[TEXTO] Moisés Regalado

Em 2007, as sementes de Gucci Mane e Zaytoven germinavam freneticamente e o crunk era cada vez mais rap. Em Portugal comemoravam-se os primeiros aniversários dos principais projectos de uma história que, em menos de uma década, se encontrou a si mesma para logo partir à descoberta da fasquia internacional.

Daí que Pratica(mente) ou Serviço Público tenham sido dos primeiros e dos últimos álbuns nacionais a representar uma determinada filosofia e materialização da mesma, em simultâneo com a qualidade técnica de qualquer trabalho internacional – sem esquecer os pilares dos ’90, misturados e masterizados por Troy Hightower.

No país onde tudo começou, a fronteira foi Below the Heavens, um dos últimos grandes discos tradicionais, na sonoridade e na fórmula MC/produtor. Quase perfeito. Provas? Uma paisagem capaz de causar inveja em qualquer beatmaker que queira construir a coesão ideal sem cansar o rapper e o ouvinte. Samples tratados como nem o melhor aluno de 9th Wonder faria e cortados com scratches do próprio Exile, ao melhor estilo de Premier. Baixos que ditam se o clima convida ao romance ou à punchline.

Miguel, relativamente longe da estreia oficial, foi convidado estratégico e trouxe mais alma para um alinhamento que já estava recheado dela. Aloe Blacc, camarada de Exile em Emanon, e Ta’Raach assumiram outras duas pontas. Do resto tratou Blu, com flows a lembrar Nas, Buckshot ou qualquer GOAT de Nova Iorque. O que torna tudo mais curioso, tendo em conta que é californiano, é o facto deste poder ser um candidato viável a grito final de uma geração da costa este.

Houve vários ensaios e tentativas que se aproximaram do que Below the Heavens conseguiu – e quase chegaram lá. Dilated Peoples, Atmosphere ou mesmo Surreal com The Sound Providers. Mas, e dez anos depois nada muda isso, ninguém conseguiu ir tão longe e ficar tão perto como fizeram estes dois “putos” (Blu mais novo que Exile) de Los Angeles no Verão de 2007.