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Texto: ReB Team
Fotografia: Joana Ruth
Publicado a: 01/10/2020

Num ciclo contínuo de toxicidade.

[Estreia] y.azz x b-mywingz fizeram-no de novo

Texto: ReB Team
Fotografia: Joana Ruth
Publicado a: 01/10/2020

“Did It All Again”, o segundo single da dupla y.azz x b-mywingz em 2020, já está disponível, em primeira mão, no Rimas e Batidas. O tema conta com a participação de KOMET e videoclipe de TEMPESTADE.

Este é, também, o segundo avanço para o longa-duração de estreia do duo, sucedendo a “dis/closure“, lançado em Março passado. Apontado para sair em 2021, o álbum será editado pela Sony Music Portugal.

Depois da conversa que tivemos com a Mariana Prista, a cantora, e a Margarida Adão, a produtora, há uns meses, voltámos a enviar-lhes uma questões para perceber o impacto que a pandemia teve no seu projecto colaborativo, mas também nas suas vidas pessoais.



Comecemos pela novidade: a participação do KOMET. Como é que chegam até ele e de que forma é que se desenrolou a criação deste “Did It All Again”?

[b-mywingz] Há dois anos passava muitas noites a produzir e a gravar na Big Bit, e numa dessas noites conheci o KOMET. Desde a primeira vez que o ouvi, eu senti que tinha de trabalhar com ele, pelas vibes, pelas referências artísticas que trazia e exteriorizava vocalmente.

No ano passado gravámos umas vibes para um som que produzi em conjunto com o Kyo, que ainda está guardado algures… E quando comecei a compor este som soube imediatamente que a voz dele encaixaria na perfeição. Há algum tempo que queria juntar estes dois artistas e ver como juntos poderiam fazer algo bonito, então resolvi arriscar. Fiz-lhe o convite e enviei o som. Ele ouviu e quis logo gravar, enviou-me uma demo e, de seguida, a Mariana escreveu a parte dela. O próximo passo foi ir para estúdio gravar. Depois seguiu-se a pós-produção e mistura, a última ficou a cargo do Tomás Cruz (uma importante ajuda no processo) e foi algo mais demorado e minucioso, já que queríamos que estivesse perto do perfeito e que todos se sentissem bem com o resultado final.

Este é mais um single que antecipa o vosso álbum de estreia, agora apontado para 2021. Os tempos complicados que vivemos fizeram-vos repensar de alguma forma naquilo que andavam a criar? Existiram mudanças assinaláveis ou estão a aproveitar o tempo extra para afinar o que já andava a ser feito?

[y.azz] Acho que inevitavelmente todos nós fomos obrigados a repensar a nossa maneira de estar e, acima de tudo, de ser. Como artistas é natural que a nossa arte seja um reflexo do que vivemos, da maneira como pensamos e da nossa experiência — e, por consequência, que acompanhe as nossas transformações. 2020 tem sido um ano não só de pandemia, e de tudo o que vem associado — desde o isolamento, à instabilidade financeira e pessoal/emocional, ao medo e à incerteza — mas também de mudança, e uma grande chamada de atenção. Temos assistido a tudo o que se passa no mundo, a todos os movimentos, à necessidade de respostas e acções para corrigir a injustiça a que assistimos nos nossos ecrãs, e que tantos vivem no dia a dia. É assustador, especialmente por ganharmos noção da quantidade de pessoas que tem uma visão tão distorcida e desumana das coisas, e isto é dito de uma posição de privilégio de quem não sente isso na pele. É nosso dever como artistas (e sociedade) reflectir sobre tudo o que se passa, e fazer a nossa parte da maneira que podemos — se temos uma plataforma é importante que nos importemos (em péssimo, mas sincero português).

Gostava muito de dizer que o álbum conta com toda essa consciência em peso, mas há assuntos que pedem muito cuidado e maturidade, e que pedem mais tempo e conhecimento — outros, que tivemos a sorte de poder acrescentar, pelo tempo que nos foi “oferecido” — como reflexões de quarentena, mas acho que é seguro dizer que é impossível sair deste ano intactos a nível de criatividade ou a maneira como olhamos para o nosso trabalho e para o seu futuro.

Este novo tema fala sobre aqueles comportamentos tóxicos que às vezes insistimos em repetir. Apesar da toxicidade ser, à partida, uma coisa negativa, até que ponto é que acham que necessitamos de ter alguns comportamentos considerados tóxicos para chegar a certos sítios mais positivos?

[y.azz] Não acho de todo que seja necessário, sou da opinião de que comportamentos ou pensamentos tóxicos são, na maior parte das vezes, involuntários/inconscientes e algo que activamente nos impede de alcançar as coisas positivas, ou soluções. Não quero dizer com isto que não haja nada a aprender, ou que seja impossível retirar algo de positivo, mas não é uma necessidade ou algo que deva ser visto como tal; é muito diferente cometer um erro, ou perceber que algo não nos serve e seguir outro caminho conscientemente, do que deixar que algo se arraste e nos arraste também (ou que nos arrastemos a nós próprios, que também acontece). Todos precisamos de passar por o que tivermos de passar e aprender o que temos para aprender, mas também devemos reconhecer quando algo é verdadeiramente mau e põe em causa o nosso bem-estar, especialmente em situações que possam por em causa mais do que isso.

