso), que vai vibrando e cantando os seus temas, tratando-o como tal.

DECLIVE, como qualquer ouvido mais ou menos apurado pode calcular, é um álbum construído com uma elevada dose de perfeccionismo. Os instrumentais estão repletos de (ricas) texturas sonoras, onde o universo orgânico dos instrumentos se cruza com as programações eletrónicas, enaltecendo o melhor dos dois mundos.

Por cima, a voz de EU.CLIDES — que ora é mais comedido ou se deixa brilhar nos sons mais agudos — ecoa de forma harmoniosa textos poéticos, mais ou menos abstratos, mas sempre densos e belos. O resultado é um r&b de calibre pop, recheado de musicalidade e embalo africano. Nunca se viu nada assim na música portuguesa e é mais um fruto de uma “Nova Lisboa” que, no plano musical, se vai concretizando.

No Lux Frágil, em cima do palco, o equilíbrio entre orgânico e digital manteve-se. Quase sempre de guitarra em riste (instrumento onde é um virtuoso), EU.CLIDES foi cantando vários temas de DECLIVE (e os principais destaques de Reservado), acompanhado por Ricardo Coelho e TOTA (que é um dos seus principais parceiros no estúdio, ao lado do cada vez mais impactante Pedro da Linha). 

O alinhamento foi pontuado por canções mais festivas e momentos de maior euforia e de explosão rítmica, mas também por segmentos mais solenes e de maior vulnerabilidade — como quando o artista dedicou “24” à sua mãe, apelando à sensibilidade da plateia. A palete de cores da música de EU.CLIDES é diversa sem nunca se tornar dispersa, o que lhe dá uma consistência notável.

“Venham Mais 7”, “Tê Menos 1”, “4ª Feira”, “Desmancha-Prazeres” ou “Tubarão-Azul” foram, naturalmente, dos temas mais agraciados pelo público. O seu autor, porém, parecia surpreendido pelo carinho que estava a receber naqueles momentos, com os coros a serem entoados pela sala talvez a desbloquearem as suas inseguranças. 

É difícil antever até onde EU.CLIDES poderá ir, pois está a desbravar terreno praticamente intocado — afinal, este não é o mesmo percurso feito pelas estrelas pop; nem pelos rappers de enorme dimensão; nem pelo nicho mais eletrónico ligado a África. Talvez Slow J seja o único exemplo de que nos lembremos em termos de posicionamento, ainda que sejam músicos — e tenham músicas — completamente distintos(as). Certo é que, tendo em conta o talento de EU.CLIDES e o valor das suas canções, só podemos esperar que desfrute de uma carreira de cada vez maior dimensão, que deixe de ficar circunscrito a um pequeno circuito para se afirmar como um artista transversal.


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