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Fotografia: Sérgio Faísca
Publicado a: 07/03/2020

Uma sala em ebulição permanente com combustível de hits.

Deejay Telio no Coliseu de Lisboa: a conquista de um lugar melhor

Fotografia: Sérgio Faísca
Publicado a: 07/03/2020

“Família, eu vim do Vale da Amoreira”. Assim seco, sem som nem emoção, a frase proferida por Deejay Telio sugere apenas uma simples introdução, mas a verdade é que o contexto muda tudo: mal se sentiu a chegada de “Um Lugar Melhor”, já o concerto ia avançado, o jovem de 23 anos entrou com a sua progenitora em palco para provar-lhe que, de facto, sabe de onde veio, sabe para onde vai e sabe onde é que está. O momento mais emocionante da noite (que ainda teve direito a um inocente “gostas, mãe?” e, obviamente, muitas lágrimas) foi, no entanto, acontecimento isolado: tudo o resto foi festa desenfreada, a “boda” prometida que só dá espaço para dança e alegria.

Inicialmente em modo solitário no microfone, o cantor e produtor não demorou muito a chamar Deedz B, rapper com quem partilha créditos dos seus maiores hits. “Meu Ego”, “Não Atendo”, “Esfrega Esfrega”, “Molexado” ou “After Party” proporcionaram alguns dos momentos de maior euforia na plateia e nos camarotes e relembraram-nos que é quase impossível dissociar o autor de Feelings do membro mais proeminente da SAF, algo que se reflecte na maneira como comunicam em palco: com tanta estrada em conjunto, já quase nem precisam de olhar um para o outro para se entenderem.

Houve um rodopio de convidados e algumas passagens foram mais memoráveis do que outras: Jimmy P (em “Ano Novo”), Bispo (em “Com Licença”) e Rafa G (em “Cabron”) acrescentaram a energia certa, demonstrando um entusiasmo próprio de quem vê alguém que admiram a chegar a uma sala de espectáculos com um certo peso histórico associado.

Parte do grupo que pisou o palco, mas em trabalho a tempo inteiro, esteve um trio que ditou as velocidades a que os donos das palavras e as bailarinas se encaixavam: Anderson Ivo (teclados), Sali (bateria) e Dodas Spencer (guitarra). O último, guitarrista e director musical de Telio, arranjou as canções, incluiu outros balanços (que vão do rock ao reggae) na “karanganhada” e, raras excepções — há nódoas de azeite que não saem por mais que se lave… –, muito do alinhamento ganhou com essas mudanças. O nome deste “feiticeiro“, que está cada vez mais presente no imaginário nacional — recentemente deixou créditos em faixas de Nenny (“+351 (Call me)”) ou Julinho KSD (“Mama ta xinti”) –, merece destaque por todo o que trabalho que tem feito em estúdio, e fez questão de reforçá-lo em palco: em “Topo da Luxúria”, Dodas chegou-se à frente para um solo que soube a mergulho nas águas mais cristalinas que possam imaginar. Refrescante e revitalizante.

Exactamente uma semana depois do seu lançamento, D’Ouro, o último álbum de Telio, foi apenas uma das paragens (e o público reagiu bastante bem a temas como “Rata”, “Timidez” e as anteriormente mencionadas), não faltando no alinhamento o clássico “Que Safoda”, que, passados cinco anos, continua com a mesma força festiva.

O carisma do artista nascido em Angola é evidente ao vivo e não custa imaginá-lo a impor-se cada vez mais como uma voz válida de uma geração que perdeu a vergonha de sonhar não só com a lusofonia, mas com o resto do mundo, e que obrigou a que se escancarassem portas que estavam, até há bem pouco tempo, trancadas a sete chaves.

O protagonista da noite de sexta-feira começou “a tremer por todos os lados” e acabou, confiante, com o palco cheio, depois de uma celebração à nome grande com direito a chuva de confettis, correrias, aparato visual, crews de dança e convidados de luxo. Se a vida é realmente uma festa, Deejay Telio mostrou que é um dos melhores anfitriões que vão encontrar por aí.

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