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Texto: ReB Team
Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 26/05/2021

Rir para não chorar.

Domi sobre “Caixa”: “Vermos os nossos a passar por esta situação, mesmo não sendo na nossa área, afecta-nos bastante”

Texto: ReB Team
Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 26/05/2021

“Caixa” é o mais recente single de Domi e conta com a produção de SUPA DUST MAN. O videoclipe tem a assinatura de Victor ZK (da BDG Studios).

Há dois anos, o rapper algarvio unia forças com Charlie Beats em “Gato Por Lebre“, faixa que antecipava uma paragem nos lançamentos em nome próprio por parte de Henrique Domingues e que se iria estender por todo 2020.

Em 2021, a realidade mostra-se bastante diferente. Logo em Janeiro, Domi colocou um ponto final nessa paragem com “Ondas Da Praia“, tendo ainda contracenado com Mirai e Alcool Club nos meses que se seguiram. Agora entra em jogo a “Caixa”, uma reflexão em jeito de sátira e carregada de ironia em torno da actual situação sócio-económica provocada pela pandemia do COVID-19.

“Este som é muito satírico. É, provavelmente, o som mais crítico que eu devo apresentar. Critica vários problemas da sociedade, mas de uma forma muito cómica que transparece a minha posição em relação a esses temas”, começa por explicar o MC através de um comunicado. “A ironia é usada como uma defesa, porque acho que é uma postura. Melhor do que dramatizar é deixar-nos tomar por esses sentimentos negativos, porque há coisas que, apesar de serem muito difíceis nas nossas vidas, se levam melhor a rir do que chorar. É também um apoio a todos os meus colegas da cultura e não só, a quem se identifique e esteja a passar pela mesma situação e acho que foi esse o meu principal objetivo.”

Ao Rimas e Batidas, DOMI abordou mais a fundo a criação do seu novo single e fez um balanço positivo sobre as duas sonantes parcerias que teve a oportunidade de amealhar este ano.



Esta “Caixa” é a reacção a uma situação pela qual muitos artistas tiveram de passar desde o início da pandemia: lidar com a incapacidade do governo em ajudar quem cria cultura. Devem ter existido muitos factores que te levaram a escrever esta faixa, mas houve algum em especial que mexeu contigo?

Claro que sim, ainda que não tenha nada a ver com a cultura. Foi uma situação em particular, uma situação pessoal, que infelizmente aconteceu em minha casa, com o negócio dos meus pais — os meus pais vivem do turismo. Fomos bastante afectados pela pandemia. Isto veio quebrar imenso as receitas e veio mexer um bocadinho com a dinâmica. Também tínhamos um imóvel à venda e o negócio não se concretizou por causa da pandemia. A questão das moratórias, a questão do layoff, a questão de ter de se fazer tudo e mais alguma coisa a nível burocrático para se conseguir um apoio, quando nos são criadas todas e quaisquer dificuldades para que esse apoio nos seja prestado. Obviamente que isso mexe connosco. Portanto, não foi tão pelo meio à minha volta [que fiz esta música]. Ironicamente, não foi tanto pelo meio artístico, pela minha situação e a de todos aqueles que fazem arte, que é provavelmente uma das mais difíceis. Foi por outra completamente diferente mas que me afectou de igual forma. Porque isto de vermos os nossos a passar por esta situação, mesmo não sendo na nossa área, afecta-nos bastante. Acho que foi o motivo que puxou pela alavanca para que eu começasse a escrever esta música, que depois também abrange outros problemas.

Apesar de todos os problemas, tens tido um ano com participações louváveis. Começando pela faixa com os Alcool Club: imaginamos que fosses grande fã do grupo. Como é que aconteceu esta colaboração? E o que é que significou para ti?

Sim. Apesar de tudo, tem sido um ano bastante motivante. Tem sido um ano de muita criação. Tem sido um ano de muito trabalho, a nível de estúdio. É talvez o ano mais trabalhoso, em que eu me tenho estado a esforçar mais. Felizmente consegui estabelecer o contacto com o Praso, porque ele vive em Portimão, curiosamente, apesar de ser de Sines. Nós trocámos uma ideia simples, só naquela de “olha, qualquer dia passa cá em casa. Bora ouvir uns beats e não sei quê”. Tanto que a minha ideia nem foi logo a de fazer um som com os Alcool Club, foi mais numa de conhecer a pessoa e o artista, conviver e tentar trabalhar, mas mais ao nível de ele me dar um beat para eu usar. Fomos criando uma relação, fui indo lá a casa… E eu sou um enorme fã de Alcool Club, deles todos. Portanto, todo esse processo foi muito bom, no sentido em que eu me estava a aproximar de um meio que eu queria conhecer. Ao longo do processo fiz até uma faixa com o Praso que entretanto ainda não saiu, foi a primeira coisa que desenvolvemos.

