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Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 27/12/2022

O acto complexo (e agridoce) de esperar por algo que nunca vai acontecer.

Acácia Maior sobre “Speransa”: “Quisemos explorar sonoridades tanto do sul como do norte de Cabo Verde”

Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 27/12/2022

No final de 2020, os Acácia Maior apresentavam-se ao mundo com “Catá Bórre“, single que seria sucedido nos tempos seguintes por “Sodade d’Mascrinha“, “Afronta” e “Raso lark“. Dois anos depois desse primeiro tema que lhes abriu várias portas nos panoramas português (venceram nos Novos Talentos FNAC 2021 na área da música) e cabo-verdiano, o colectivo encabeçado por Henrique Silva e Luís Firmino mostra “Speransa”, que conta com a participação de Berlok e Landa, e continua a antecipar Cimbrom Celeste, álbum de estreia que está previsto ser editado no primeiro trimestre de 2023.

Este domingo, no Dia de Natal, a banda lançou o videoclipe (realizado por Boaventura Art Studio) da mais recente faixa, razão mais do que suficiente para enviarmos algumas perguntas ao músico que é também uma das metades de rally fantasia para fazer um ponto de situação.



Fala-nos um pouco da criação do tema: como é que o Berlok e a Landa acabam a contribuir para a faixa?

O Berlok e Landa foram nomes que nos surgiram logo após a composição do tema, sentimos que o peso dos beats do Berlok fariam sentido na vibe psicadélica da música e que a interpretação e a voz angelical da Landa iriam fazer uma ponte perfeita entre a poesia/tema e as sonoridades escolhidas. Neste som quisemos explorar sonoridades tanto do sul como do norte de Cabo Verde, neste caso o batuku e o sanjon, dois ritmos de matriz ternária que achámos que se iriam casar bem. A letra da música está escrita em diferentes variantes do crioulo cabo-verdiano.

Já agora, descortinem um pouco da ideia por trás do videoclipe. 

A ideia do videoclipe foi inspirada na nossa rotina diária. Acreditamos que a esperança vive daquilo que nos faz levantar da cama todos os dias, que é fazer arte e viver dela. Muitas das vezes a inspiração dos nossos temas surgem numa viagem de comboio ou de metro e, neste caso, a inspiração visual que o Nuno Miranda (Boaventura Art Studio) teve como ponto central do videoclipe foi o facto das mulheres africanas (na sua maioria), que têm trabalhos madrugadores, estarem muitas vezes a dormir nas suas viagens de transporte público, derivado do cansaço das sua rotinas e da espera(nça) de uma vida melhor.

Lançam a faixa no dia de Natal. Alguma razão especial para isso (para além do óbvio)?

A ideia de lançar o “Speransa” no dia de Natal surgiu quase que por acaso. Talvez por ser uma época em que as pessoas estão mais receptivas a mensagens de esperança, faria sentido lançar a nossa “reflexão” sobre o tema nesta altura. O tema foi composto na altura do Carnaval inclusive, ou seja, não foi pensado para a quadra natalícia, quisemos apenas abordar a complexidade do tema “esperança” no povo cabo-verdiano a viver no estrangeiro, algo agridoce e que muitas vezes nos traz coisas boas mas que na maior parte das vezes é apenas o estar à espera de algo que nunca vai acontecer.

Faz dois anos que vos ouvimos pela primeira vez em “Catá Bórre”. Este “Speransa” faz parte de algum EP ou, quem sabe, do álbum de estreia? O que andam a preparar que já podem revelar?

Sim, todos os temas que lançamos até agora, excepto o “Raso Lark”, que faz parte da compilação A Guide to the Birdsong of Western Africa, vão fazer parte do álbum de estreia, que está neste momento na sua cozedura final. O álbum vai-se chamar Cimbrom Celeste e conta com 10 músicas originais. Está previsto ser lançado no primeiro trimestre de 2023.

Dá a sensação que, desde que ouvimos falar de vocês pela primeira vez em 2020, têm trabalhado (em grupo ou individualmente) com artistas muito diferentes como o Chullage ou a Cátia Sá. Como é que sentiram que foram recebidos e como é que olham para os diferentes ambientes artísticos em que sem têm inserido?

O objectivo da Acácia Maior sempre foi esse, o de ser um colectivo e não uma banda, de nos podermos aliar a vários universos musicais e sermos várias coisas. A simbiose entre vários projectos e vários artistas é o que faz a nossa Acácia existir. O “Catá Bórre” foi uma experiência única para nós, pois foi muito bem aceite em várias latitudes da cena artística tanto portuguesa como crioula, e isso abriu-nos portas a trabalhar com muitas pessoas que nós admiramos.  

O single “Speransa” serviu quase como plataforma de lançamento de LANDA, novo projecto da Mónica Landim e do qual também faço parte como produtor. Este EP de Landa, curiosamente, foi feito muito antes da existência da Acácia Maior, mas só agora fez sentido ser partilhado publicamente. 


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