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Fotografia: Arlindo Camacho
Publicado a: 05/03/2020

"Só Eu Sei" é o mais recente avanço de Filho da Guida.

9 Miller: “Acredito que, actualmente, estou dentro do núcleo dos poucos rappers sinceros no game

Fotografia: Arlindo Camacho
Publicado a: 05/03/2020

O álbum de estreia ainda não chegou, mas 9 Miller é tudo menos um novato. Apesar de ter ganho maior popularidade nos últimos anos, o rapper já se fazia ouvir em Egotripping Mixtape, trabalho de Xeg editado em 2010. Porém, a passagem pela Liga Knock Out, os primeiros singles pela Superbad e o mediático beef com Piruka (que também envolveu Holly Hood) garantiram-lhe um protagonismo que teima em não largar. E 2020 poderá ser um ano marcante para a sua carreira.

“Só Eu Sei”, o último single, tem a participação de T-Rex e Phoenix RDC e produção de Beatoven, mostrando-nos um Mauro Passinhas mais introspectivo do que é comum e a reflectir sobre como as “pedras”, o “sofrimento” e a pobreza moldaram o seu carácter e a visão do mundo. O outro lado da moeda para bangers como “Problemas” e “De Volta”. Agora com Agir e a Real Caviar (sem esquecer a Sony Music Portugal) ao seu lado, 9 Miller prepara-se para lançar Filho da Guida, o muito antecipado primeiro longa-duração que já anda a ser falado desde 2016. Aproveitámos o novo lançamento para questionar o MC sobre as alterações que o seu disco já sofreu desde o primeiro anúncio ou as críticas recorrentes ao conteúdo das suas músicas.

Comecemos pelo mais recente single, que conta com a participação do T-Rex e do Phoenix RDC. Como é que estes dois nomes surgem na equação? São dois artistas que respeito imenso, foi uma escolha óbvia e acabou por acontecer naturalmente. Quando fechei o conceito da música, foram os condutores que vi de imediato para me acompanharem nesta estrada que construí.  Em 2016 e 2017 falaste com o Rimas e Batidas sobre o Filho da Guida, mas entretanto já passaram alguns anos e as coisas na tua carreira tomaram um rumo diferente. Que disco é que podemos esperar, neste momento?  É verdade. O meu álbum já teve várias fases e várias linhas, mas o conceito continua o mesmo. Deixei a linha que tinha e decidi fazer algo muito versátil, mas sempre sem perder a minha identidade, por isso podem esperar músicas que podem odiar e [outras que] podem adorar. É preciso ter a mente muito aberta para gostar do meu álbum inteiro. Tens tido produtores diferentes para todos os singles do álbum. De que tipo de instrumentais é que andaste à procura para este registo? Normalmente não procuro um tipo de instrumental específico, identifico-me com imensos produtores actualmente, e como neste momento estou numa fase muito versátil da minha carreira, não existe um produtor específico para mim. Se eu gostar, vou querer entrar, sem receios de pensar se será certo para mim ou não. Sou um artista em constante evolução, gosto de me desafiar e ver até onde consigo ir sem perder a minha essência. Aproximaste-te do Agir nos últimos tempos. Como é que tem sido trabalhar com ele? Ele influenciou a forma como abordas uma canção? O Agir tem sido um óptimo conselheiro, amigo e colega de trabalho, é incansável, sinto que estou diariamente a aprender com ele. Para ser sincero, ao início não achei que a química fosse ser tanta como é hoje. Foi uma óptima surpresa e só tenho que lhe agradecer por este caminho até agora.  Participaste na Liga Knock Out, estiveste na Superbad, chegaste a subir a palco com a Think Music numa edição do MEO Sudoeste e actualmente encontras-te na Real Caviar, por isso pareces a pessoa certa para responder a esta pergunta: estamos num dos melhores momentos do rap português? O hip hop está numa óptima fase, tanto para rappers e cantores como para produtores. Acho que a evolução é notória e cada vez mais o género é respeitado na indústria. Ainda assim tenho pena que algumas pessoas tenham a mente demasiado fechada para aceitar que podem existir vários tipos de artistas ou estilos de rap com sucesso em Portugal. Espero que num futuro próximo seja uma questão cada vez com menos importância. Tirando os rappers com quem tens colaborado, quem é que têm sido os nomes que te têm surpreendido em Portugal? Não tenho como hábito ouvir muitos rappers portugueses, mas é impossível não destacar os rappers com os quais já colaborei.  Em algumas caixas de comentários tens sido acusado de ser superficial e sem conteúdo. Achas que o álbum vai provar àqueles que ainda duvidam de ti que tens algo a dizer? E pensas que as mulheres e a ostentação estavam, de alguma forma, a afastar as pessoas daquilo que estavas a rimar? Houve uma maior preocupação nesse sentido nos temas mais recentes? Boa pergunta, vamos por partes. Primeiro, eu não acho que a música tenha de ser obrigatoriamente uma aula de educação, na música existem vários feelings: podes sentir alegria, tristeza, entre inúmeros outros sentimentos. O problema é que muitas pessoas acham que o rap, principalmente, tem de ser feito apenas de uma forma só e que tem sempre de ter uma mensagem para passar. Eu não concordo. Eu sou um rapper muito do egotrip (termo bastante utilizado hoje em dia e que a maior parte das pessoas que ouve rap ainda desconhece) onde não existe um tema específico e onde o rapper procura demonstrar toda a sua técnica em rimas de ataque e de superioridade total — surgem metáforas, métricas alucinantes, flows desafiadores e punchlines agressivas. Esse é o meu estilo de rap e o rap na verdade pode ser tudo — pode ser festa, pode ser inconsciente. No final acabo por ser um pouco egoísta na criação, faço música para mim. Claro que me sinto infinitamente grato com o apoio e feedback positivo dos meus fãs que tornam o meu sonho possível, mas o facto de as pessoas gostarem ou não da minha música é secundário. O hip hop é tudo o que tu quiseres e foi essa liberdade que me fez apaixonar por esta cultura. Também gosto de escrever sobre temas e mensagens com mais sentido, mas o hip hop não pode ser apenas o que as pessoas gostam e que é fácil de ouvir, também é sobre o que elas não esperam e isso também é uma aprendizagem.  O meu objectivo não é ofender mulheres, eu nunca falo de mulheres no geral, mas sim de um tipo de mulheres. No fim, sou só um homem solteiro que está com várias mulheres, falo sobre mim e passo uma imagem um pouco agressiva da minha realidade, mas isso faz parte do egotrip. Em relação à ostentação, fui sem-abrigo durante quatro anos, tive de roubar para comer e por isso valorizo muito tudo o que consegui alcançar até agora com o meu trabalho. O que eles chamam de ostentação, eu chamo de hustle. Sempre estive na luta e vou continuar a estar, sempre atrás desse money. Acredito que, actualmente, estou dentro do núcleo dos poucos rappers sinceros no game, muitos procuram vender uma imagem limpa, todos eles politicamente correctos quando na verdade são uns “9 Millers”, ou pior até.

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