Numa das vezes em que estava lá em casa surge o convite [para colaborar com Alcool Club], eles estavam a fazer o álbum. Depois de eu ter feito esse trabalho com o Praso, ele decide então, “olha, curtia que tu entrasses no álbum”. Claro que eu disse que sim, sou um enorme fã deles e considero-os os reis do underground. É inexplicável poder fazer um som com alguém que tu consideras como míticos titãs to hip hop tuga. Foi um prazer enorme desenvolver essa faixa. Não tive a possibilidade de conhecer o Sangui Bom, só conheci o Montana e o Praso, que foi com quem desenvolvi a faixa, na casa deles, no ambiente deles, lá no estúdio do Artesanacto. [É um estúdio que] não tem, aparentemente, nada de especial, mas sem dúvida que é um ambiente que te inspira e do qual tu bebes muito só de lá estar a ouvir e a conversar com eles, a desfrutar do momento. Flui muito naturalmente. É inexplicável e estou muito agradecido por ter o conseguido. Isto para mim é quase como chegar ao topo. É essa a sensação que fica.

Dos mais velhos para os mais novos: acabaste numa produção ambiciosa com o Mirai. Já eras fã do trabalho dele ou só conheceram-se para a criação deste tema? E como é que decorreu a gravação da faixa e do videoclipe?

Já era fã do Mirai. Já tinha ouvido as coisas dele e gostava, particularmente, da cena fresh que ele trazia, das melodias e do auto-tune. Para mim, é dos rappers que melhor clica com essa nova técnica. E isso cativou a minha atenção. Depois, ele também entrou para a Universal e eu mandei-lhe logo mensagem. “Bem-vindo! Se precisares de alguma coisa…” E pronto, começámos a estabelecer mais ou menos uma relação. Entretanto, eu andava a escolher uns beats do Lazuli, e avancei naquela de “sei que tu também trabalhas com o Lazuli e eu curtia de partilhar uma faixa contigo. O que me dizes disso? Curtes da minha cena?” Foi um bocadinho por aí. Falámos à distância. O Lazuli, depois, apresentou-nos o beat e ele já tinha um verso escrito. Aquilo cativou-me logo muito. Pensei, “é isto mesmo”. Escrevi o meu verso consideravelmente rápido, para aquilo que eu costumo fazer, e enviei-lhe logo. Ele ficou maluco e disse, “esse faixa vai mesmo ter que ir para a frente”. Foi aí que se iniciou o processo todo. Eu fui lá ter com ele, estive uma vez em casa dele, lá em Rio de Mouro. Estivemos na cave a chillar. Também foi bom para criar uma relação fora do meio profissional e conhecer um bocadinho mais o Mirai. Ele é uma pessoa incrível, super bem disposta, super boa vibe e muito engraçado. É bom trabalhar com ele. Eu andava a gravar no Supa Dust Man, na Margem Sul, e convidei-o a ir lá, depois de já termos mais ou menos a faixa acabada. Gravámos e fomos estabelecendo, depois disso, uma relação de amizade.

O vídeo veio de um processo muito fixe. Eu nunca tinha trabalhado com o Cheezy [Ramalho] e ele é uma pessoa também muito profissional. Foi ele que idealizou e visualizou todo o cenário do videoclipe. Ele teve a ideia do assalto. É uma pessoa muito criativa e eu nunca tinha trabalhado com um videomaker que fizesse um guião e estivesse inteiramente responsável por ele. Se bem que foi sempre tudo feito através de conversas e chamadas, em que nós íamos discutindo… “Olha, eu vejo ‘isto’ ou ‘aquilo’ no vídeo”. Fomos sempre partilhando ideias, por isso acabou por ser um conjunto das ideias de todos. Mas a direcção e visão principal é, sem dúvida, do Cheezy. E mesmo depois, no dia de filmar o vídeo, foi incrível. A loja era incrível, estavam também algumas outras pessoas a trabalhar naquilo e que eu ainda não conhecia… É sempre bom para criar novos contactos, novas amizades. Gostei muito de trabalhar com eles. Foi um dia cansativo, porque é one shot e teve de ser repetido muitas vezes. Mas foi muito gratificante, porque o trabalho final foi, provavelmente, o vídeo mais completo e tecnicamente mais bem conseguido que eu já fiz. Nesse aspecto foi muito bom. Espero repetir a experiência, tanto com o Mirai como com o Cheezy. Iremos repetir certamente.


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