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Publicado a: 20/07/2017

8 artistas que não podes perder na edição de 2017 do Milhões de Festa

Publicado a: 20/07/2017

[TEXTO] Rui Correia [FOTO] Dinis Santos e Paulo Cunha Martins

Celebra-se este ano uma década do Milhões de Festa, um festival que começou por dar a cara em pequenos espaços de contra-cultura – primeiro no Uptown (Porto) e depois no Censura Prévia, agora conhecido como Projéctil (Braga), até se estabelecer, desde 2010, em Barcelos, onde por lá se tem feito um dos festivais mais genuínos com amor pela musica sem preconceito de género. Música exploratória para todos os ouvidos.

A tarefa de fazer um guia essencial do festival torna-se para quem já possa por lá ter andado uma missão ambígua de baixo rendimento, já que se trata de um evento idiossincrático e de apelo directo ao melómano em toda a largura das frequências sonoras. Ainda assim, opta-se aqui por explorar em primeiro lugar terreno já familiar. Há claro, muitos outros nomes, para serem descobertos: dos artistas que são novos talentos, aos mais recatados ou efusivos, a marcar ponto na Terra ou em outras galáxias, sairemos de lá apaixonados pela intensidade da novidade. Disso não restam dúvidas.

 


[Gaslamp Killer] 

De Los Angeles a Barcelos, The Gaslamp Killer vem abalar o nosso conhecimento cosmológico e encurtar distâncias para a Beat Scene, não fosse ele um co-fundador do clube Low End Theory, mítico local que permitiu promover a partir de 2006, uma nova geração confluente entre o jazz e o rap. A Brainfeeder, editora liderada por Flying Lotus, deu-o a conhecer com o lançamento do primeiro disco Breakthrough, de 2012. É um artista que, apesar de passar mais despercebido no meio de nomes como o próprio FlyLo ou Thundercat, merece reconhecimento, sendo, claramente, um dos pontas de lança intergalácticos da costa oeste americana. Aventurando-se agora numa label a título individual, GLK, lançou Instrumentalepathy no ano passado, num trabalho de cuidado refinado no digging, numa aliança fiel entre o sampling e a intemporalidade do psicadelismo.  Valerá a pena experienciar as desafiantes novas pontes criadas pelo Gaslamp Killer e descobrir o seu excelente gosto (caótico) como selector.

 


[Yussef Dayes presents Black Focus]

Yussef Dayes e Kamaal Williams (aka Henry Wu) criaram um dos discos mais orgânicos e groovados que se possa escutar num trabalho editado no ano passado. Na 10ª edição do Milhões de Festa, Yussef, o baterista, apresenta-se sem Kamaal, o teclista, (atuou com o seu Ensemble recentemente no festival Matéria, no Porto) para tocar ao vivo o álbum Black Focus, registo harmonioso ao mesmo tempo que é experimental, infinitamente  apoiado no jazz e de um bom gosto insaciável traduzido em broken beat. Malcolm Catto do colectivo musical londrino The Heliocentrics gravou o projecto no seu estúdio analógico e daí se explica parte da confortável “temperatura” e proximidade que se sente com cada elemento e cada instrumento. E se assim é em estúdio, as expectativas são altas ao vivo. Não vamos querer nunca que este concerto termine.

 


[Moor Mother]

Apenas com um álbum lançado, a artista americana Camae Ayewa garantiu em 2016 um dos álbuns mais extremos e crus do ano. Ao contrário, por exemplo, de grupos como Death Grips, que utilizam ruído em doses industriais como base para o seu niilismo, Moor Mother em Fetish Bones arranca essa forma punk para dar a conhecer uma nova percepção em torno da cruel história afro-americana, desde o esclavagismo até ao racismo que se perpetua. Uma verdadeira benção e uma nova voz de libertação que não sabíamos fazer falta. Depois de uma primeira passagem por Coimbra, Porto e Lisboa em Abril, o poder da palavra em modo visceral volta para fazer estremecer as fundações de Barcelos, repor a verdade e projectar o futuro (sugerimos a leitura de um artigo mais completo acerca de Moor Mother escrito pelo Diogo Santos).

