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Publicado a: 10/03/2018

Lisboa Dance Festival 2018: As várias cores da electrónica na nova vida no Hub Criativo do Beato

Publicado a: 10/03/2018

[TEXTO] Ricardo Farinha [FOTOS] Lúcia Domingues

A terceira edição do Lisboa Dance Festival fica desde logo marcada pela mudança da Lx Factory para o Hub Criativo do Beato, na zona de Lisboa que se tem transformado (e muito) e que só vai crescer ainda mais nos próximos anos. Se Lisboa tiver uma Detroit — não em termos criativos musicais e tipo de população, mas de arquitectura industrial, com fábricas e armazéns semi-abandonados, é o triângulo do Beato, Xabregas e Marvila, na zona oriental ribeirinha da cidade. E isso assenta que nem uma luva ao Lisboa Dance Festival

O arranque desta sexta-feira, 9 de Março, fez-se com chuva, sem tréguas para o festival, e ainda se temeu pelo pior: havia muito pouca gente a circular pelo recinto por volta das 20h30, quando já começavam vários DJ sets bem relevantes.

No Hub Criativo do Beato perde-se o ambiente característico da Lx Factory (que também é uma antiga fábrica, só que muito mais transformada) mas ganha-se, por exemplo, em o público não ter de mostrar a pulseira cada vez que quer muda de sala, já que o Hub Criativo do Beato fica completamente reservado para o festival. Além disso, o ambiente é mais rústico, menos alterado, e isso também combina com o facto de o cartaz deste ano estar mais centrado na electrónica e ter menos hip hop.

 


@djmarfox a fazer mexer no @lisboadancefestival.

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Deste lado arrancamos com a actuação de DJ Marfox, na antiga Fábrica das Massas, o palco mais afastado da entrada e aquele com referências mais tropicais e quentes. As instruções de comando do DJ português para a pista de dança — que mereceria estar bastante mais preenchida — são óbvias: a palavra de ordem é dançar, mesmo que a BPMs não tão elevados como aqueles que encontraríamos numa Noite Príncipe no Musicbox (afinal, ainda se faz a digestão do jantar neste momento).

Também o branco sabe dançar, já dizia Kalaf, e se a plateia tem menos melanina daquela que encontramos, mais uma vez, na casa de Marfox nas Noites Príncipe, isso não a impede de também se mexer bem (como acontece em todos os clubes internacionais por onde este DJ passa), ao som do mais autêntico som contemporâneo de Lisboa, onde a electrónica europeia se funde com os ritmos e batidas afro — e até há uma influência indiana que também é fruto da mistura da Quinta do Mocho.

 


MARFOX12


Marfox desfilou batidas recheadas de percussões, sons de flauta, do seu currículo ou da discografia dos seus companheiros de editora/movimento/sonoridade. No final, também se percebe porque é que os turistas estrangeiros têm tanto interesse em vir ao Lisboa Dance Festival: podem assistir à electrónica de nomes de referência europeus e americanos, anglo-saxónicos e alemães, mas também levam para casa, nos corpos suados, cansados e felizes, os ritmos da Lisboa multicultural, que só merece ser cada vez mais e mais celebrada.

A hora chega para partirmos para outra antiga fábrica, a do pão, que talvez possa ser considerada o palco principal — mas não temos grandes certezas. E isso é interessante. Já passa das 22 horas e, agora sim, o recinto começa a encher-se e bem, mesmo que todo o espaço combine melhor com uma noite de verão ou primavera.

 


nao 2


NAO é uma das — se não a — grandes figuras da noite e a sala está lotada para assistir à diva londrina do R&B, embrulhado numa estética electrónica e moderna, que falou com o Rimas e Batidas a propósito desta actuação. Já a tínhamos visto no Vodafone Mexefest de 2016, no Coliseu dos Recreios, palco meritíssimo, mas aqui a sala é bem mais intimista e NAO e a sua banda estão mais próximos do público num sentido literal, mas também espiritual. Isso sente-se no ar.

A cantora e produtora tem uma enorme presença em palco — conjuga a arte de saber como dominá-lo com a subtileza que também encontramos na sua música e nas pausas entre temas em que diz algumas palavras com uma voz mais baixa, menos grave, doce, e aparentemente tímida. NAO tem um toque clássico quente, típico das grandes vozes do r&b ou da soul, mas conjuga-o com uma certa frieza moderna electrónica, que resulta num equilíbrio que a distingue. A performance é imaculada, numa actuação que nos leva por “Girlfriend”, “Fool to Love” ou “Bad Blood”, entre tantos outros temas. Mais importante do que tudo, numa perspectiva alargada, é que NAO não destoa em nada das restantes actuações que preenchem o cartaz do dia.

O concerto é dançável, dinâmico, e ganha força orgânica através da banda que a acompanha. É um som suave comparado com outras coisas que iríamos ouvir naquela noite, sim, mas é importante que haja espaço para várias coordenadas da música de dança ou electrónica num festival como este.

Noutro lado do recinto, num palco que terá sido uma enorme pastelaria, começa-se a ouvir o house do jovem DJ alemão Max Graef, que tem uma carreira de valor (e ainda promissora para aquilo que poderá vir a fazer).

A pista está preenchida e parece preparada para mais algumas horas a bater pé e a abanar os corpos na pista, e Graef conjuga faixas de algumas das suas referências com temas dos seus próprios trabalhos, como Rivers of the Red Planet ou The Yard Work Simulator, em parceria com Glenn Astro.

Terminamos a noite, já cansados — admitimos –, de volta à Fábrica das Massas, onde a batida de Lisboa foi substituída pelo house pesado do britânico Leon Vynehall, que transforma aquela estrutura industrial na sua casa para a noite. Não há assim tanta gente a assistir ao set — a concorrência é grande nesta altura — mas quem está presente está convicto da sua decisão. Pelo meio do set, conseguimos identificar algumas faixas de Music for the Uninvited e Rojus (Designed to Dance).

 


“WE REALLY DO ADORE YOU! Thank you Wonky funk queen!”

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