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Fotografia: Vera Marmelo / Jazz em Agosto
Publicado a: 07/08/2023

Música para ser vista.

Camille Émaille no Jazz em Agosto’23: elevada e percutida vibração

Fotografia: Vera Marmelo / Jazz em Agosto
Publicado a: 07/08/2023

Para fechar a programação da presente edição do Jazz em Agosto no Auditório 2 da Fundação Calouste Gulbenkian, um solo de percussão a cargo da música livre e improvisada de Camille Émaille, oriunda dos refrescantes Alpes marítimos franceses. Com duas datas na sua agenda de estio em Portugal: dia 5 na 8ª edição do No Noise, na Sonoscopia (Porto), e esta mesmo, a que esta escrita diz respeito. Camille tem-se apresentado em placo a solo ou como elemento de diversos ensembles de percussão a saber: Accroche Note (França), Vertebrae (França/México), Boswil (Suiça), ou nos também helvéticos We Spoke Percussion. Apresentou-se já junto de lendários músicos da cena livre como Peter Brötzmann, Fred Frith ou Lê Quan Ninh, e com Will Guthrie no ensemble Nist Nah no seio do gamelão javanês. 

Foram algumas peças do mítico gamelão as que trouxe na bagagem e com que montou cenário no palco do Jazz em Agosto. Precisamente três gongos de bronze, dois gongos Lanang suspensos e um gongo Ageng, o maior dos javaneses, suportado na horizontal e que viria a servir de mesa de trabalho preferencial. Por entre gongos ouve espaço para elementos mais ocidentais e familiares para nós. Mas seria a plêiade de idiofones, mais ou menos conhecidos, que foi recorrendo na sua (e nossa) elevação sonora.  E quando um solo de percussão tem início não com baquetas, mas sim com arco de cerdas, tudo se adivinha como desafiante e livre de conceitos prévios, como se quer. É um som que se monta e propaga sala fora pela interação consonante e dissonante das ondas que duas barras metálicas emanam pela passagem das cerdas que mais adiante vão “beber” às taças tibetanas dispostas sobre o grande gongo. Camille serve-se do idiofonismo de cada elemento e centra a sua acção num desempenho de maestrina de peças ressonantes até arregaçar as mãos para um desempenho com baquetas, que sobretudo foram de bolas de feltro. O jogo de pés é fundamental para unir os elementos de chão aos que o ar propagava, e revelou-se literalmente mulher dos sete instrumentos, que nem essa figura da infância de tantos de nós. A certa altura também aparenta dotes de “grinderwoman” tal a evocação pelo som e imagem com que esferas metálicas rasgadas (pareciam chupadores de motores de rega) e chocalhos cirandavam em rodopio sobre o Ageng, feito mó andante de moinho de cereais. São “drones” verdadeiramente orgânicos que sem dali e fazem tapete sonoro para voar. Ouvimos há uma semana atrás o baterista Toma Gouband, nos Trance Map + de Evan Parker e Matthew Wright, a fazer-nos as delícias com semelhante mestria. 

Émaille faz música para ser vista. Ouvir apenas já é um deleite sonoro, mas se há uma coreografia de idiofones em palco esta música quer-se vista.


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