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Publicado a: 02/01/2018

Conan Osiris: “Matava-me se fosse obrigado a fazer cenas sem sal”

Publicado a: 02/01/2018

[ENTREVISTA] Rui Miguel Abreu [TEXTO] Alexandre Ribeiro [FOTO] Direitos Reservados

O início de 2018 fica marcado pelo lançamento de Adoro Bolos, trabalho de Conan Osiris que saiu no penúltimo dia de 2017. Com o selo da AVNL Records, o projecto é composto por um conjunto de canções que demonstram o humor afiado do artista e a capacidade de compor instrumentais em que resgata com imaginação elementos diversos que incluem  – e para citar o texto que por aqui deu conta desta edição – “electrónica experimental, fado, dancehall, techno de feira xunga, ritmos dos balcãs ou funaná”.

“Não sabia ler uma pauta de música nem que tivesse a Cristina Ferreira a ameaçar-me com uma rebarbadora”, assegura em conversa com o Rimas e Batidas, um dado que pouco interessa para o que quer que seja: a música fala por si.

No mesmo plano que contemporâneos como PZ ou Conjunto Corona — a portugalidade e o risível aproximam-nos –, Conan Osiris movimenta-se com sinceridade pouco (ou nada) filtrada: “O meu barómetro é sempre ver quanto é que eu consigo chorar ou mandar me para chão enquanto estou a compor as cenas.”

 



Podes começar por te apresentar, por favor: quem és, de onde vens, para onde vais e como é que pretendes lá chegar?

Claro. Eu sou de Lisboa, vivi no Cacém… Para onde vou ainda não sei, mas, pelo menos, ao Japão e ao Peru hei-de ir, se Deus quiser, óbvio.

Acabas de lançar novo trabalho, Adoro Bolos. Como é que o integras na discografia que foste construindo?

Olha, o meu barómetro é sempre ver quanto é que eu consigo chorar ou mandar me para chão enquanto estou a compor as cenas. Desta vez foi mais que as outras, definitivamente.

Fala-nos da tua escrita: as tuas letras parecem ser escritas à mesa de um café de bairro enquanto prestas atenção ao que se diz à tua volta – há muitas frases populares que depois desmontas com um humor muito particular… Estamos a ver mal o filme?

Eu trabalho numa sex-shop, então esse filme do café vai dar literalmente ao mesmo! A parte do humor vem sempre atrelada, óbvio. Cagava um pé se não me pudesse rir.

Podes, em termos da tua escrita lírica, apontar-nos referências para o que fazes? Detectamos por ali ecos de Variações, do Fachada, mas há certamente muito mais que não estaremos a captar…

Hum, sou um bocado ignorante em termos de liricismo português, infelizmente, mas, para mim, a letra do “Sr. Extraterrestre” do Carlos Paião para a Amália é das obras mais necessárias. Não teria espaço suficiente para declarar todas as minhas influências. Ainda assim, gosto sempre de receber todas as leituras de “faz-me lembrar X”.

Musicalmente algumas das tuas canções parecem ser o resultado de apostas: “aposto que não consegues colar techno de feira de província com um sample de bollyhood” ou “será que é possível ligar grime e ritmos dos balcãs?”. São exercícios de estilo ou as coisas saem-te assim naturalmente?

[Risos] São literalmente apostas de mim para mim próprio! Matava-me se fosse obrigado a fazer cenas sem sal. Tudo o que eu faço é resultado de tudo o que eu ouço no dia-a-dia e desde sempre.

Com que ferramentas é que produzes?

PC, telefone, lapiseira, calculadora, fones e colunas.

A música que produzes é pensada para existir apenas na Internet em formato digital ou já pensaste em carregar isto para os palcos?

Pensada para existir em qualquer sítio. A parte dos palcos ainda tenho que ver. Não percebo um caralho de hardware, componho cada nota de tudo o que faço, mas não sei tocar. Não sabia ler uma pauta de música nem que tivesse a Cristina Ferreira a ameaçar-me com uma rebarbadora.

Está pensada alguma edição física do Adoro Bolos? Podemos sugerir lançamento em cassete?

Acho que não. Talvez eu grave em CDs algumas edições feitas à mão com a tracklist escrita à mão. K7 ia ser só decorativo. Curto mais cenas práticas.

No teu mural de Facebook ao anunciares o novo trabalho fizeste votos de parabéns em modo colectivo: quem estás a parabenizar ali?

Os meus putos, eu próprio por ficar quase um ano trancado a trabalhar, todos os escritores, compositores, cantores, toda a gente que faz a vida. Foi um momento Genki Dama.

Como é que vai ser 2018?

A minha chefe diz que vai ser fixe, ela tirou-me o mapa astral e disse que vai estar tudo na sabura. Desde que o meu senhorio não me aumente a renda o resto a gente arranja.

 


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