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Fotografia: Geraldo Ferreira
Publicado a: 12/12/2024

Não tentem isto em casa.

bbb hairdryer: “Estamos fartas de rock sardinha que não tem absolutamente nada para dizer”

Fotografia: Geraldo Ferreira
Publicado a: 12/12/2024

Não é fácil tentar ganhar a guerra que não se quer lutar. Nem sequer é por vontade que se luta nesta guerra que nem se quer ganhar. Os bbb hairdryer carregam a liberdade desapegada dos traços do rock normativo, rasgando ouvidos e dilacerando caras e corações, e encurtando as barreiras que separam o todo das partes. A alma aos pedaços, a miséria numa bandeja. A Single Mother / A Single Woman / An Only Child é o segundo disco da banda, agora numa composição bem consolidada com Elisabete Guerra, Francisco Couto, Chica e Miguel Gomes (aka Chinaskee). Dos berros e sussurros fica a nudez das palavras e o sangue em todo o lado.  

Lançado a 29 de Novembro pela Revolve, o álbum vai ser apresentado numa pequena tour que promete dor e cicatrizes. Hoje mesmo, 12 de Dezembro, actuam no B.Leza, em Lisboa. Já depois da viragem do ano, a romaria prossegue por SILOS (Caldas da Rainha, 16 de Janeiro), Texas Bar (Leiria, 17 de Janeiro), Salão Brazil (Coimbra, 18 de Janeiro), Sala 6 (Barreiro, 24 de Janeiro), CAEP – Centro Artes Espetáculo Portalegre (Portalegre, 7 de Março) e SHE – Sociedade Harmonia Eborense (Évora, 8 de Março).

Falámos com Elisabete e Francisco sobre o novo disco e sobre as feridas que ele deixa a descoberto. Mas mais do que isso, fica o fincar de pé que começa a delinear um espaço seguro no rock. Pé ante pé, passo a passinho, até não haver mais pontapés.



Apesar das múltiplas referências externas que vos influenciam, os bbb têm um lugar muito próprio no panorama musical português, que não pertence a mais ninguém. Mas, havendo um, que lugar é que gostariam de ocupar? 

[Francisco] Acho que sabemos onde é que não queremos estar. Acho que apesar de fazermos “rock”, o panorama do rock per se continua a não estar muito fixe, continua a ser bué masculino, ou mesmo que não seja mostly men, a energia continua bué “macha”. Acho que, de certa forma, gostávamos de ter um pé aí, mas criando uma alternativa a pessoas que gostem de música pesada e que, hopefully, se consigam afastar um pouco disso ou que não tenham de lidar tanto com isso. 

[Elisabete] Sim, representatividade. 

[Francisco] Já nem digo bem criar um safe space, porque esse conceito nem sei se é muito doable ou o que é que é um safe space, mas pelo menos criar um ambiente que não esteja tão cheio de testosterona.

[Elisabete] Começámos a perceber que se calhar já estava… não digo assegurado, mas que já estávamos confortáveis na bolha queer. Sendo que pertencemos mais a essa bolha queer do que a esta bolha que o Papico [Francisco] está a falar. Mas acho que é fixe estar em mais lados. Até porque eu, sendo de uma terra pequenina… Eu sabia lá o que é que era uma bolha queer, percebes? Ou seja, sabia o que era o rock, e o rock era uma porcaria nesse sentido… Não é que estejamos a inventar a roda nem nada, mas estamos a tentar causar normalidade. É normal uma pessoa trans aqui, é normal estarmos a ser chateados, é normal fazermos rock.  

[Francisco] Também não temos uma missão, nem estamos a passar uma mensagem ou a tentar entrar num espectro político.  

[Elisabete] Estamos só a fazer musica. Gostamos mesmo de fazer música. Às vezes não tenho ensaio durante duas semanas e fico tipo “’tou mal”. 

A ressacar? 

[Elisabete] Bué. A primeira fase — que é a mais importante e a mais verdadeira — é a de tocar para nós. Não de querer gatekeep a shit, mas não está a ser com uma missão, talvez quando a letra vier depois… 

Talvez mais um “não quero pertencer”? 

