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Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 03/12/2019

O lado menos óbvio do DJing.

Diz Que Jogo: round #1 com Terzi, DJ 2old4school, DJ Carie, André Granada e Mojo Hannah

Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 03/12/2019
Neste Diz Que Jogo (o verbo e não o substantivo) vamos falar com vários DJs sobre as suas motivações atrás da cortina, ou neste caso, da cabine. Neste primeiro round, cinco distintos nomes do actual panorama clubbingTerzi, mestre culinário que tanto está nos pratos do Juno em Braga como do Lux; DJ 2old4school, caldense actualmente responsável pela Crew Hassan; DJ Carie, maga francesa da bass music que passou os últimos anos em Lisboa; André Granada, metade da dupla Funkamente e co-fundador da East Side Radio; e Mojo Hannah, da Invitcta, a co-criadora da Pérola Negra Radio.
[TERZI] INÍCIO – Comecei a passar música em 2009, em registo festas caseiras de amigos, já desde aí tinha a sorte de ter amigos comigo que sentiam a gana que eu sentia de querer chegar às cabines, muito por causa de dois factores: 1 – a onda toda electro, Simian Mobile Disco, Daft Punk, Ed Banger; 2 – A sorte de termos a mãe dum amigo que nos arranjava entrada no Lux, onde começámos a ir de quinta a sábado e foi se calhar a melhor aprendizagem que tivemos em relação a clubbing. A partir daí comecei a tocar um pouco por Lisboa, fundei a Extended Records em 2011 com o Sebastião Pinto (Lieben) e o João Frederico (Conhecido João). Em 2012 vim viver para Braga, comecei uma residência no Espaço Quatorze e a partir daí as coisas pegaram. Comecei no electro e rapidamente passei para ondas como o house, disco, techno, por aí fora. FLEXIBILIDADEComo tenho um prazer grande em ouvir música de todos os espectros dançáveis, tenho uma facilidade entre deambular dentro de estilos, mas sempre com o cunho pessoal que é o meu gosto, para o bem e para o mal. Tanto me entusiasma fazer um all night set no bar do Lux, onde passo discos de vertentes mais easy listening, como bom house, disco esquecido e funk antigo às horas certas, como me entusiasma fazer um all night set no Passos Manuel, onde posso ir de uma ponta a outra com uma liberdade que me deixa ir buscar faixas de industrial, algum electro antigo do eixo Detroit/Den Haag, como começar com os discos mais leftfield do eixo Madteo/Sued Records e afins. SHOPPING + SHIPPING – A maioria da música que compro é na Flur, no Mutt Discogs (um português que tem tudo e mais alguma coisa), Matéria Prima e Circus quando tenho tempo. Também compro alguns discos na Peekaboo e na Carpet and Snares. De resto, pontualmente, compro em lojas online como a Clone, a Juno e depois no mundo infinito do Discogs. Digital só compro Bandcamp. Acho que é a maneira mais justa e também costumo encontrar lá tudo o que não compro em vinil. ORGANIZAÇÃO – Sou bastante desorganizado para ser sincero. A mala normalmente é feita consoante o gig que vou ter/o entusiasmo com que estou a ouvir o disco em casa. Tenho as minhas prateleiras organizadas à minha maneira. Não é a mais normal mas funciona. Em relação ao digital, faço playlists no rekordbox consoante vibe e estado de espírito da música, não estilos. DIVULGAR VS ANIMAR – Como passo muito tempo a fazer digging e a ter a certeza se quero ou não comprar a música em questão, quando realmente a tenho é porque confio a 100% nela (na maioria das vezes). Há sempre a gana de tocar e depois não ter resposta do público. Acho que com algum esforço o divulgar funde-se facilmente com o animar. Há hits repescados que já se tornaram obscuridades. MIXAR – Acho que depende de cada um e da música que estão a passar. Não ligo muito a virtuosismos nem a obrigações :) O melhor exemplo que posso dar é curtir tanto num set de Theo Parrish como num set de DJ Marcelle. TARAS E RITUAIS – Por acaso não sou rapaz de grandes rituais. Gosto sempre de chegar meia hora mais cedo (ou mais) quando vou tocar. Ou para apanhar a recta final de quem passa música antes de mim, ou se for o primeiro, para chegar e ambientar-me à casa, ao mood de quem está lá a trabalhar, conhecer um pouco melhor quem me convida, etc. Sempre que me convidam no Norte, o ritual antes de tocar costuma ser uma água das pedras, porque o jantar é sempre um fartote. Em relação a músicas especiais a meio do set, tenho duas situações, e ambas envolvem o Arthur Russell: durante uns tempos tinha o fetiche de acabar uma noite que considerei boa com a faixa “Go Bang”, do projecto Dinosaur L, mas o remix do François Kevorkian. A outra situação era com a faixa, também do mesmo disco, “You’re Gonna Be Clean on Your Bean”, que usava para testar a amplitude de gosto do público, porque não é uma faixa fácil.
