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Fotografia: Marta Bento
Publicado a: 07/03/2024

De como transformar um concerto numa sessão de clubbing.

Club Makumba no Salão Brazil: “com jarda, com punch e assim”

Fotografia: Marta Bento
Publicado a: 07/03/2024

Ao vivo fica decididamente entendido porque é que João Doce na bateria, Gonçalo Leonardo no baixo e contrabaixo, Gonçalo Prazeres nos saxofones tenor e barítono, e Tó Trips em guitarras, são Club Makumba. “Club” assenta-lhes que nem uma luva, porque a música que fazem e a forma como a dão a conhecer em palco serve para consumir enquanto se dança, como que sob um feitiço, e daí serem também “Makumba”. Leonardo, com Doce e Prazeres, antes dos concertos para a digressão lusa que terminou na passada noite de 2 de Março no Salão Brazil, em entrevista com Rui Miguel Abreu, deu a entender o conceito do som no novo disco Sulitânia Beat: “Houve sempre essa perspectiva em termos do som, de tentar que o disco tivesse um som de som ao vivo, com jarda, com punch e assim. Acho que isso foi conseguido.” Sem dúvida, acrescentamos. E se dúvidas houvessem, ficariam desfeitas em concerto — aliás, na tal pista de dança inusitada em que se transforma o vivido alinhamento trazido por estes quatro instrumentistas indutores de dança.

É música sem palavras, como são poucas as que soltam entre músicas, que se ligam e possibilitam mais ainda a fruição que se podia antes esperar como num concerto de atitude estilo punk rock. Não que isso não se faça sentir, há guitarras eléctricas com patines de “maus-tratos” e houve até instrumentos desfeitos em palcos. Tudo bem, foi uma pandeireta roscofe a desfazer-se, mas não deixou de ser tecnicamente a destruição de um instrumento pela intensidade musical de Tó Trips. E foi ver as chapinhas pelos ares num belo efeito lumínico, quase desapercebido, pois estava já em curso o feitiço dançante desta música em palco. A “pista” abriu ao som de “Maragato”, tema que conta com um vídeo de levantar o pé, ligada em tripla a “Janaina Calling” e a “King Poejo”. Com Hugo Valverde na mesa de mistura, em concerto tal como em disco, para a tal dimensão contínua de som ao vivo do disco e aqui ao vivo garantida — e assim mesmo conseguida. Seguiram noutra tripla viagem de geografias dançantes partindo de um luso sul com “Sulitânia”, passando por uma “Golden Shanghai” até ter lugar o toque de samba com “Samba Catano”, onde os Gonçalos partilham os botões da maquinaria com disparos fundamentais para criar a festividade de perfume carioca. Por esta altura estava-se a dançar uma batida cruzando o Atlântico para sudoeste. Makumba, esse quinto elemento que nem guia de viagem, habituou-nos a rumar a sul, num Mediterrâneo e prosseguindo até ao Magrebe, alcançando até uma África imaginada. Essa identidade deste Club fixou azimute alinhando “Yallah”, “Black Berbere”, “Tugareg” e “Alzáfama”. Temas que fazem das andanças do legado árabe um lugar nada incomum entre os que ali dançam como que enfeitiçados. É mesmo com “Danças” que ameaçam terminar o sarau, tema de abertura para Club Makumba, o debutante álbum homónimo, como que a relembrar de quê e para que são feitos.

Estava escrito, algures na vontade, que haveria mais — e houve. Voltam para umas quantas das menos novas com “Jimmy Habibi” e “Crazy Lizard”, até à muito pretendida “Joça”, que deixa entender como num evento de clubbing se transformara o Salão nesta noite. Qualquer coisa, mas nada sem pés nem cabeça, nem sem sentido. A lembrar a máxima no propósito de Club Makumba — dançar como acto de resistência. E resistir foi dançar, uma vez mais, já que houve ainda mais para dançar num derradeiro tema, construído ali, naquele momento, nem de propósito para lembrar muito do processo criativo destes quatro, vindo de um momento em freestyle — uma jam. Fazendo diante de todos música nova para viajar e dançar, necessariamente.


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