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Fotografia: Vera Marmelo
Publicado a: 08/05/2023

Com o público na palma da mão.

Ana Lua Caiano na ZDB: leis da física e uma sala esgotada por uma talentosa artista

Fotografia: Vera Marmelo
Publicado a: 08/05/2023

Ao chegarmos à Galeria Zé dos Bois (ZDB) no dia 6 de Maio para o concerto de Ana Lua Caiano para a apresentação do seu novo EP Se Dançar É Só Depois, somos recebidos por um papel que informa discretamente que o concerto está esgotado, um símbolo do fenómeno que é esta artista portuguesa. Depois de há quase 4 meses ter praticamente esgotado o Musicbox, desta vez esgotou a ZDB e voltou a conquistar a capital fazendo aquilo que sabe melhor. Ana Lua Caiano chegou, tocou e venceu.

Dez minutos depois da hora combinada, começam a ouvir-se esparsos assobios de impaciência. O rastilho tinha sido ateado, e Ana Lua Caiano surgiu em palco pouco tempo depois, recebida por aplausos calorosos. “Olha Maria” abriu as hostilidades com a sua energia cortante e urgente, absorvida de forma fúnebre e compenetrada pelo público. No final, uma torrente de aplausos presentearam a cantautora e o tema inicial. Essa foi a primeira instância naquela noite em que vimos provada ao vivo a terceira lei de Newton – para toda a acção há sempre uma reacção oposta e de igual intensidade.

Exposto o jargão, prossegue a actuação. Este par acção-reacção não foi coisa rara ao longo do concerto: sentimo-lo quando as palmas encheram a sala depois do medley bem conseguido entre a melodiosa “Um Menos Um” e a melodramática “Nem Mal Me Queres”. Em “Vou Abaixo, Volto Acima”, inspirados por eficazes transmutações de um loop de castanholas portuguesas e a pedido da sua alquimista sonora, os fãs entoaram o hino resiliente e fatalista com que a artista encerra este tema. E no final de “Cheguei Tarde A Ontem” vimos corpos e cabeças balançarem com leveza individual, propalados pelo final em cânone. A ciência informa e Ana Lua Caiano e os seus fãs provam-no ao vivo.

A artista recebeu o público com músicas do seu primeiro EP Cheguei Tarde A Ontem, lançado em 2022. Quando chegou a altura de apresentar o EP central da actuação e que tinha lançado um dia antes do evento, chamou a palco o único convidado daquela noite, Fred Ferreira, que tocou em dois temas: a paranóica e deliciosamente frenética “Dói-me a Cabeça e o Juízo” e o hino instantâneo “Adormeço Sem Dizer Para Onde Vou”. O experiente baterista acompanhou fielmente a jovem artista, e trouxe uma efervescência muito bem-vinda à actuação. Os dois temas mostraram que a música de Ana Lua Caiano resulta muito bem com instrumentistas que igualam a sua energia. 

Além de tocar as músicas dos dois EPs que lançou, a artista também trouxe no alinhamento uma música do álbum que está a gravar, o tema “Vou Ficar Neste Quadrado”. Aqui, Ana Lua Caiano solicitou a ajuda do público para marcar o ritmo da música com os pés. Unidos numa espécie de marcha estática que abalava os ouvidos, os elementos da plateia acompanharam-na com afinco. É com confiança que volta a mostrar ao vivo de “Vou Ficar Neste Quadrado”, ciente de que reagem com entusiasmo às suas acções sonoras e que estão prontos para o seu progresso enquanto artista.

Antes de “Se Dançar é Só Depois” e “Casa Abandonada” encerrarem o espectáculo, Ana Lua Caiano lamentou ainda não ter o seu segundo EP disponível para venda, mas fez um apelo à compra de dois tipo de merch: o CD do seu primeiro EP e meias, apesar de reconhecer, no segundo caso, “que não está tempo para isso”. No primeiro caso, é uma questão irrelevante: a música de Ana Lua Caiano é adequada a todos os climas, estações e temperaturas. 

O encore “Mão na Mão” encerrou definitivamente a actuação, com muitos aplausos e assobios à mistura. Sinais de um público rendido às habilidades musicais de Ana Lua Caiano. “Ando sempre um bocado à frente daquilo que estou a mostrar”, disse a certa altura. Rodeada de loops que mostram as suas fusões de música electrónica com música tradicional portuguesa, a artista esgota salas, e é o seu talento que as enche. Que o digam todos aqueles que ouviram atentamente mais uma actuação de uma das vozes mais interessantes da nova música portuguesa.


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