[DJ 2OLD4SCHOOL] INÍCIO – Comecei mais a sério quando tinha 15 anos e o meu pai e o meu irmão abriram um bar e sendo eu já o puto dos discos eles puseram-me como DJ… Na altura passava discos, cassetes áudio, cassetes VHS (verdade hehe) e depois surgiram os CDs! Usava uma mixer com vários canais para manobrar tudo. O som era basicamente entre o punk rock e a dita música sónica e alternativa. FLEXIBILIDADE – Para mim é muito importante olhar para o dancefloor e analisar rapidamente e instintivamente o que poderá fazer a maioria dançar sem mandar ninguém embora, há muitos factores para condicionar a minha escolha, desde as faixas etárias, às vestes, à maneira como dançam, género predominante, etc.. SHOPPING + SHIPPING – Quando viajo tento sempre trazer uns discos e gosto de ir a lojas de discos passar umas horas, mas hoje em dia compro mais através da Internet e do Discogs. ORGANIZAÇÃO – Malas de discos tenho sempre duas feitas: uma mais electrónica e outra mais groove tropical. As PENs estão sempre cheias de muitas pastas que dá para tudo …se tivesse que escolher discos do armário cada vez que passo som demoraria tanto tempo que não fazia mais nada da vida ;) DIVULGAR vs ANIMAR – Estou sempre à procura de surpreender e diria que 95% das musicas nos meus sets são musicas desconhecidas e só uso um hit para dar algum gáudio quando o dancefloor merece ou precisa (“Gáudio” seria um bom nome para uma editora [risos]). MIXAR – Mixar é um must se tocas música electrónica. Se não sabes mixar ou se não tens ferramentas que te ajudem como o sync, não deves passar electrónica de dança. FEES – São sempre motivo de vitimização de quem ainda não atingiu o patamar que espera, e quem já atingiu esse patamar não se queixa. A auto-vitimização recorrente em lamúrias no Facebook está quase sempre associada a DJs que não têm trabalho em condições, e a maioria deles porque não tem qualidades que os distingam dos novos DJs que aceitam tocar por quase nada….mas não foi assim que começámos todos? TARAS E RITUAIS – Gosto de mixar com pouca luz e quando tenho um VJ peço-lhe sempre para usar vídeos com pouca luz, pois acho que as pessoas se descontraem mais e dançam melhor no escurinho.
[DJ CARIE] INÍCIO – Quando: em 2000!!!! Porquê: Até agora, eu estou fascinada com a acção de pôr duas musicas juntas para criar magia. Dá-me uma sensação de calor, magia e criatividade louca. Registo: drum n’ bass / hip hop. FLEXIBILIDADE –  Para mim, pode-se sentir no ambiente geral do lugar. No Desterro sente-se que pode-se pôr qualquer tipo, até mesmo o mais experimental, enquanto no Park pode-se sentir que é mais “fancy” e precisa-se de algo mais acessível e comercial. Mas cada vez que posso desviar, tento pôr coisas mais arriscadas. SHOPPING + SHIPPING – Sítios onde compro: Bandcamp em primeiro lugar; SoundCloud; Juno Download; Bleep. E para vinil: Amor Records e lojas e mercados de discos onde eu ando. ORGANIZAÇÃO – Sou muito maníaca com isso: tudo está super bem organizado: em géneros de musicas; dentro do género em termos de BPM e dentro dos BPM em termos de novidades (o que eu saquei recentemente). Qualquer DJ poderia tocar com a minha PEN — é bem clara e limpa. Para mim, é uma ferramenta saber arrumar bem uma PEN. DIVULGAR vs ANIMAR – Quanto mais puder tocar coisas desconhecidas, mais gosto. Mas para mim há uma regra do “pôr um clássico de vez em quando” e nós todos temos “guilty pleasures”. Para mim, é pôr Beyoncé dentro dum set de gqom/ new jersey/ bass. hihihih. MIXAR –  Para mim mixar é um skill que une a seleção (melodias) e a justaposição. É uma magia, algo que transcende os dançarinos (que sentem a magia) e o DJ. Saber fazer isso é mostrar uma prova de competência, e ainda mais quando tudo é improvisado. FEES – Em Portugal a questão financeira é um pesadelo, acho que os bares tratam muito mal os DJs, com algumas excepções. Nunca vi da minha vida cachés tão baixos e injustos como em Portugal. Ainda é pior pelos DJs que devem declarar recibos verdes, e tem impostos a pagar vs. DJs que não estão a viver só disso. Tudo muito injusto, como sempre os bares e donos a encher-se e a desvalorizar a importância da música na noite. TARAS E RITUAIS – Para mim os pedidos deviam ser algo proibido. Quase sempre recuso-me a ouvir os requests das pessoas, acho uma falta de respeito. Eu gosto de ir tocar com t-shirts de labels, de colectivos de amigos e representar aquela cena, acho mega importante. Adoro acabar sets bem violentos e electrónicos com coisas soft e carinhosas. Pessoal, é o momento de pegar alguém para acabar a noite [risos]. Ser sempre o melhor que podes, tocar o mais técnico e melódico que puderes: BE A GOOD DJ IS IMPORTANT, sobretudo pelas mulheres: precisamos de reconhecimento e mostrar modelos que não estão aqui para só aproveitar da fama do DJ, mas sim para tocar bem.