[Elisabete] Já foi mais assim, eu acho. Já fomos mais totós, mais miúdos. Como se tivéssemos, sei lá, sete anos. Quando o outro álbum saiu acho que estava mais chateada, acho que era mais vocal neste sentido, agora acho que prefiro fazer mais coisas do que estar a dizer merdas. Mas também acho que as pessoas de alguma forma don’t really get it. Não que seja uma coisa muito especial, mas como não há representatividade… people don’t really get it. Não tem linguagem. 

Será que há espaço para deixar crescer os nichos? Queremos vê-los engrandecer ou devemos escondê-los da comercialização da indústria? 

[Francisco] Acho que nichos são nichos. Acho que não dá para comercializar nichos. 

Dar, dá. 

[Francisco] Dar, dá, mas depois é um bocado a morte da cena, porque se torna mais feito de plástico.  

E se o capitalismo devia arder, como é que se consegue fazer música neste país? Por amor? Por necessidade? Ou só com amigos? 

[Francisco] Por necessidade não é. 

[Elisabete] De todo. É mesmo porque isto é fixe para nós. 

[Francisco] Acho que é um motivo para as pessoas que fazem música começarem a fazer música. Nem consigo bem explicar, é só porque gosto muito e sinto-me bué bem a fazê-lo e acho que tu também. E bandas é fixe serem feitas com amigos, porque vais passar bué tempo com eles, na estrada, em salas de ensaio. Se não se te deres bem com a malta… 

[Elisabete] Mas torna-se algo bué especial. Estás mesmo ali a fazer coisas e aquilo não estaria a acontecer se não estivessem ali aquelas quatro pessoas, which is very special. Só por isso é que continuamos. 

[Francisco] Mas de certeza de não é por necessidade. 

[Elisabete] Porque não dá dinheiro nenhum. 

Mas eu veria a necessidade mais como uma necessidade de escrever ou de compor. 

[Elisabete] Se não tivesse coisas para dizer também não as dizia.  

[Francisco] Essa necessidade, sim. 

[Elisabete] Sim, estamos fartas de rock sardinha que não tem absolutamente nada para dizer. 

E será que sem a precariedade se perderia a essência? Se fosse tudo fácil, acessível, de rabo virado para a lua?

[Elisabete] Não. Ia ser muito melhor se eu não tivesse um full time e estivesse cansada all the fucking time. E tinha tempo para escrever, para tocar, para tudo. Por isso, essa romantização de que tens de estar num sítio bué mau para conseguires tal, that’s fucking bullshit. Por isso é que os artistas que conseguem são ricos. 

[Francisco] É cansaço, é ansiedade. Se dependeres de guita de música para pagar a renda… 

[Elisabete] Nós vamos tocar e eu estou a pensar: “Não vou trabalhar neste clubbing, não vou ganhar este dinheiro…” Tens de fazer essa contagem e se não tivesse de fazer essa contagem estava bem melhor. 

[Francisco] Se eu não tivesse de ensaiar sempre depois do meu full time, também era mais feliz, e ensaiava melhor de certeza. Porque quando acontece sabe efectivamente melhor.  

Se o primeiro álbum foi feito com músicas criadas ao longo de um período de cinco anos, neste disco as músicas contam as histórias e as batalhas destes últimos dois anos e meio? E que lutas são estas? 

[Elisabete] Sim, o outro álbum foi uma combinação de várias tracks que eu tinha feito desde 2018 até 2020 e tal. Este está completamente diferente, apesar de ter a “Wrong Bones / Knife”. O riff da “Knife” escrevi na casa da minha mãe, no sótão. Tem 7 anos, which is very crazy. Mas são coisas que ficam e vão ficando. E em termos de letras, dinâmicas e energia, as nossas referências também mudaram muito, daquilo que gostamos ou não, durante dois anos. E se calhar não só em termos de agressividade, mais termos de depth. Por isso é que acho que não escreveria coisas como escrevi no outro. Agora está diferente, apesar de estar tudo cringe na mesma. São estes dois anos, somos nós os quatro. A grande diferença na realidade é essa: somos nós os quatro em vez de ser eu a tocar há cinco anos e “olha, estão aqui umas letras”. 

