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Texto: ReB Team
Fotografia: Bafic
Publicado a: 28/11/2023

Electrónica de paisagens sonoras únicas e complexas.

Autechre estreiam-se em Portugal com actuação na Culturgest

Texto: ReB Team
Fotografia: Bafic
Publicado a: 28/11/2023

A tão aguardada estreia em solo português da dupla britânica de música electrónica Autechre está marcada para o dia 12 de Abril do próximo ano na Culturgest, em Lisboa. Os bilhetes para esta imperdível apresentação estão à venda por 30€ (preço único) e podem ser adquiridos na Culturgest e na rede Ticketline. 

Rob Brown e Sean Booth contam já mais de 30 anos de carreira, tendo-se imposto como um dos projetos mais influentes da electrónica contemporânea e um dos nomes de destaque da icónica editora Warp, que também abriga outros nomes de culto como Aphex Twin, Boards Of Canada e Squarepusher desde os anos 1990.

Pioneiros na criação de paisagens sonoras únicas e complexas, o som transcendental dos Autechre desafia as categorias convencionais, amalgamando elementos de IDM (Intelligent Dance Music), música ambiental, glitch e techno. A sua extensa discografia, meticulosamente escrutinada ao longo dos anos por uma verdadeira legião de seguidores, é sobretudo apreciada por quem busca constante surpresa e superação de expectativas, tendo inspirado uma geração de músicos a quebrar barreiras e a experimentar com a forma e o conteúdo musical.

Ao longo da sua singular trajetória, a dupla britânica manteve-se fiel à sua abordagem experimental e vanguardista da música electrónica, recusando-se a comprometer a sua visão artística em busca de acessibilidade comercial. Essa integridade artística e visão única granjearam uma base de fãs devota, elevando as suas raras performances ao vivo a um cult status, algo raro na atualidade e que o público português vai poder finalmente testemunhar com a sua apresentação em Lisboa.

Recentemente, os Autechre têm-se apresentado em locais imersos em total escuridão, intensificando a experiência sensorial do público com as suas abstractas e pulsantes composições. Este concerto especial também desafiará os sentidos: atendendo a um pedido da dupla, a sala da Culturgest será mergulhada numa escuridão quase total, proporcionando um ambiente íntimo e imersivo. A organização faz saber que todos os protocolos de segurança necessários serão rigorosamente aplicados, assegurando uma experiência única e segura para todos os presentes.



A propósito do álbum SIGN editado em 2020, escreveu-se no Rimas e Batidas:

“Não há-de ser fácil passar 30 anos inteirinhos em exílio no futuro, mas é exactamente isso que os Autechre de Rob Brown e Sean Booth têm vindo a fazer desde que em 1991 se estrearam com o maxi Cavity Job. Nos últimos anos, a marca Autechre aplicou-se a expansivos projectos, como a interminável série de registos ao vivo ou as NTS Sessions, pelo que a edição de SIGN não deixa de constituir uma surpresa. Em primeiro pela sua escala contida e depois pela sua mais funda ‘natureza’ (e sim, esta palavra foi escolhida com um propósito).

Ao longo dos anos, o ponto de partida techno eleito pelo duo foi-se tornando cada vez mais longínquo, com a música criada a partir do seu certamente complexo e definitivamente misterioso System a resultar crescentemente abstracta, experimental, obtusa, impermeável a qualquer tipo de sintonia externa, presa que estava num universo próprio que parecia obedecer a leis de física sónica distintas. Em SIGN quase se pode adivinhar um esgar de humor na faixa inicial, ‘M4 Lema’ que começa por sugerir que nada mudou e que Booth e Brown continuam mais interessados nos desconexos pulsares que soam como se resultassem da gravação das ‘sinapses’ de ‘machine learning’, mas quando os nossos ouvidos aterram em ‘F7’ algo começa a suceder: a densa névoa conceptual de ruídos digitais começa a dissipar-se e a expor o que poderão ser, afinal de contas, territórios familiares, já anteriormente cartografados. E quando se chega a ‘esc desc’ a sensação é a de quem acabou de atravessar um mar revolto para desembarcar numa paradisíaca ilha de frondosa vegetação e praia de cristalinas águas habitadas por estranhos, mas cativantes seres multi-coloridos (ainda que possam ter leds luminosos em vez de olhos e pele transparente que revele um interior híbrido, bio-tecnológico).

Essa mais funda ‘natureza’ dos Autechre, que cedo se propuseram a desmontar as dinâmicas mais intrínsecas do techno e das suas mil derivações, é por aqui uma vez mais renovada, num trabalho que continuando a ser exigente não soa impenetrável, que permanecendo nas margens mais remotas dos territórios avançados da electrónica, não deixa, ainda assim, de se manter nos limites do ‘mapa’ que o próprio duo tantas vezes descartou em favor do mergulho no absolutamente desconhecido. Há por aqui, pasme-se, uma dimensão humana, como se pressente na melancólica ‘Metaz form8’, uma peça de solene e espiritual poética que poderia escutar-se numa catedral de metal reluzente de Frank Gehry, ou ‘gr4’ que, certamente, permitiria o encaixe de um vocal de alguém como SOPHIE transformando-se numa canção, talvez até de amor. Quando se chega a ‘th red a’ já estamos literalmente a levitar, imersos numa flutuante esfera interior de um balsâmico pad de contornos analógicos, quase ‘new age’ no seu hipnótico propósito, um estado que já não se abandona até ao final do alinhamento, prolongando-se por ‘psin AM’ e ‘r cazt’ adentro. Não é difícil querer habitar este SIGN, um trabalho em que Brown e Booth investem, afinal de contas, toda a sua humanidade, regressando por momentos desse futuro que sempre preferiram percorrer para nos darem um ‘sinal’ (lá está…) de luz neste estranho e obscuro presente.”


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