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Publicado a: 22/06/2017

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[TEXTO] Amorim Abiassi Ferreira 

Os BROCKHAMPTON são um colectivo que se auto-descreve como uma boy band. Após terem-se conhecido online, decidiram mudar-se todos para uma casa no Texas. Não estariam errados em vê-los como descendentes directos de Odd Future, até porque, actualmente, são os managers de OF que estão encarregues dos destinos do grupo. Afirmam que querem vingar no mundo pop e, pela maneira como tudo se tem desenrolado até aqui, este é o momento crucial para entender se de facto vão conseguir chegar ao destino. Para aprofundar o contexto que os rodeia, espreitem o ensaio do Alexandre Ribeiro sobre os desenquadrados que decidiram começar uma boy band.

É importante referir esta missão apontada ao pop, porque um dos grandes passos em falso de Saturation é mesmo o seu início em overdrive que justifica, até demasiado, o título do álbum. O egotrip comanda o início deste trabalho, assumindo diferentes variações: “HEAT” late em ameaça directa e sem contenção; “GOLD” desliza sobre um dos beats mais baris do disco; “STAR” transforma-se numa sequência interminável de referências a celebridades; “BOYS” referencia outros elementos conhecidos de boy bands. O egotrip sempre foi uma das facetas mais polarizantes do hip hop – e sempre o apreciei por isso mesmo – , mas, neste caso, constitui o arco mais aborrecido deste projecto por se traduzir num bater incessante na mesma tecla.

 



Chegamos a “2PAC” e temos, finalmente, direito a uma mudança de perspectiva e à entrada da sensibilidade pop que torna os BROCKHAMPTON numa força merecedora de reconhecimento. É a partir daqui que o álbum se torna um exemplo de criatividade, ritmo e equilíbrio imaculados. Como não adorar as modificações de vozes peculiares de “FAKE”, gingar com o tropicalismo de “BANK” e assistir ao emergir do tema inevitável, o amor, em “SWIM”? Mesmo quando se volta a ligar a intensidade ao máximo em “BUMP”, esta já chega como lufada de ar fresco. A perspectiva torna-se mais autobiográfica e honesta em “MILK”, faz-se finalmente uma balada em “FACE” e termina-se com “WASTE”, a única música que tem 5 letras no título em vez de 4 — um pormenor que pode vir a ser importante, mas teremos de esperar pelo próximo álbum, provavelmente intitulado de Saturation II, para o confirmar.

 



Os videoclipes mais recentes têm tido sempre a apresentação, em espanhol, de Robert, web developer do colectivo. No álbum, ele volta a aparecer ao longo de 3 skits, mas nestes já indica haver mais a descobrir: ele alega que irá desaparecer, que ninguém sentirá a falta dele quando cometer suicídio e, por fim, divaga sobre o conceito de identidade e pertença até ser interrompido por um elogio, “nice pants“. Existe aqui também algo que precisa de ser concluído no próximo álbum.

Saturation é um longa-duração impecável nas produções. Treme ao início ao tentar pôr demasiado material semelhante de seguida, tornando-se um pouco enjoativo, mas rapidamente se redime, recuperando a nossa confiança. Foi lançado a dia 9 de Junho, mas, desde dia 7 deste mês, está no ar “LAMB“, um suposto single do próximo projecto. Nele, Robert apresenta BROCKHAMPTON como sendo a sua família. Não há dúvida que os rapazes nasceram e cresceram numa das épocas de maior e mais frenético output musical. E, ao terem contrariado a tentação de ficar a ver o resto do mundo através de um browser a partir do quarto, aderiram a um princípio intemporal que afirma que o colectivo tem sempre mais força que o indivíduo.

 


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