A tristeza e a raiva parecem denominadores comuns, não só ao longo do álbum, mas da vossa discografia. Será esta a força motriz para a purga catártica que é a vossa música? 

[Elisabete] Eh… Sim, acho que não só, mas sim. Acho que escrevo mais quando estou chateada, mas também procrastino mais quando estou chateada.

Há, no entanto, outros conceitos mais difíceis de digerir e certamente de falar que vocês deixam bem presentes: doença mental e suicídio. De uma forma livre e de um sítio honesto, fala-se sobre borderline e a vontade de morrer. Será que estamos no caminho certo para partir as paredes do julgamento? 

[Elisabete] Acho que borderline é só a misoginia deste milénio. De trocar a histeria por BPD [Borderline Personality Disorder]. No entanto, doenças mentais existem, it’s important to address them, don’t do this at home, not safe for work. Nas minhas letras nem todas tudo é literal, artistas lie to you, é importante mencionar isto. É tudo verdade, mas é tudo twisted. Throught the lens of something.  

[Francisco] Torna a cena mais poética, não é? 

[Elisabete] But it’s always very real. Sinto que nunca respondo às perguntas. Mas sim, estou mais velha, então estou mais aware de mim e dos meus surroundings, então consigo perceber que tenho estes problemas chatos e que posso tomar a decisão do que é que posso fazer em relação a isso. E eu faço isso a partir da escrita. E são coisas que eu não quero fazer ou que quero fazer. Eu não quero partir um vidro para te arrancar a cara; quero na minha cabeça e estou a sentir isso.  

[Francisco] Mas usas um bocado como escape? 

Escrever para não fazer? 

[Elisabete] Maybe, ya.  

[Francisco] [Risos] Ou também. 

Digo isto também porque a questão do suicídio e da ideação suicida está bem presente.  

[Elisabete] A morte está presente no meu imaginário há muito tempo. Temos alguns amigos que já morreram… 

[Francisco] Colegas de banda que já morreram… 

[Elisabete] É uma aura um bocado inevitável, está toda a gente na merda.



Apesar de se ter tornado acessível, especialmente através das redes sociais, o conceito de depressão e terapia, há uma parte pouco esmiuçada sobre a qual tu falas (e bem) em “Head On Concrete”: a cura é um processo feio. Achas que vale a pena? 

[Francisco] Acho que é das minhas frases favoritas tuas. 

[Elisabete] A sério? Jura? Uau. Não é no ugly as in… É feio, porque pode ser rude e pode ser uma coisa bué trabalhosa e difícil para ti. Não é feio em termos de julgamento de bom e mau. 

Eu interpretei exactamente dessa forma. 

[Elisabete] Ok, boa.  

[Francisco] E é feia. Às vezes é um conceito de healing que… se tens um problema e te estás a tentar livrar dele, a parte do confrontamento, a parte do ackwnoledge, a parte do entendimento, a parte do fazer alguma coisa em relação a isso e a parte de chegar a algum lado… é muito fodido. E consome bué energia, consome bué cabeça. 

[Elisabete] Estás a bater com a cabeça na parede. 

E não furas a parede. 

[Francisco] E estás a lidar contigo de frente. Estás a dar-te cabeçadas. É lixado. 

[Elisabete] Às vezes é no espelho e tens vidros nos olhos. 

Afinal há estilhaços. Não na cabeça dos outros, mas na tua.  

[Elisabete] Juro.

E a música é, também ela, parte desta cura? 

[Elisabete] In a way. Ficamos relieved. Eu fico. Começo a bater mal e sabe-me bem tocar, mais que não seja porque estás entretida e a tua cabeça está noutro lado, sabes?  

[Francisco] A música salva-me bué, mas é mais tipo… Se não tivesse a música e tivesse só o meu full time, acho que ia cair num buraco bué estranho de “o que é que eu estou a fazer com a minha vida?” E a música se calhar nem é da forma mais saudável, não sei — dá algum propósito. Estar a fazer algo que eu gosto bué e que nem me sinto muito mal a fazer. 

[Elisabete] Mas em relação a tudo? Não estás a falar dos concertos? 

