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[TEXTO] Alexandre Ribeiro [FOTOS] Hélder White
Lembro-me de ouvir pela primeira vez o novo disco de NBC e pensar para mim mesmo: “Isto não tem paralelo cá em Portugal”. Um produto diferente com uma alma singular. Toda a Gente Pode Ser Tudo acabou por rodar mais algumas vezes aqui por casa e ia ficando melhor a cada audição. Se em Maturidade já existiam indícios do que um dos Filhos de um Deus Menor poderia ser, TGPST é a prova viva de que este é o caminho certo.
Ao entrar na sala – Estúdio Time Out, Mercado da Ribeira –, a primeira percepção que tive do público foi que o espectro de idades era grande. Miúdos que ainda estarão a terminar o ensino básico e pessoas que já entraram na idade de reforma. No meio da audiência, Virgul, Bomberjack ou DJ Glue representavam a cultura hip hop, aquela pela qual NBC mudou a vida.
Antes do artista de Torres Vedras subir a palco, Cat Boto apresentou duas canções e “Não Quero Ouvir Nada”, single editado no final de 2016, levou nova roupagem que assentou igualmente bem na bela voz da cantora – a produção original é de Juzicy Beatz, talento português que está pronto para aventuras maiores. Logo a seguir, Kwan, DJ com provas mais que dadas no hip hop nacional, deu a estocada final antes do main act chegar finalmente à linha da frente.
Asas negras e peito despido. The VelCrew nas costas e ao lado para suportá-lo. Timóteo soube chamar os melhores e no concerto fez questão de reforçá-lo várias vezes, sem problemas de assumir que é ele que carrega a música com o seu nome, mas o produto final é fruto de um trabalho em conjunto. Menção especial para Guilherme Salgueiro – “o director musical”, segundo NBC – que merece créditos pela instrumentação elegante e variada – os arranjos conseguem “citar” sonicamente os Soulquarians numa vertente mais soul e R&B ou Gallant numa abordagem mais moderna.
Se a apresentação era sobre o momento presente da carreira de NBC, o passado também marcou presença: “Segunda Pele” continua a ser uma canção portentosa, mesmo que já tenham passado quase dez anos desde a sua edição.
Por falar em canções portentosas, Dino D’Santiago cantou “Vagabundos” e mostrou o porquê de ser umas das melhores vozes nacionais. Apenas acompanhado pelo guitarrista Jónatas Marques, o cantor apresentou uma entrega impressionante e fez dedicatória especial para aqueles que não acreditavam que o hip hop iria vingar enquanto género.
A descoberta da voz por NBC levou-o até aqui e era altura de mostrar da forma mais expressiva possível tudo o que lhe vai na alma, sem cortes ou medos. O título do último trabalho é falacioso, mas a ideia está lá: não devemos baixar os braços antes de darmos tudo para fazer aquilo que mais queremos e mais amamos. Afinal de contas, foi isso que ele fez. E é uma bênção vê-lo lá em cima a encher os pulmões para cantar canções como “Gratia”, “Dois” ou “Acorda”.
Tirando Dino D’ Santiago, três convidados vieram dar o seu cunho especial a esta noite: Zé Maria, saxofonista, entregou-se com tudo em “Arma”; Virgul foi presença enérgica em palco e demonstrou-o em “Nú” ; Sir Scratch impressionou em “Espelho” numa entrega agressiva de um dos melhores versos de 2016.
Numa noite familiar – o filho, a mãe e o pai subiram a palco – , NBC demonstrou que é o soul man que fazia falta em Portugal. Se o trabalho e a perseverança fossem sinónimo de sucesso, o músico não teria problemas em fazer Portugal de lés-a-lés a encher salas. Vamos para casa com a frase a ecoar-nos na cabeça: Toda a gente pode ser tudo.
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