 


[Yves Tumor]

O tumultuoso e alienado Yves Tumor é possuidor de uma música pessoal, que funciona como um reglexo do mundo em que vivemos: desordenada, complexa e solitária. Há relatos da última passagem por Portugal – no festival Tremor, nos Açores – que dão conta de um performer de inconstância emocional, pronto a confrontar o público. De um palco enublado surgirá um artista inquieto e versátil, que no interessante álbum Serpent Music deu a conhecer uma complexidade dissonante em termos musicais: faixas compactadas em R&B subtilmente acompanhada de uma voz suavizada e distante; faixas ambiente em sequências sonhadoras e perturbadoras. Aqui, alimenta-se acima de tudo de secretismo e da ideia de anonimato, recorrente de quem vive fechado no mundo virtual como observador. Ao vivo, os chakras terão de estar alinhados, para se criar uma linha de comunicação interpessoal.

 


[MQNQ]

Quim Albergaria (dos Paus) juntou-se, como baterista, ao produtor MMMOOONNNOOO (o português seleccionado em 2014 para a Red Bull Music Academy – edição de Tóquio) para desenharem um projecto colaborativo como MQNQ. Um duelo intenso entre lado maquinal e físico, que teve a sua estreia ao vivo no Musicbox no ano passado e que promete, agora no palco da piscina, novos blocos sonoros densos de electrónica construída por instinto, para ouvir com o sol a bater na mona (bate mais dessa forma, garantidamente).

Esperem muita “LIVREZA” deles como repetido por ambos, recentemente, em entrevista para a Red Bull (na estreia do vídeo e single “Montacargas”).

 


[Hieroglyphic Being]

Viagens cósmicas é algo que Jamal Moss, músico de Chicago, nos oferecerá na piscina do Milhões já no último dia de festival. Desde novo, com 12 anos, encontrou nas pistas de dança a sua fonte de auto-descobrimento e agora, passados 30 anos, é um dos mais aclamados artistas underground da electrónica experimental e da house, um eremita que sai ao mundo para pregar ao bem-comum através da sua música. Teremos um vislumbre do último disco de Hieroglyphic Being Disco’s of Imhotep, editado pela Technicolour (sub-editora da Ninja Tune dedicada principalmente a lançamento de singles), um disco que oferece a cura através do alinhamento de frequências sonoras e de ritmos irregulares (garanto que não se vende aqui banha da cobra), acompanhado de movimentações lo-fi e progressistas de uma carreira longa e com muitas histórias nelas inscritas (temos uma entrevista planeada que poderá lançar luz sobre algumas delas). O domingo fecha em pleno na piscina, em ambiente meditativo.

 


[Ghost Wavvves x Mike El Nite]

A combinação Ghost Wavvves x Mike El Nite tem tudo para resultar em ego trip a dobrar. Os movimentos serão poucos para acompanhar a intrincada entrega que se espera de parte a parte: o rapper Mike El Nite, de um lado, liricalmente inteligente e carregado de braggadocio; e o produtor Ghost Wavvves (um dos portugueses destacados, a par com GPU Panic, em 2016, na Red Bull Music Academy – edição de Montreal), do outro, a debitar eletrónica ritmicamente complexa e de baixos ultra-graves. Faça-se justiça (sim, foi aquela mensagem subliminar ao álbum do Mike El Nite, O Justiceiro), relaxando e ouvindo este set especialmente preparado para o festival dentro da piscina e deixe-se a densidade submergir (uma novidade do festival: agora o sistema de som chega a quem queira mergulhar por inteiro).

 


[Powell]

O Milhões de Festa tem encerrado as edições com portentosos ataques sonoros que acendem alarmes dos carros e levam pessoas à janela a julgar que chegou o momento final das suas vidas. Foi o caso em 2015 com a electrónica disruptiva do músico inglês The Bug ou em 2016 com a banda punk rap americana The Ho99o9. Não será muito diferente este ano, com a aposta em Powell, que será uma combinação desses artistas mencionados: música punk em formato digital, feia, crua, distinta e de humor inteligente, que orgulharia antepassados que já haviam misturado punk com electrónica, como os Suicide ou Big Black (estes últimos viram a voz de Steve Albini ser samplada no tema “Insomniac“, o que valeu a Powell uma das mais sensacionais acções de promoção dos últimos anos). O encerramento promete de novo tornar-se memorável com o motivo de atenção centrado no álbum de estreia Sport editado pela XL no ano passado.

 


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