[Francisco] Estou a falar de fazer música. Concertos não me diz muito. 

[Elisabete] Concertos: merda. Fixe in many, many ways, mas merda. 

É por isso que vocês tocam de costas para o público? 

[Elisabete] Mais ou menos. É weird, estamos a fazer rock. A lot of queer people don’t listen to rock. My queer friends don’t listen to rock. Não tenho aquele warmth de ter ali pessoas conhecidas. Tenho algumas, mas é mais fácil não dar acknowledgement quando tens só gajos de 40 anos a olhar para ti. Many layers. Não quero as pessoas a ver-me. Já é difícil para mim ter corpo, quanto mais estar num palco. 

[Francisco] Eu não tenho essa struggle, mas gosto muito de tocar virado para o amplificador.  

[Elisabete] Por causa do feedback. Nós tocamos numa bolha. Sinto que não sei absolutamente nada do que está a acontecer nos concertos.  

[Francisco] Eu gosto bué disso. Nem é tanto o porquê de o fazemos, mas o resultado de tocarmos de costas. Estou bué mais confortável, gosto bué de não saber what’s going on. É lixado a cena das inseguranças de não saber se as outras pessoas estão a reagir… Só o Miguel é que sabe. 

[Elisabete] Nós acabamos e é tipo: “Miguel, what happened? O pessoal estava a curtir?” “Sim, sim, o pessoal estava a dançar”. 

[Francisco] E também acho fixe. 

[Elisabete] Temos pessoas queer na banda, temos uma pessoa trans na banda, não é fácil estarmos no mundo do rock e ver dudes a olhar para ti… que estão a ver um gajo de saia. E por mais fora de cenas e desconstruídos ou “da paz” do rock que sejam, inevitavelmente vão ver um gajo de saia a cantar para eles. 

[Francisco] Os homens não lidam muito bem com feminidade, por isso é que as mulheres do rock, que se calhar são mais masculinas, e o confrontar com alguém que na cabeça deles é um homem e está a mostrar traços de feminidade também é uma afronta.

E encontram no vosso público a compreensão que precisam para dar sentido a estas partilhas? 

[Elisabete] Não sei se temos público ainda. We have some queer kids following us which is very sweet. É mesmo quentinho. 

[Francisco] Isso é bué fofo. Tivemos um miúdo que num gig nosso veio ter connosco e disse: “Olá! Fiz estes cartazes para a escola com a vossa letra.” E deu-nos… 

[Elisabete] Imprimiu com uma impressão bué boa, teve o cuidado de fazer cinco, contou com o Bernardo e tudo, super amoroso. No Zigur, depois de tocarmos, tivemos uns putos queer que vieram falar connosco: “Olha, a minha amiga quer tirar uma foto contigo, mas está com vergonha”. E eu fico logo bué “ugh”, mas cheguei lá e era uma miúda trans bué pequenina, like baby trans, e eu fiquei yeeeahhh, ainda bem que vim, it’s important to these kids.



Em toda esta vontade de não estar calada, o que é que não pode mesmo ficar por dizer? 

[Elisabete] Eu tenho muita vontade de estar calada, tudo o que quero na vida, o que mais ambiciono para a minha vida é estar calada. Mas dizemos coisas que precisamos de dizer.  

E qual é a cena com a Phoebe Bridgers? 

[Elisabete] Eu só quero ser a Phoebe Bridgers. Acordo todos os dias de manhã e penso: “Foda-se, mais um dia em que não sou a Phoebe Bridgers, sou esta merda desta gaja chata em Lisboa”. A única cena é que eu estou a berrar porque estou chateada, porque acho que se não estiver zangada vou estar fazer folk e a fazer coisas bonitas. Só quero fazer coisas bonitas.  

[Francisco] A Elisa chegou ao pé de nós e disse: “Tenho uma música chamada ‘I Don’t Wanna Be Phoebe Bridgers Anymore'”. E nós ficámos bué: “Sure…” 

[Elisabete] Ela é bué especial para mim, é bue lame e tem aquela vertente toda Taylor Swift, she can punch you in the face with lyrics a cantar de forma fofinha e isso é incrível. É uma coisa muito pessoal, normalmente direccionada a uma pessoa que só ela é que sabe quem é, but you can relate because she is a normal person. É uma coisa muito agressiva, sentes que é real. Eles nem gostam, o David fica tipo: “Lá vem esta música de lésbica frouxa”. 