[b-mywingz] É difícil sairmos do nosso corpo e analisarmos os nossos comportamentos como quem está de fora. Temos uma tendência muito grande para normalizar os comportamentos do outro e o nosso, mesmo quando são errados, magoam e podem ter consequências graves para nós e para o outro. Fazemos isso porque falhamos em reconhecer a intolerância que devia existir perante esses comportamentos.

Penso que não existem pessoas tóxicas, existem sim comportamentos tóxicos e isso devia ser objeto de reflexão/auto-análise e aprendizagem para cada um de nós. Não sou da opinião que necessitamos de ter esses comportamentos para chegar a certos sítios mais positivos, mas claramente que quando estamos envolvidos directamente nestas situações facilmente adquirimos mecanismos de defesa, emocionais e relacionais, que nos possibilitam, no futuro, não cometermos os mesmos erros. É fundamental encontrar maneiras para nos protegermos, nos sentirmos bem connosco e com o outro em qualquer tipo de relação emocional.

Depois de trabalharem com o Madeinlx no último videoclipe, voltam a trabalhar com a TEMPESTADE. Foi uma maneira de continuarem a construir a vossa estética visual ao lado de quem tem feito grande parte das coisas convosco (quase como se fossem parte do projecto)?

[y.azz] Tanto o Miguel como a Sara [Mendes] e o João [Santana] fazem parte do nosso projecto, e para mim são parte da família; gostámos muito de trabalhar com o Miguel, e a nossa colaboração não vai passar apenas pelo formato visual, mas era indiscutível que este vídeo estaria a cargo da Sara e do João — eles começaram desde início connosco, e nós adoramos a estética e a visão deles, que acaba por ser a nossa também, porque estamos sempre muito envolvidas no processo, e acho que não havia mesmo mais ninguém para este vídeo, mas eu sou suspeita porque eu tenho muita admiração pelo trabalho deles.

Acho que é importante também fazer um agradecimento especial, porque filmamos este vídeo na altura do desconfinamento, que não foi nada fácil para todos, e com recursos mais limitados. Contámos com a ajuda da Celine Diaz, da Inês Figueiredo e da Daniella Alsopp (que foi MUA também) e não teria sido possível sem esse esforço, e esse apoio, por isso que não passe despercebido.

[b-mywingz] Eu pessoalmente senti que filmar com a Sara Mendes e com o João Santana foi como voltar às origens. Desde que  iniciámos este  projeto (y.azz x   b-mywingz), eles estiveram presentes e foram grandes responsáveis pela nossa “imagem”, em formato vídeo, e não podia estar mais contente com o “comeback”. São family. Quero, ainda, reforçar todo o esforço da equipa que esteve presente durante o desconfinamento e enaltecer esse apoio e dedicação das pessoas que a Mariana referiu, nas difíceis condições que todos sabemos quais foram.

Entretanto aconteceu uma pandemia. De que forma é que têm lidado com isso, tanto individualmente como enquanto dupla?

[y.azz] Eu ainda não sei bem como tocar neste assunto, porque sinto muita culpa por dizer que a nível de trabalho foi bom para nós sermos obrigadas a parar. Mas foi. Não podemos descartar que estamos numa situação e que temos o apoio da EDP e da SONY que têm sido super flexíveis e compreensíveis com a situação, e, portanto, não sentimos tanto a questão de adiar lançamentos.

Para compensar, a minha experiência pessoal com a pandemia tem sido péssima! (semi-sarcasmo) Foi um desafio e foi muito complicado no início porque estar confinada a um espaço que promove a procrastinação ou encoraja comportamentos/tendências depressivas não é mesmo nada fácil. Foi uma luta, e às vezes ainda é, quando me apercebo da fragilidade de tudo, e da sorte que tenho de ter quem me apoie, e de nada disto ter afectado ninguém que me é próximo, são coisas que mexem com as pessoas, e acho que ainda estamos todos a sofrer algum efeito da quarentena e de toda esta mudança, cada um à sua maneira. As coisas eventualmente voltam a um lugar novo, já que não podemos (e também não quero) voltar ao mesmo.

[b-mywingz] Acho que passou muito mais pela impaciência e a vontade de ter tudo cá fora, mas em retrospectiva serviu, também, para refletirmos bastante em relação ao trabalho que tínhamos estado a desenvolver até ali e abriu espaço para desenvolvermos, ainda mais o álbum, quer a nível vocal, quer a nível de produção. Deu-nos mais tempo e calma para mudarmos o que queríamos e acrescentar o que tínhamos para acrescentar.

Estes últimos meses não foram fáceis para nenhum de nós, tanto a nível emocional como profissional. O isolamento que sofremos teve algumas consequências e para pessoas que sofrem ansiedade, como eu, por vezes não é fácil combater isso. Sofri com o isolamento social e com a falta de “liberdade”, mas também pela dificuldade em arranjar mecanismos ajudassem a combater essas mudanças, contudo usei o que tinha ao meu alcance para me adaptar e criei novas formas de gerir o que estava a sentir e a viver.

Nós, portugueses, somos latinos, “românticos”, “seres do toque”, sempre fomos habituados a viver dessa forma e a pandemia tirou-nos isso. A quarentena e o medo do vírus afectou-nos psicologicamente e isso teve como consequência o afastamento físico uns dos outros. É uma realidade dura e triste, mas cada um de nós tem de ter força para olhar para os tempos que estão por vir e não olhar para o futuro com medo ou incerteza.


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