Dellafyah está bem acompanhado no seu mais recente disco. Fyah Like Flame saiu no passado dia 7 de Julho e conta com a curadoria artística de Camboja Selecta.
Este é o primeiro registo do rapper e produtor, mais conhecido por Kilu, sob o pseudónimo Dellafyah desde Hollow, que data de 2018. O álbum recupera a técnica do finger drumming, à qual o veterano se tem dedicado nos últimos anos, que lhe atribui um balanço mais orgânico e humano, por ter as batidas tocadas ao vivo, sem a ajuda ou as “correcções” de tempos que facilmente encontramos nos habituais softwares de criação musical.
Camboja Selecta, que havia colaborado recentemente com o artista em “Fatura” ou “Mete o Groove”, ambos extraídos de Nem Sei, é o braço direito do beatmaker neste Fyah Like Flame, ao assumir a selecção dos artistas convidados a integrar o projecto e dirigir ainda as sessões de gravação e edição necessárias para que todos tivessem o seu lugar garantido nesta viagem. Nos 12 temas que compõem o LP podemos encontrar versos de Jackpot BCV, Tilt, Muleca XIII ou Brain da 6eniou$ e os cuts dos DJs Kronic, Ketzal ou do próprio Camboja.
Através de uma troca de mensagens, enviámos uma mão-cheia de questões a Dellafyah para perceber melhor o que esteve na base do seu mais recente trabalho.
Começo por dizer que te noto cada vez mais activo, entre vídeos, singles e discos que lanças maioritariamente no YouTube. Sentes que estás a viver um dos períodos de maior fulgor criativo da tua carreira?
Sinto que sim, que com tudo o que tenho aprendido ao longo dos anos desfruto cada vez mais de criar música, de explorar mais o finger drumming. Não estou todos os dias a fazer som, apenas quando sinto que quero elaborar algum disco em específico.
Lançaste recentemente o Fyah Like Flame, que conta com a curadoria do Camboja Selecta. De que forma é que o input dele contribuiu para o álbum assumir a sua forma final?
Inicialmente, este disco era para ser composto apenas por instrumentais tocados em finger drumming e acompanhado pelo Camboja Selecta, ao vivo. O disco foi apresentado em 2019, em Lisboa, em diferentes clubes e bares. Mais tarde, eu gravei os beats, enviei para o Camboja Selecta e, naturalmente, ele começou por ir convidando DJs do colectivo Scratchers Anónimos. Foram também surgindo MCs. Foi ele quem assumiu a maioria das captações de vozes e cuts, a edição, o escolher o melhor que cada um criou e gravou. Daí a sua sensibilidade musical e auditiva ter sido importante neste disco.
O finger drumming volta a ser uma peça fulcral na concepção deste trabalho. De que forma é que sentes que esse processo de tocar os beats ao vivo enriquece o teu som?
É algo que comecei a fazer desde 2013. Lembro-me de ter tocado ao vivo no OutJazz, na Galeria de Arte Urbana, logo em 2015. Comecei por ir partilhando no meu canal do YouTube, Dellafyah Aka Kilu, vídeos de finger drumming. Como eu tenho que lançar samples e ao mesmo tempo tocar os drums e efeitos, é diferente de estar a programar música, sai mais natural, é orgânico, nada bate sempre “certo” e é 100% humano.
Em cima dos teus instrumentais podemos escutar os cortes e versos dos vários DJs e MCs que se reuniram contigo para finalizar esta obra. O que significa para ti acolher todos estes talentos, alguns deles de uma geração posterior à tua e, possivelmente, influenciados pelos teus primeiros projectos?
Foi um grande prazer ter todo este pessoal, super talentoso, neste disco. Para além de cada um ter uma admiração e respeito pelo que faço, eu também sinto o mesmo em relação a cada um deles. É sempre uma experiência maravilhosa existir esta partilha entre criativos e todos conseguirmos chegar a um resultado final.
Creio que este é o teu álbum com mais participações de sempre. É algo que te tens procurado mais ultimamente ou que te dê um gosto diferente, isto de criar em conjunto com outras mentes que vivem e respiram hip hop como tu?
Até agora sim e ainda bem que tomou este rumo. Adianto que, em breve, irá sair uma compilação com 14 artistas diferentes, com produção minha mas desta vez não em finger drumming. Nesta fase da minha vida sinto que contribuí muito para o hip hop tuga a solo e não só. Tenho estado a elaborar discos com participações de quem respira e vive esta cultura e é sempre bom ter outras mentes criativas em ideias e composições minhas.