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bbb hairdryer

Kingdom Hearts II Final Mix: pretty generic radio pop with a few fucks and edgelord lyrics

Edição Independente / 2022

Texto de Rui Eduardo Paes

Publicado a: 30/06/2022

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Primeiro que tudo há a referir que Satanic Trans Guitar Shit não é uma label, mas uma marca, a que identifica as produções de bbb hairdryer. E que, se este Kingdom Hearts II é um álbum no sentido pleno da palavra, na medida em que o todo dos temas tem uma coerência própria, não se trata de um disco: a sua plataforma de edição pública é o Bandcamp. Mais ainda: o “II” do título não implica que haja um Kingdom Hearts I. Se há, ficou na gaveta. Quanto à designação “radio pop”, há que prevenir os ouvintes: o melodismo pop que por vezes sobressai tem envolvências punk. O bom velho punk do queercore, não tão abrupto quanto o dos Limp Wrist, mas punk quand même.

Se bem, igualmente, que o punk que aqui se ouve não se limita à adopção do formato. Há resquícios de quando bbb hairdryer era um projecto a solo em que a performance tinha tanto relevo quanto a música, uma performance que era física, necessariamente, mas que se traduzia desde logo em som, fosse por meio da manipulação directa dos pedais de efeitos da guitarra, numa falsa displicência que tinha (e continua a ter) como objectivo fazer soar a electricidade, ou do disparo de gravações lo-fi de ruído ou de spoken word. E, de facto, este novo lançamento, no dizer de bbb, é o resultado de cinco anos de concertos e de um partir de pedra – literalmente desconstrutivo, e experimental – entre as quatro paredes de um quarto, com registos por meio de um telemóvel. A transformação num trio, com Duarte Eduardo (a lake by the mõõn, toda uma outra cena, a da electrónica) no baixo e Filipe Serrazina na bateria, só em 2021 subiu aos palcos.

Estas são canções que têm tanto de perturbadas (em especial “i was wondering how it would feel like to jump out the window but im still alive so everything is ok i guess”) quanto de cândidas, inclusive quando recorrentemente se nomeia Satanás e se fala do Inferno. Mas, sobretudo, há uma dose de ironia, quase de sarcasmo, nas líricas e na música, que desmonta tudo o que se canta e toca atrás. bbb hairdryer dá voz à depressão queer dos nossos dias, mas não se leva demasiado a sério. Como se lê nas liner notes, trata-se de subverter o que “deve ou não ser dito à frente de um microfone”, não numa estratégia de choque apenas “pelo shock value, mas porque a vida é mesmo assim”. “i hate everyfuckingthing” termina com bbb a rir-se e a comentar: “OK, I really hate every fucking thing that comes out of my brain”.

Chegou a altura de atentar mais neste projecto vindo do underground. Dêem uma ouvidela. Urgentemente.


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