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Fotografia: Guilherme Cabral
Publicado a: 03/03/2024

O rapper da Madorna percorreu a sua discografia ao longo do espectáculo.

Dillaz no Coliseu dos Recreios: uma noite de consagração em modo best-of

Fotografia: Guilherme Cabral
Publicado a: 03/03/2024

Tocar num palco como o Coliseu dos Recreios em nome próprio é sempre um marco, sobretudo quando se trata da primeira vez. Para Dillaz, rapper habituado aos grandes palcos por esse país fora e com mais de 10 anos de estrada, significou sobretudo uma consagração por tudo aquilo que tem vindo a fazer (e a conquistar) no seu percurso. Foi uma noite de celebração da sua carreira, uma jornada que percorreu a sua discografia, evocando memórias em modo retrospectiva.

Se há escassas semanas tínhamos visto um ProfJam a apostar mais na teatralidade e na componente cénica para as suas actuações especiais na Aula Magna, aqui assistimos a um Dillaz a focar-se sobretudo na componente musical. Ainda assim, a noite arrancou com uma interpretação de “Gangster”, tema do novo álbum O Próprio, em que vimos um Dillaz projectado a cantar o tema, até que o próprio apareceu de rompante em palco para gáudio dos muitos fãs que tinham esgotado a sala.

Sempre acompanhado por Zeca, irmão de rimas de há muitos anos, tinha como pano de fundo, num patamar elevado, uma banda de luxo composta pelos irmãos GOIAS, Monksmith, Xicão e Jörg Demel que adaptaram irrepreensivelmente todos os instrumentais, acrescentando camadas e texturas, dando corpo e vida aos beats, desde a incrível guitarra de “Protagonista” à pulsão enérgica de “Pula ou Levas Bléu”, da luxúria de “Hennessy” ao embalo romântico de “Direção Paris”. Não serão muitos os exemplos com arranjos tão bons num concerto de rap em Portugal.

Focado e experiente, Dillaz procurou sempre incentivar o público a cantar consigo afinal, ao contrário de muitos outros palcos por onde passa, teve ali uma plateia inteiramente dedicada a si, com as letras na ponta da língua e uma vontade ímpar de prestar tributo à sua obra. “Os meus pais estão lá em cima, cantem mais alto, Coliseu!”

Ao vivo, André Chapelas Neto tem uma entrega imaculada. Não há uma palavra ao lado, uma rima esquecida, uma nota fora de tom. A sua voz densa estava cristalina, ouvindo-se na perfeição cada verso, o que representa um tremendo trabalho da equipa técnica e também simboliza uma maturidade no hip hop português, com um espectáculo bem ensaiado e oleado, fruto também de muita rodagem e traquejo por parte de Dillaz e companhia.

O alinhamento recuou até 2012 para temas como “Pessoas Sentidas” ou “Carta”, passou por canções como “Pedras no meu Sapato”, “Clima”, “Se Olhares Para o Caminho”, “1100 Cegonhas” ou “Arena”, até chegar às faixas mais modernas do último par de álbuns. Sim, já daria para editar um best-of. Foi uma verdadeira celebração das várias fases da carreira de Dillaz, que hoje, naturalmente, tem um público distinto, e também aqui o seu percurso acaba por representar muito do que se tem passado no panorama mais mainstream do hip hop tuga. 

Dillaz é da geração que apareceu com estrondo há uma década e transitou de instrumentais mais clássicos para estéticas mais trap o auto-tune, por exemplo, é uma ferramenta a que recorreu bastante em O Próprio e a sua ascensão levou-o até aos terrenos da pop, agradando a um público mais ecléctico, abrangente, até feminino, o que é claramente positivo.

Embora muitos dos presentes fossem apenas crianças quando, há 11 anos, Dillaz lançou “Não Sejas Agressiva”, o seu hino superou o teste do tempo e foi cantado a plenos pulmões pela multidão presente no Coliseu dos Recreios, desde a plateia às galerias, passando pelos camarotes. O mesmo aconteceu com “Colãs”, um dos singles d’O Próprio, certamente o mais diferenciador, uma rumba que evoca um lado mais latino e que ressoou bem pelas paredes desta emblemática sala de espectáculos.

Os convidados, claro, revelaram-se também um ponto-chave nesta celebração especial que Dillaz quis que fosse de todos. Plutonio, Julinho KSD e Tiwi foram convocados para interpretarem os temas em que entraram no novo álbum de Dillaz; Regula fez notar a sua presença para uma sessão de “Wake N’ Bake”; Bárbara Bandeira veio ao volante de “Carro” no momento mais pop da noite, mostrando definitivamente que Dillaz está num patamar mais convencional, em que os cânones tradicionais do rap cada vez importam menos. 

Com temas introspectivos, canções que falam ao coração e vários bangers pelo meio “Cantona”, “Habibi” e “Maçã” também foram aclamadas — este foi um espectáculo com um alinhamento cuidado e equilibrado, sem máculas, recheado de versos memoráveis, com uma direcção musical competente e, acima de tudo, um espírito de comunhão em torno da música de Dillaz. Missão cumprida para o rapper da Madorna, que já pode tirar esta entrada da sua bucket list. Segue-se o Coliseu do Porto, a 15 de Março.


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