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Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 06/09/2023

Um final de semana diferente.

Temporada Engawa na Gulbenkian: a imensidão da distância não apaga os laços invisíveis que nos une

Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 06/09/2023

Castella ou Kasuterao. Simples referência gastronómica, não pelo lado de degustação que tão deliciosa sobremesa é merecedora, mas um dos muitos pontos de contacto históricos de uma relação longa como é a de Portugal–Japão. Wenceslau de Moares, nome maior no conhecimento entre nós do país do sol nascente. Mais recentemente, pequenas homenagens como o Jardim do Japão em Lisboa, onde as cerejeiras tardam em florir e que estão “dispostas em forma de um texto em caracteres japoneses e em escrita ocidental”. Tudo parece curto. A imensidão da distância não deve apagar os laços invisíveis que nos une. Como tal, é de saudar a programação que o Centro de Arte Moderna [CAM] da Fundação Calouste Gulbenkian, no âmbito do 40º aniversário, dedica a este país, com o sugestivo quanto apurado nome de Engawa. Como mencionado no texto de apresentação – “a programação parte do conceito que está na base do projeto do arquiteto japonês Kengo Kuma para o edifício do CAM, que designa um espaço de passagem, simultaneamente interior e exterior, característico das casas tradicionais japonesas.”

Tivemos a oportunidade de assistir a um concerto flutuante, no que de transcendente encerra este termo, no passado dia 21 de Julho – 100 Cymbals de Ryoji Ikeda. Ficará certamente na memória pela dimensão sonora e performativa do mesmo. Este fim de semana, Engawa regressa para diferentes apresentações, nos dias 8, 9 e 10 de Setembro. Assim — e pede-se anotação em caligrafia cuidada, como a japonesa — poder-se-á assistir ao FluxFest Lisboa – Conversa sobre o Japão. A começar, no dia 8 de Setembro com uma conversa com Ami Yamasaki, Ko Ishikawa, Christian Marclay e Jaime Reis. Pela qualidade do trabalho desenvolvido, pela diversidade da formação dos mesmos – filosofia, música, artes plásticas – encontramo-nos perante um momento a não perder. Dar-nos–ão a conhecer o movimento Fluxus como um fenómeno total, onde a arte e a vida não andam dissociados, são extensões dos corpos e da alma que os habita. Segue-se a performance a solo Ami Yamasaki que utilizará o corpo como um instrumento, utilizando a voz como “mecanismo de interconexão”. A relação com o(s) lugar(es) que ocupa(mos) servirá de base para um jogo/exercício entre as vibrações invisíveis e o lugar.

Prosseguindo a homenagem a Mieko Shiomi, projectar-se-á a entrevista que a arquivista Michelle Elligot realizou [Vários horários, Auditório 3]. Chamar a atenção para a importância de Mieko Shiomi como figura de proa do movimento Fluxus no Japão. A artista e compositora fundou o Group Ongaku e com ele explorou a improvisação e a acção. O Group Ongaku apresentou trabalhos de John Cage, La Monte Young e George Brecht.

Uma composição visual de onomatopeias com 18 metros de comprimento da autoria de Christian Marclay chama só por si a atenção. Acrescentar que Ami Yamasaki apresentará uma performance a partir de Manga Scroll é para dobrar e vincar bem o canto do programa [9 de Setembro, Palco Grande Auditório, às 17 horas]. Igualmente a 9 de Setembro, na Escadaria principal [às 20h30] e no Auditório 2 [21h40] apresentar-se-á Endless Box: trabalhos de 1999 a 2023, dedicado a Mieko Shiomi. A direcção artíctica é de Jaime Reis, tratando-se de uma co-produção com Lisboa Incomum/Projecto DME

No Domingo, 10 de Setembro [Grande Auditório, às 18 horas], o músico Ko Ishikawa e Ami Yamasaki darão a conhecer, em estreia absoluta Yobi Miz [chamar a água]. Fundir-se-ão os dois em corpo unitário, transfigurando-se numa convocação colectiva para quem está disposto a libertar “o tempo e a energia dormentes daquele lugar.” Aproveitemos os jardins da fundação, muito seguramente desenhados segundo preceitos japoneses, a indagar, para saborear chá do Monte Fuji, da Primeira Colheita da Primavera. Certamente dar-nos-á a serenidade necessária para o regresso aguardado nos dias 10, 11 e 12 de Novembro — uma intervenção do coletivo Chim↑Pom from Smappa!Group (CPfSG) num complexo habitacional da cidade de Lisboa.


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