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Fotografia: Diogo Sousa
Publicado a: 16/04/2024

A electrónica em comunhão com a natureza.

[Estreia] “Castelo Branco 2” é o novo single de PMDS

Fotografia: Diogo Sousa
Publicado a: 16/04/2024

Realizado por Amarino França, “Castelo Branco 2” é o videoclipe que PMDS hoje estreiam no Rimas e Batidas e mais um importante passo rumo a Música Para Miradouros, o álbum que editam pela Marca Pistola no dia 22 de Maio. Já esta sexta-feira, 19 de Abril pelas 21 horas, o grupo leva a sua electrónica contemplativa até ao palco do Maus Hábitos.

Após a estreia com um disco homónimo em 2011, Pedro Sousa e Filipe Caetano afastaram-se do processo de criação enquanto dupla e só em 2019 voltariam às edições, com Not Yet. O terceiro disco não demorou tanto e Caloura viu a luz do dia um par de anos depois, em 2021. Ao longo destes lançamentos, os PMDS foram alternando entre momentos mais virados para a ambient music e outros em que não dispensavam a batida, mas sempre com uma sonoridade envolta em risco e experimentação.

No próximo LP, os dois maquinistas fazem uma vénia a Brian Eno ao criar um alinhamento conceptual, musicalmente idealizado para evocar a beleza natural dos “seus” Açores. Música Para Miradouros é feito de uma electrónica que se inspira na natureza e em processos de criação mais orgânicos e conta já com dois dos seus temas cá fora, com este novo “Castelo Branco 2” a suceder à amostra dada no início deste mês, “Pico dos Bodes 3”. Gravadas num só take, as 13 faixas que compõem o álbum que se segue nas contas de PMDS foram captadas em diferentes locais em locais da ilha de São Miguel — Castelo Branco, Vale das Lombadas, Sete Cidades e Pico dos Bodes.



Das paisagens naturais de São Miguel até ao Maus Hábitos, no Porto, vai uma grande distância. Como é que esta música que nasce com vistas desamparadas se relaciona com espaços fechados, num ambiente de clube?

Desde sempre a nossa música é considerada etérea, cinematográfica, quer nos álbuns de estúdio quer ao vivo. Adoramos o desafio de transportar as pessoas de um espaço fechado ao seu próprio imaginário. Não o fazemos com a plena consciência disso, mas vemos e ouvimos, na reação do público, que conseguimos fazê-lo. Relativamente ao álbum que está a sair, esse trabalho é um pouco mais desafiante porque toda a música foi pensada e tocada para espaços amplos, mas a capacidade da música nos remeter para esses lugares está lá.

De igual forma, dos vossos primeiros passos até ao presente vai também um longo percurso. Podem fazer um balanço do vosso caminho até aqui, destacando passos que considerem ter sido marcantes nessa jornada?

Em 2011 editámos o nosso primeiro disco pela Thisco, que ainda é malta amiga e tem um catálogo que nos orgulha fazer parte. O nosso som era mais industrial, sinal de outros tempos também, mas algumas das características que ainda nos definem já lá estavam, pelo menos nas faixas mais contemplativas ou ambient. Seguidamente deu-se um interregno na criação musical de PMDS e em 2017 fomos desafiados a tocar no Festival Tremor, porque os organizadores conheciam o nosso primeiro trabalho. Isso impulsionou a necessidade de novas músicas, novas sonoridades, novas abordagens. Nesses anos adquirimos algum equipamento que nos permitiu tomar outros caminhos, mais orgânicos, sem recurso a computadores, tudo feito ao vivo, e esse caminho agradou-nos muito. A partir daí demos mais concertos e continuámos a maturar o nosso som. Culminámos essa fase com a edição do álbum Caloura em 2021 pela Variz, que foi extremamente bem recebido e o formato físico esgotou em menos de 6 meses. A seguir surge a ideia que está a ser revelada agora, Música Para Miradouros, em conjunto com a editora açoriana Marca Pistola, um disco gravado em sessões ao vivo no meio da natureza, na ilha de S. Miguel — Açores.

