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Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 06/03/2020

O projecto está disponível no Bandcamp e em cassete.

Cátia Sá: “Aquilo de que não abro mão é de continuar à procura”

Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 06/03/2020

No passado mês de Fevereiro, Cátia Sá lançou Da Barriga, o seu primeiro trabalho em nome próprio. Mas o seu percurso não começou em 2020: há dois discos com Guta Naki para trás e créditos em Lingua, álbum dos Octa Push.

Esta noite, a partir das 22 horas, a artista (que respondeu a sete perguntas do ReB) apresenta na Galeria Zé dos Bois um projecto com luz, fantasia, imaginação e refinamento poético. Podem esperar “estórias oníricas” e “melodias hipnotizantes“.

O que dirias que resiste no teu trabalho presente do que fizeste no passado, sobretudo em Guta Naki? Acho que essa expressão, “o que resiste”, dá alguma luz sobre o meu processo, interessa-me o desapegar, depurar, largar. E resistir enquanto resistência: aquilo de que não abro mão é de continuar à procura. Deusa da Poda” é uma canção e peras que te coloca também num terreno de afirmação que me parece, felizmente, cada vez mais povoado. Sentes-te mais uma voz na luta? Hoje de manhã ouvi uma grande pensadora contemporânea, Rita Von Hunty, ela dizia que se as vozes que ouves não te contemplam, falta ouvir a tua. Há vozes que priorizam uma urgência dos corpos, cada um com a sua demanda, o mesmo desejo: o de serem livres. Sou desse povo, sem dúvida. Estas novas canções têm uma relação bastante particular com a electrónica. Quais dirias que são as balizas estéticas que as enquadram? Acho que tenho uma relação muito porosa com o meu redor. Gosto muito de samplar e partir daí pra construir e desconstruir. Houve um momento que pensei só tocar com instrumentos que eu fizesse com as minhas mãos. Construí um theremin e um pequeno synth e algumas das canções deste disco nasceram assim, melodias de voz que apareciam enquanto fazia sonzinhos com essas máquinas. Também descobri que soldar é uma meditação. Não reconheço balizas, posso dizer que me interessa tanto a Laurie Anderson como a Rihanna, a Meredith Monk ou a MC Carol. Consegues apontar afiliações para a tua arte, casos de sintonia, no panorama português? Quem são os teus pares? As minhas irmãs amigas de todos os géneros. Esta edição em cassete e a expensas próprias, pelo que consigo entender, acontece também por afirmação de independência ou é necessidade pura e simples? Não te estavas a ver a funcionar num contexto editorial mais formal? A minha prioridade é usufruir da liberdade de fazer tudo no meu tempo e da maneira que eu quero fazer. Quero inventar as minhas regras, isso estimula-me. Não me vejo muito a funcionar em contextos formais. Queria muito saber se conseguia fazer isto sozinha, tudo, compor, gravar, produzir. Com a minha vontade e com os meus meios. Já está. Agora já sei que consigo. O que vai suceder no palco da ZDB? Qual a dimensão performativa da tua música? Ontem acordei e estava um monte de ramos de árvores podadas à minha porta. Confio nos presentes que o presente me traz. Chamei as amigas e vamos fazer uma selva amniótica. Sinto-me um pouco radioactiva*.  *”radioactividade”, in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa 1. Propriedade que têm certos corpos de emitirem raios susceptíveis de produzir efeitos físicos e fisiológicos. Há mais edições planeadas? A ideia deste disco surgiu como um broto “irmanzado” de uns outros tantos para edições das quais já tenho um vislumbre. 

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