“LABIRINTO” mete Silly a abanar a anca na despedida de Miguela, o álbum de estreia com que nos brindou no ano passado. Novamente com Fred ao seu lado na produção, a faixa acaba de ser partilhada juntamente com um videoclipe realizado por Francisco Ramalho.
À semelhança de tudo o que tem feito, este novo single manda Silly de volta para o oceano dos seus próprios pensamentos. Mas para o atravessar, desta vez muda de estilo: em detrimento do endurance emocional e da braçada lenta em bruços, passa a nadar de crawl, mais enérgica e veloz na forma como expressa os sentimentos, mostrando que até o acto meditativo de olhar para dentro pode ser feito em compasso de dança. Se o facto das canções de Maria Bentes servirem de alimento para a alma já não é propriamente notícia, serve este “LABIRINTO” para afirmar que os seus cristalinos actos de introspecção também têm lugar na pista de um clube, dando um novo significado ao que se tem chamado de intelligent dance music.
À boleia de uma batida urbana que tão bem espelha o espírito criativo underground que opera mais à margem dentro das grandes cidades — aqui numa espécie de ponte sonora entre Lisboa e Londres —, demos uns passos em direcção a Silly para perceber melhor o contexto em que nasce este “LABIRINTO”, o balanço que faz do seu aclamado primeiro disco e quais os contornos do concerto que se encontra de momento a preparar para o Ageas Cooljazz deste ano — sobe ao palco no dia 23 de Julho, data que divide com Slow J e Bokor no mesmo certame.
Em “LABIRINTO”, manténs a toada introspectiva que marcou o teu disco de estreia, mas adocicas a coisa com um tempero de UK garage, fazendo desta a tua canção mais clubbing até à data. O que te levou até estas paragens?
É verdade! Ao longo destes meses a tocar ao vivo o disco, eu e o Fred sentíamos sempre uma necessidade de ter algo no alinhamento que conseguisse elevar o espetáculo para um lugar mais equilibrado e expansivo. Esse foi, na verdade, o nosso ponto de partida para começarmos a pensar e a trabalhar nestas novas explorações — uma maquete que começou a 27 de agosto do ano passado e que fomos desde aí trabalhando os dois juntos.
Estamos perante uma nova experiência de estúdio, um devaneio musical ou isto pode até marcar um ponto de viragem na tua linguagem estética? No plano geral das coisas, o que representa esta faixa para ti?
É sem dúvida um novo caminho e um lugar que gostava de explorar cada vez mais. Quando estás mergulhado no processo fica um pouco difícil dizer o que é ponto de viragem ou não, a magia está no explorar sem grandes impedimentos, de sentir que é um afastamento ou uma repetição da tua linguagem. Agrada-me que eu e o Fred tenhamos conseguido chegar juntos a este sítio e explorar uma musicalidade que também existe em nós e à qual ainda não tínhamos, se calhar, dedicado força suficiente para a materializar, o que me faz acreditar também que será uma estética que vamos continuar a explorar juntos.
O tema é-nos apresentado como uma forma de te despedires de Miguela. Já tens mais ou menos ideia de quais vão ser os teus próximos passos ao nível de futuros lançamentos?
Para já, “LABIRINTO” é o lançamento que nos atira para um pouco mais longe do álbum, sim, e que marca esse passo em frente, mas o caminho ainda não está muito bem definido do que virá a seguir. Mas está a ser trabalhado, dia a dia. Há novas músicas e novas ideias por vir, sem grandes pressas ou pressões do que quer que seja.
E com o encerrar do teu primeiro grande capítulo, que balanço fazes? Como sentes que o álbum foi recebido e como tem sido andar na estrada a apresentá-lo?
A balança tombou mesmo para o lado bom, foi um trabalho muito reconhecido. Sinto-o com muita felicidade, foi sem dúvida um álbum muito bem recebido, compreendido e acolhido, e isso não só me encheu de felicidade como me tranquilizou. Desde a crítica muito positiva aos concertos ao vivo — o poder olhar e ouvir as pessoas a cantar as letras e a sentirem as músicas como se fossem delas (que é o que é para ser, também!) foi e continua a ser muito especial para mim, mesmo.
O teu próximo concerto está marcado para o Ageas Cooljazz. A coisa vai desenrolar-se mais ou menos dentro dos mesmos contornos das datas anteriores, ou andas a preparar novidades para incluir no teu set?
O concerto no Ageas Cooljazz ainda vai estar muito próximo das apresentações anteriores, na verdade, e muito sustentado à volta do Miguela. O que não invalida algumas novidades no alinhamento, seja o “LABIRINTO” ou música ainda por editar.