O vosso método de gravação deste novo trabalho — gravação directa para dois canais, rejeitando possibilidades de edição posterior — revela um comprometimento absoluto com o momento, que terá mais em comum com certas correntes de jazz do que com a electrónica, que vemos muitas vezes como resultante de processos criativos laboratoriais, mais dependentes de experimentação, tentativa e erro. O que podemos ler nesse compromisso que assumem em Música Para Miradouros?

Para quem tem menos conhecimento técnico, gravar música diretamente para um duas pistas (two tracks) significa que não há qualquer possibilidade de isolar um som, um erro, um instrumento demasiado alto, etc., porque toda a música está gravada na mesma pista em stereo. Como é referido na pergunta, é um compromisso total com o momento e com o lugar. Talvez tenha sido uma forma de combater este mundo que esta cada vez está mais editado, perfeito, artificial. Por outro lado traz uma organicidade ao nosso som que não teríamos conseguido num ambiente de corte e costura do estúdio.

No título do vosso álbum há também uma certa alusão a um carácter funcional de alguma música e remete-nos imediatamente para o Music For Airports do Brian Eno ou para alguns registos de library music. Foi propositada, essa alusão? E que tipo de ligações existem entre o que fazem e a ideia de música ambiental preconizada por Eno?

Sim, foi absolutamente intencional a alusão, uma homenagem à musica que tem um propósito, um lugar e um estado de espírito para ouvir. Para ouvi-la não será necessariamente preciso estar num miradouro (como em Music For Airports não precisamos de estar num aeroporto) mas aquilo que passa é um som de horizonte distante, meio nublado, onde os limites e o objectivo não são tangíveis, pelo menos à primeira vista.

O que vão levar ao Maus Hábitos? Presumo que a ideia de “repertório” não seja central na vossa música…

Nos próximos meses queremos e iremos levar o nosso som o mais longe possível. Na bagagem estará o novo álbum e também muita música que já nos define ao vivo. Apesar de nem sempre ser claro, as músicas que tocamos ao vivo têm um estrutura predefinida, mas a partir daí deixamo-nos ir, consoante o dia, o estado de espírito, o local e a reacção do público. Também temos algumas faixas mais rítmicas que, sem querer exagerar e dizer que são dançáveis, certamente fazem abanar a anca!

Em termos de ferramentas, como foi feito o Música Para Miradouros e em que é que esse “arsenal” sónico difere — ou não — daquele que vão agora usar em concerto?

Como dizemos numa das nossas biografias, somos gearheads, gostamos desses pormenores de equipamento, sintetizadores, pedais de efeitos, modulares, tapes. Tentamos simplificar para os concertos, mas é mais forte que nós, levamos muito equipamento (para duas pessoas) porque também consideramos ter um efeito importante sobre a própria música. O facto de usarmos os instrumentos cria uma ligação e um interesse, tanto sónico como cénico, que entendemos ser muito mais forte do que é criada por um laptop e não abdicamos disso. Tudo é passível de ser modificado em tempo real e também é possível que de vez em quando nos enganemos, mas é isso que sempre significou tocar ao vivo, certo?

Há algum convidado previsto para esta apresentação? Há pouco falávamos em jazz e recordo, no âmbito do Tremor, um concerto colaborativo com um saxofonista… Algo a repetir?

Em 2021 fomos responsáveis por fazer o Tremor Todo o Terreno (performance do Festival Tremor onde, após um trilho feito pelo público, os artistas dão um concerto enquadrado na paisagem) em colaboração com o saxofonista Luís Senra e gostámos imenso de trabalhar com ele. O Senra tem uma abordagem ao sax que encaixou muito bem com a nossa música, por isso tínhamos de lhe pedir nova colaboração para Música Para Miradouros. Uma das sessões foi gravada com ele (vídeo disponível em breve) e ficou incrível. Já o convidámos para tocar connosco no concerto de apresentação do disco em S. Miguel e gostaríamos muito que ele nos pudesse acompanhar nos concertos.


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