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Texto: Paulo Pena
Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 12/01/2021

A paragem enquanto método de reinvenção.

Domi sobre “Ondas Da Praia”: “Eu quis beber da água de outras fontes porque me senti bloqueado”

Texto: Paulo Pena
Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 12/01/2021

2021 trouxe novidades de Domi. O rapper algarvio, que em 2020 havia lançado apenas um tema a meias com nastyfactor, “quem sabe“, arranca o ano com o primeiro mergulho em “Ondas da Praia” (com produção de Charlie Beats), que é um dos vários sons em que trabalhou no ano transacto, como nos revelou.

E como, já se sabe, uma onda nunca vem só. Vem aí maré alta de Domi. 



Começas 2021 com um novo single, num registo longe daquilo que nos habituaste. O “Ondas da Praia” é o início de um projecto maior? 

Não consigo ainda responder com assertividade a essa pergunta, isto porquê? Porque no início da criação deste single e de outros – foi na altura em que também estive parado –, o objectivo não era, de todo, trabalhar para algo maior, com um sentido comum. Foi mesmo a liberdade criativa de realizar o maior número de faixas possível, com produtores diferentes, rappers diferentes, que eu ainda não tinha conhecido, ou seja, eu quis reeducar-me, reinventar-me, beber da água de outras fontes, porque me senti um bocadinho bloqueado. A verdade é que depois, ao longo deste processo, à medida que eu fui criando as faixas e acumulando faixas, realmente começa-se a formar a ideia de que, sem querer, pode ser, ou não, o primeiro álbum do Domi. Mas é realmente uma pergunta que quero deixar na incógnita, porque nem eu próprio tenho a certeza. Acho que vai depender muito do decorrer deste ano, mas não sendo algo maior, é muito trabalho; pode não ser um álbum, mas podemos ter a certeza que o Domi esteve a trabalhar e tem trabalho para apresentar. 

De onde surgiu esta abordagem? O Charlie Beats passou-te o instrumental e deixaste-te levar, ou já tinhas algo deste género em mente? 

Esta faixa tem uma história um bocadinho longa, o que faz alterar precisamente a abordagem. Inicialmente era um beat do Khapote, e depois, durante a minha paragem, quando voltei, o beat já estava a ser utilizado. Ele reinventa fazendo outro beat ao qual depois já não correspondi; não consegui desbloquear criativamente e fazer algo naquele beat. Mas gostava imenso da ideia das “ondas da praia”; o refrão não era o mesmo, mas a ideia era praticamente a mesma. E então, quando apresento essa ideia ao Charlie, ele surge com esta nova abordagem, uma sonoridade completamente diferente daquela que era no original, e consequentemente tive de fazer uma abordagem completamente diferente daquela que tinha pensado para o beat do Khapote. Mas a verdade é que, como a ideia foi apresentada ao Charlie, e ele percebeu-a, o beat, esta nova abordagem, este novo género e sonoridade que ele me traz, vem corresponder perfeitamente à mensagem que eu queria transmitir. Portanto, não me foi estranho, mas não foi algo que eu tenha pedido, do género “olha, quero um beat mais assim, com esta sonoridade” – não; foi uma coisa que ele me apresentou, e eu consequentemente fiz a minha própria abordagem. 

Como foi o processo desta faixa? Foi difícil encontrares alguma segurança na voz num tema assumidamente cantado? 

A resposta vem um bocadinho colada à anterior, no sentido em que quando ele me apresenta este género e este tipo de sonoridade… precisamente porque ele já há algum tempo que me andava a dizer, “Domi, acho que tu devias cantar mais nas tuas músicas; tens voz para isso, cantas afinado”, e hoje em dia, no rap, é uma mais-valia cantar, ao contrário do que era noutros tempos. E eu acho que isso é uma arma da qual não deves prescindir. Eu concordo plenamente com o que ele disse, em faixas como a “Não Esqueço” já apresento melodias e uma musicalidade que é perceptível e que me é uma coisa natural – porque eu não oiço só rap; oiço muita música, consumo muitos outros estilos de música. Ou seja, para mim cantar não é, de todo, uma coisa estranha. Depois, no processo, quando eu começo a criar a música, vejo que rimar da forma convencional não é a melhor forma de puxar todo o potencial da música. É, então, que decido arriscar e fazer assumidamente uma coisa mais cantada, mas não tive dificuldade, não senti insegurança, porque na verdade é uma coisa que me é natural e, aliás, até antes do rap – há mais tempo que canto bem do que rimo bem. 

Terminaste 2020 com uma excelente participação no álbum do nastyfactorA Vida dos Felizes, com a faixa “Quem Sabe”. Estás a planear mais colaborações para breve? 

Exactamente. Foi a única música que lancei em 2020, e foi com o nastyfactor (grande, grande nastyfactor) – foi uma das pessoas que, como eu disse nas outras respostas, naquele processo de me reeducar e reinventar, encontrei nessa viagem e que conheci mais; já tinha conhecido, mas foi uma pessoa com quem comecei a trabalhar, e que estava a preparar o álbum dele. E surgiu esta faixa, que foi um dos trabalhos que foi realizado e que saiu durante o ano de 2020, e foi o único que saiu, e muito bem. Excelente faixa, e considero o álbum dele um dos melhores de 2020, sem dúvida. E sinto-me mesmo honrado por ter trabalhado com ele. 

Planos para este ano novo? 

Planos para 2021… É, sem dúvida, apresentar o trabalho que fiz em 2020, compensar o tempo em que estive parado – porque não estive parado; estive a trabalhar. E principalmente continuar a conhecer boas pessoas dentro do meio, a confraternizar e ter experiências, profissionais e além disso. É mesmo trabalhar e ouvir novas ideias de outras pessoas com quem ainda não trabalhei, e com quem ainda quero trabalhar.


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