Vão começar agora os concertos de apresentação do disco. A parte de tocar é tão ou mais importante do que a parte de criar? Onde é que se faz a verdadeira purga? 

[Elisabete] Uh. Sim, vamos tocar a apresentação do álbum no B.Leza. O disco saiu pela Revolve. Vai haver cassetes, cassetes! Vamos andar por aí este ano. Tocar… é mais fixe entre nós. Tocar ao vivo é arriscado, posso levar com uma coisa no olho, porque isto é mesmo uma purga. Eu não quero que isto seja a minha brand, não quero estar sempre a bater com a cabeça na guitarra, mas isso é uma coisa que eu faço porque eu sinto isso. Há um edge sempre intrínseco na coisa. Pode correr bem, pode correr mal. Mesmo em termos técnicos, há concertos onde, a meio, não temos guitarra porque se fodeu tudo e esse tipo de coisas. 

Isso é rock’n’roll. 

[Elisabete] You’re trying to play it safe, porque estás a tentar encontrar um safe place. Em concerto… pões-te em risco. Não gosto de ver uma pessoa a tocar playing safe. Para isso vais tocar para o quarto. Uma pessoa pode estar cansada… mas para isso não vai dar um concerto. Mas há vezes em que sinto que tenho de fazer merda.  

[Francisco] Há aquela cena noutra escala de Amy Winehouse de gostares de ver uma pessoa não estar okay e te entreteres com isso. E isso também não é fixe. 

Beberes da tristeza dos outros através de um concerto? 

[Elisabete] O romantizar de alguém não estar bem. Eu estive a ver gravações e há cenas mesmo bonitas. Fizemos um tour no Norte e nunca me vi a tocar ao vivo, mas ao ver faz impressão. That’s clearly a person that’s not alright. Faz impressão. Não é violência gratuita, mas tenho medo que miúdos vejam isto e percebam isto de maneira errada. É bué diferente uma pessoa queer ou trans estar a ver a fazer self-harm numa pessoa trans do que numa pessoa hetero-cis a ver self-harm numa pessoa trans. A leitura intrínseca da cena para eles pode ser bué fixe, mas há um peso histórico nessa merda. Eu tenho sempre de navegar esta cena bué ténue entre o it’s not okay, but it is okay. 

[Francisco] O peso histórico — a violência do rock também está associado a not giving a fuck, o rock doeu faço o que eu quiser, estou-me a cagar, vou partir a guitarra em palco.” E era fixe criar essa separação de que isto não é bem a cena do rock’n’roll. 

[Elisabete] Eu não estou a sangrar porque é cool. Eu estou a sangrar porque está okay ser hardcore para o que as pessoas esperam do rock. As pessoas — mostly boys. Queres ser hardcore, mas as pessoas esquecem-se que se raspares um bocado a tua pele sai sangue e eles não conseguem lidar com isso. They think they are tough, but they lose their shit. Como quando pus um cigarro na testa. Queres hardcore? Estás fodido. Mas não correspondem.  

E não achas que para alem da romantização também pode haver compreensão, que alguém se identifica com isso? 

[Elisabete] Letras é uma coisa que me causa estranheza. Tenho medo, porque me ponho em contexto de “se eu fosse uma adolescente e estivesse a ler as minhas letras…” Estou a dizer coisas mesmo feias. Não gosto. 

Porquê? 

[Elisabete] É toxico, não vem de um lugar muito bom. Mais importante do que fazer boa música é termos uma bolha saudável e haver espaço para toda a cena. Estás na merda, estás na merda. Se a Elisabete de 15 anos ouvisse este disco e pensasse “what the fuck is this” e fosse ler as letras (porque eu lia sempre as letras), espero que conseguisse perceber que arte é arte, música é música, artistas mentem, e que aquilo é super real, mas é posto num contexto de que é… música. It’s okay to write that type of shit, mas isso não pode ser o main mindset. And don’t do this at home.


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