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Fotografia: Rafaela Ramos
Publicado a: 10/11/2023

É um disco de seis faixas, com grande presença de Lil Noon, e baseado na cena jersey club.

Está aí Grand Bleu de Maudito, um EP “descomprometido” e de liberdade artística

Fotografia: Rafaela Ramos
Publicado a: 10/11/2023

Três anos depois de Troca Tintas, o EP feito a meias com Beiro, Maudito está de volta aos discos com Grand Bleu, um projecto onde explora o jersey club, um subgénero contemporâneo do rap, que conta com instrumentais acelerados, com kicks vincados, e que incorpora elementos da música house. Trata-se de uma edição da CRVVO Records que nasceu por acaso, depois de o artista desenvolver uma colaboração com Lil Noon, que começou por resultar no single “Guest”.

Era para ser um tema solto, até porque Maudito estava a preparar o seu primeiro longa-duração um álbum que será mais denso e introspectivo , mas acabou por se deixar contagiar pelas “ondas” do jersey club. “Comecei a ir mais vezes ao estúdio do Noon, que, por ser uma pessoa mais nova, mostra-me vertentes diferentes do hip hop, trap, mumble, plug… Algumas interessam-me, outras nem tanto. Na altura estávamos a ouvir jersey [club], comecei a curtir, e uma vez fui lá e experimentámos fazer um som”, conta o artista de 29 anos ao Rimas e Batidas.

De forma muito orgânica, surgiu o interesse em explorar esta sonoridade com um EP “descomprometido”. Maudito salienta a vantagem de poder “explorar diferentes vibes” com os EPs que tem vindo a fazer e de isso, no fundo, lhe permitir encontrar diversas facetas criativas e sonoras dentro do seu projecto artístico. “Também estou a crescer, mudei de zona, vivências, pessoas… Vais crescendo, conhecendo mais, e tens alturas em que te apetece fazer coisas diferentes, até porque é horrível estares sempre preso.”



Enquanto não mergulhava a fundo no álbum mais “down”, optou por criar temas “extrovertidos”, de modo a poder incluir punchlines e egotrip, também com um lado mais satírico, que faz parte do seu cunho desde que começou a assinar como Weis há mais de uma década. O conceito para Grand Bleu surgiu do verso “Conquistei praia, hoje quero oceano”, do refrão da faixa homónima, referindo-se aos terrenos musicais já alcançados por si. A aura refrescante e wavy em torno desta sonoridade fez o resto. Não tardou a surgir a ideia de materializar o disco com um perfume na capa, que foi concebida pelo designer (e também DJ) Banu

O EP foi composto num par de meses, já que Maudito sentia “fome” de lançar música nova. Alguns temas foram construídos de raiz, mas o rapper também usou estrofes do seu arquivo que aqui ganharam uma nova vida. “Por exemplo, já tinha o ‘Vem Só’ antes do ‘Guest’, só que não sabia como é que o iria lançar.”

Lil Noon, jovem produtor que se tem notabilizado mais na sua dupla com João Não (que também participa neste EP, na faixa “Balão”), influenciou Maudito a abrir-se mais à “experimentação”. “Ele disse-me: ‘Curtia de te puxar para uma cena em que não rimasses, em que estivesses mais a cantar.’ Começou a puxar mais por mim nesse aspecto.”



Por outro lado, Maudito tinha começado a ter aulas de canto com Matheus Paraízo, já a pensar no futuro álbum que pretende concretizar. “Queria desenvolver mais a parte das melodias e harmonias. Sinto que sempre fiz muito rap para rappers, bué técnico, e torna-se cansativo ouvir. São sons que os rappers acham piada porque estão atentos a essa parte, mas melodicamente não é uma cena que entre sempre fixe no ouvido. E sentia que não conhecia bem a minha voz, até onde é que poderia ir.” 

Quando este EP entrou repentinamente nos planos, Matheus Paraízo acabou por fazer produção vocal da maioria das faixas e o disco foi regravado, o que atrasou o lançamento mas resultou, de certa forma, no trabalho mais elaborado e profissional de Maudito até ao momento. Embora ainda não componha instrumentais, o qual pretende começar a fazer eventualmente, Maudito já mexeu na estrutura destes beats e deu inputs de produção sonora de modo a que tudo tivesse o seu cunho autoral. Tsubasv, Beiro e Sien Flamuri são os outros que participaram na construção dos instrumentais. Para a mistura e masterização, recorreu aos serviços de Kidonov, o que terá feito “uma grande diferença”. O resultado chegou esta sexta-feira e em breve haverá um formato físico peculiar de Grand Bleu. A apresentação acontece a 18 de Novembro no Passos Manuel, com DJ sets de Tsubasv, Cherry Knot e Fohune; já a 14 de Janeiro, há nova data ao vivo no Porto, desta vez no Maus Hábitos, no âmbito do ciclo Havana Beat.

Por estes dias, sente-se tentado a explorar outro subgénero do rap que despontou nos EUA, o new jazz, mas por outro lado está determinado em focar-se no álbum que, sem pressa, deseja construir. Conta que tudo começou com um interlúdio e que até já tem uma intro e uma outro, além de vários temas (alguns dos quais com convidados) que poderão entrar, mas o disco ainda não está estruturado nem será para breve. “No futuro vou querer olhar mais para dentro e analisar o que sinto,” reforça.


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