Composta por 19 volumes, AE_2022 é a nova série de lançamentos dos Autechre. Exclusivo em formato digital no site da Warp Records, cada capítulo representa uma actuação ao vivo numa cidade diferente, registada durante a passagem do grupo pela Europa e Austrália.
O famoso duo de electrónica experimental do Reino Unido lançou de surpresa a remessa musical AE_2022, onde continua dedicado em ultrapassar os limites do design de som através de uma perspectiva mais laboratorial. Conhecidos pelas suas composições complexas e pela recorrência a algoritmos, Sean Booth e Rob Brown nunca param de desafiar as expectativas do ouvinte, entrelaçando batidas recheadas de glitch, mudanças rítmicas intrincadas e texturas envolventes e ambientais quer em discos como ao vivo.
É precisamente das performances em palco que são recuperadas as gravações patentes em AE_2022, registadas entre 2022 e 2024 em cidades como Londres, Milão, Dublin, Melbourne, Sydney, Lyon, Madrid e até Lisboa, por onde passaram em Abril deste ano, imergindo a Culturgest na escuridão total. Na reportagem para o Rimas e Batidas, Sofia Rajado relatou que:
“Aos primeiros instantes houve alguma estranheza ao olhar uma sala às escuras e um palco com uma luz ínfima, distante. A escuridão estava ali e nós, público, continuávamos a olhar para um palco onde não havia nada a acrescentar para se ver. Custa-nos, a nós humanos, fechar os olhos. Mas era isso que Autechre pretendia, que deixássemos de controlar qual o primeiro sentido a estar ativo naquele espetáculo e permitíssemos total liberdade à audição, que os ouvidos assimilassem o que havia para assimilar, enviassem os estímulos nervosos adequados ao cérebro para, depois, apenas deixar o corpo vibrar e desembocar em diferentes emoções. Foi uma viagem calma, sem grande turbulência, mas sentida. Sabemos que houve fases mais recentes em que a dupla britânica enveredou por algum experimentalismo, e para quem tenha ido na expetativa de o escutar, talvez tenha saído com vontade de uma maior ousadia no som, mas isso não quer dizer que o que foi apresentado não tenha sido de uma excelente qualidade. Foi uma opção estética da dupla britânica que também resultou muito bem. A iniciar com uma base dentro de ritmos quaternários, que perdurou durante muito tempo, a música foi fluindo mais ou menos por três fases: uma mais calma, ponderada; outra onde surgiram efeitos novos, melódicos e também intricados, com ritmos variados sob a mesma base; e outra ainda mais misturada e, consequentemente, um pouco mais intensa. Apesar destas nuances, o registo de todo o concerto não teve grandes oscilações, num crescendo suave, onde tudo fluiu de forma graciosa. Em determinados momentos foi bastante percetível a presença de linguagens, samplers ou ritmos, usados no hip hop, na house, no transe e até drum and bass.”