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Fotografia: jubile street
Publicado a: 24/03/2021

Nos preparativos para o próximo sábado.

Bardino: “Sem público há inevitavelmente parte do diálogo que não se completa”

Fotografia: jubile street
Publicado a: 24/03/2021

Já demos conta do seu concerto deste fim-de-semana por aqui no Rimas e Batidas, mas a oportunidade de se antecipar tão rara ocasião com os Bardino surgiu e não rejeitámos a deixa: afinal de contas, o que é que têm feito durante esta pandemia, como é que lidaram com a mesma e o que é que podemos esperar do espectáculo online? Encontrem as respostas em baixo.



Tem sido um ano complicado, por todas as razões mais do que conhecidas: como lidaram com a falta de palcos, com a falta de público?

Apesar de termos lançado o disco no Verão do ano passado, praticamente não tivemos possibilidade de o apresentar ao vivo — fizemos um concerto em Chaves imediatamente antes de entrarmos em confinamento, que nos encheu o coração.

Foi complicado por vezes gerir as nossas expectativas, a grande vontade de tocar ao vivo e a impossibilidade de o fazer. Houve a necessidade de cancelar os concertos de apresentação que estavam programados para o último trimestre de 2020 e depois um trabalho de coordenação e reprogramação com as salas de espectáculos para reagendar essas datas para 2021.

Em todo o caso, mantemos a vontade de apresentar este disco, temos já várias datas confirmadas, e não nos arrependemos de o termos lançado sabendo que corríamos o risco disto acontecer. É muito bom para nós saber que a nossa música tem algum impacto, mesmo que isso não nos chegue sob a forma de aplausos em concerto.

Este concerto terá também uma vertente solidária e as receitas servirão para apoiar a União Audiovisual: têm sentido de facto essa união no sector da música? Acham que sairá desse espírito uma boa base para um futuro do sector reinventado e mais justo?

Sem dúvida que, pelo menos, há hoje uma noção ainda mais clara das fragilidades do sector, e da necessidade de o fortalecer, ficou tudo ao descoberto.

Não se pode dizer que tenhamos sentido união, na verdade sentimos que as pessoas estão mais distantes e isoladas, é a nossa percepção. Sentimos durante este penoso ano a perda de algum alento e força que movia o sector, em particular nos circuitos mais alternativos, e tememos pela recuperação disso.

Um bem-haja para associações como a União Audiovisual, que tem apoiado os profissionais técnicos e artistas, e que se mostram neste momento essenciais para uma resposta imediata a este setor. Será possível durante o concerto fazerem donativos que vão reverter totalmente para a UA.

Urge a criação de estruturas que ajudem no combate à precariedade no sector, que valorizem as pessoas e consequentemente o património cultural do país. Em todo o caso, isto é o que todos sabemos ser necessário, mas que será certamente um grande desafio, particularmente considerando todas as incertezas em relação ao futuro. De uma coisa estamos convictos, da importância da cultura e da necessidade da sua valorização.

Falemos de música agora: como pensaram este espectáculo? Vai ter apenas material do disco, haverá alguma composição inédita no alinhamento?

A ideia é transportar o disco na íntegra para o palco, mas permitindo algumas deambulações mais livres que nasçam do momento e da nossa interacção. Permitimo-nos a uma ou outra reinterpretação da narrativa do disco, com um par de momentos novos mas sempre dentro do universo Centelha

Queríamos também incluir uma componente visual, que complementasse esse momento de libertação ao vivo e tivesse como base toda a imagética construída em torno do disco.

O que é que a situação de palco vos oferece e proporciona que seja diferente do trabalho desenvolvido em estúdio?

Com o Centelha experimentámos uma abordagem diferente ao processo criativo, através da definição de uma narrativa base que guiou a composição dos diferentes momentos do disco. Em concerto tentamos transportar esta intenção para o palco, mas conferindo-lhe uma nova dimensão, que advém sobretudo da interacção e improviso que a música ao vivo nos permite.

Há espaço para o improviso nos vossos concertos ou têm tudo delineado e esquematizado até ao mais ínfimo pormenor?

Temos como base o alinhamento do disco, mas a estrutura não é rígida durante todo o concerto. Deixamos espaço para momentos mais livres de improviso e interação que também se vão transformando durante os ensaios, ao longo do tempo. 



Estarão muito concentrados na música ou terão atenção suficiente para sentirem a falta do público? Essa energia também é importante na vossa equação particular?

Sim, sem dúvida que sentimos falta do público. O período de composição e produção de um disco é inevitavelmente solitário, é nos concertos que se dão os momentos de partilha. Sem público há inevitavelmente parte do diálogo que não se completa. A presença de público e a energia que transmite têm influência directa na forma como nos sentimos em palco, talvez esta situação em particular convide mais à introspecção.

Como é que surgiu esta possibilidade de trabalharem com a Look Closer Sessions?

Somos amigos de longa data. A Look Closer Sessions começou a fazer as primeiras sessões em 2017, por essa altura estávamos a produzir o EP e a preparar os primeiros concertos de Bardino, foi por isso natural essa colaboração. Gravámos uma sessão no Teatro de Vila Real e no final do ano acabámos por dar o primeiro concerto no Look Closer Sessions: Go Live!, juntamente com outros artistas que fizeram parte das várias sessões produzidas até então. Este ano inauguraram a sua nova casa com a transmissão de concertos e estamos muito felizes por fazer parte disto.

Este concerto também assinalará a estreia da componente visual do vosso espectáculo. Falem-nos disso: qual o conceito, quem assina essa parte do trabalho, etc?

Toda a imagética em torno deste disco e sua promoção foi um trabalho conjunto com o fotógrafo Marcelo Baptista, que assina como Jubilee Street. É uma extensão do universo e da narrativa que tentamos construir durante a produção do disco. Foi um trabalho que começou com toda a imagem gráfica da edição física e digital do disco, passando pelo conteúdo promocional, e que naturalmente se projectou para a componente de vídeo que nos acompanha ao vivo. Foi um processo iterativo, com alguma experimentação pelo meio, mas estamos muito contentes com o resultado final.

Já há planos para gravarem novo material?

Ainda não há planos para o sucessor de Centelha, estamos neste momento a trabalhar em algumas composições novas. Surgiu ainda um convite para compormos e gravarmos para um registo diferente, um exercício novo mas muito entusiasmante para nós que se irá materializar ainda este ano.

Neste último ano surgiram uma série de novos projectos que cruzam jazz, música electrónica, rock, hip hop e outras coordenadas numa entusiasmante nova cena musical. Sentem-se também parte dessa realidade, de algo maior?

Tem sido difícil ter uma visão clara sobre isso. Sobretudo considerando que, não havendo concertos, tem havido menos interação com os outros músicos. Parece-nos que, por um lado, este confinamento nos dá mais tempo para ler e ouvir coisas novas, mas por outro afunila as nossas perspectivas. Em todo o caso, algumas das nossas influências fazem precisamente esse cruzamento de géneros, que acaba sendo uma linguagem comum a vários projectos recentes, portugueses e não só. Custa-nos afirmar que pertencemos a uma nova cena musical quando não há neste momento grande partilha e cruzamento entre os músicos que têm bases comuns para a sua expressão, mas estamos atentos às coisas novas que têm aparecido e entusiasma-nos muito que estejam a aparecer mais projetos a ter como base o jazz e a electrónica e também que a nossa música esteja a ser apreciada nessa esfera, como tem sido notório pelo feedback que nos tem chegado.


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