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Fotografia: Guilherme Brito Gomes
Publicado a: 23/07/2021

De vez em quando, os introvertidos também podem ser o centro das atenções.

EU.CLIDES no Lux Frágil: um tubarão azul a aprender a nadar sozinho

Fotografia: Guilherme Brito Gomes
Publicado a: 23/07/2021

Desde que lançou “Terra Mãe”, o seu single de estreia, em 2020, EU.CLIDES nunca soou deslocado, nem quando arriscou uma ida ao Festival da Canção: para quem começava a dar os seus primeiros passos a solo, o músico parecia saber muito bem o que queria — e que tinha esperado o tempo suficiente para escolher de forma sensata que caminhos seguir. Reservado, o seu EP de apresentação, confirmava isso mesmo.

O primeiro em território continental — a 16 de Julho, o artista apresentou-o na Estalagem Ponta do Sol, na Madeira — aconteceu a noite passada no Lux Frágil, em Lisboa, perante uma sala esgotada que estava claramente expectante para ouvi-lo em carne e osso, fazendo-se sentir com entusiasmo cada vez que o embalo da sua voz se esvaziava no silêncio. 

A abrir a actuação, uma versão menos dançável e mais contida de “Volte-Face” mas igualmente recomendável, e a mostrar logo aí que existem duas facetas em si que saltam logo à vista: o guitarrista eloquente e o cantor comedido. Em estúdio, o equilíbrio entre as partes está encontrado; no entanto, ao vivo, existem afinações para serem feitas (o que até é normal, tendo em conta a fase em que se encontra). Isso nota-se mais uma vez no seguimento para o segundo tema do alinhamento, aquele que o introduziu ao panorama português, quando se agarra à guitarra e se perde (aqui no bom sentido) com ela antes de atacar efectivamente a estrutura mais reconhecível da canção.

Apesar de ser a cara e o corpo, EU.CLIDES não se coibiu de elogiar outras partes importantes da sua construção enquanto personagem musical. Para dar outras formas às canções redondinhas, o multi-instrumentista Ricardo Coelho acompanhou-o neste espectáculo, auxiliando através de um arsenal que contemplava o uso de programações pelo Ableton Live, um Korg SV 1, um Micro Korg, uma Roland SPD-SX, uma tarola e um prato de choque; o seu companheiro de escrita e composição TOTA até mereceu passagem fugaz pelo palco para uma ovação, tal é a sua importância para o projecto; o terceiro nome mais repetido nos créditos de Reservado, Branko, também foi alvo de menção — e pôde ouvir in loco e na primeira fila a interpretação de “Tempo Torto”.

Confessando estar “super feliz” e “surpreendido por estarem mais de 20 pessoas” na apresentação do curta-duração, o “trovador do tarraxo” — palavras de João Barbosa — mostrou maior ansiedade quando teve de entrar em diálogo com a plateia e, a espaços, nas mudanças entre músicas, mas isso são meros apontamentos que se desvanecem quando regressamos a momentos como “Tubarão-Azul” (que foi repetida no encore), “Meia-Luz” ou “Desmancha-Prazeres”: a primeira mais vivaça através de um guitarrismo vibrante, a segunda com as modificações a darem mais força à tal “solitude” de que fala na letra e a terceira a ser o contrário do que o seu título possa anunciar…

Numa quinta-feira à noite com temperatura amena, EU.CLIDES embrulhou-nos numa manta de loops e guiou-nos (mesmo que de forma periclitante, por vezes) até a um lugar seguro e recatado onde pudemos dançar, sentados e à distância. E a meia-luz, ainda, para não ofuscar tudo à sua volta. 


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