[ANDRÉ GRANADA] INÍCIO – Terá sido algures entre 2003 e 2004 que comecei a comprar discos, na altura tínhamos um grupo de hip hop e enquanto uns obcecavam com a escrita, outros com o scratch e com os beats. FLEXIBILIDADE – Com o passar dos anos, e sofrendo de várias febres musicais, acumulei muita música e essa adaptação ou variação torna-se bastante natural. Para evitar surpresas prefiro sempre saber com o que contar e evitar sítios que não compreendem música fora do espectro mainstream. SHOPPING + SHIPPING – Estive demasiado tempo sem comprar discos mas felizmente essa febre voltou há uns três anos e desde então que praticamente não compro música digital (que costumava comprar nos mais variados sites). Discos prefiro sempre comprar em lojas, mas online, além do Discogs e Bandcamp, tenho um excelente dealer que consegue quase sempre o que lhe peço dos mais variados sítios. ORGANIZAÇÃO – Sempre a pensar na vibe do sítio onde vou ou vamos (no caso de Funkamente conversamos e organizamos as malas em percentagens de vários estilos). Isto é, que discos é que tenho que podem fazer sentido ali ou em determinada noite. DIVULGAR VS. ANIMAR – Sem dúvida divulgar música que é (ou foi) nova para mim. Se conseguir animar, melhor. Ser casmurro não combina com lidar com público e não tenho problemas nenhuns com passar música que é mais conhecida. Sei perfeitamente jogar com isso para estar à vontade nesta dicotomia. MIXAR – Eu adoro misturar música e o meu cérebro obriga-me sempre a tentar. Claro que não sou nenhum Magazino mas estou bastante à vontade para mixar sempre que é “mixável” (não há milagres). Seja rap, funk, disco, house, e é a melhor sensação. FEES – Não há caracteres suficientes para eu começar a falar deste assunto ahah. TARAS E RITUAIS – Nada como um pequeno ritual satânico para dar aquele kick extra pré-gig.
[MOJO HANNAH] INÍCIO – Comecei depois de ter saído da Universidade (em 2005?) num bar de rock no Porto, que entretanto se transformou num bar de tapas. Passava música feita ou interpretada por mulheres num registo post-punk, electrónica experimental, disco, new-wave, shoegaze, rock psicadélico, etc. Porque calhou, apeteceu-me, e o dono permitiu. FLEXIBILIDADE – Quando comecei não se colocava essa questão, passava o que queria e como demorei um pouco a levar isso a sério (acho que ainda não levo), também demorei a ter essa preocupação. O ideal será tentar fugir dos trabalhos que não oferecem liberdade “artística” e que estão dessintonizados com o que te apetece fazer, para que nunca tenhas que sentir que te estás a adaptar. Mas trabalho é trabalho, é preciso trabalhar e eu tenho a sorte de me apetecer muitas coisas diferentes ao mesmo tempo. SHOPPING + SHIPPING – Ebay, Discogs, Bandcamp, iTunes, feiras e lojas de discos dos locais que visito. ORGANIZAÇÃO – Quando passava música com vinil ia tirando da mala os discos de que estava farta e adicionando os novos que coubessem, sem qualquer preocupação com estilo ou BPM. Agora, como também uso PEN, farto-me das músicas mais depressa e tento adicionar coisas novas a cada set. Tenho umas quatro ou cinco pastas Pacheco base, vou adicionando pastas temporárias de música nova, que depois convergem em novas pastas base, com a temática que eu definir, por ex. “cantigas maléficas”. E essas sim, já estão organizadas por BPM, o que acabou por facilitar e influenciar também a forma como passo música, sem perder a esquizofrenia. DIVULGAR vs ANIMAR – Acho que os dois conceitos estão interligados (divulgar e animar), uso os dois em igual medida e, se for ao mesmo tempo, melhor. A minha relação com a música tem algo de investigação, e sim, acabo por ter vontade de divulgar tudo aquilo que apreendo, e tanto apreendo obscuridades como hits. O meu ouvido não é selectivo no que toca a esse parâmetro. MIXAR – Sempre tive a preocupação de tentar encontrar alguma ligação entre as músicas, nem que fosse só na minha cabeça. O beatmatching surgiu mais tarde quando comecei a introduzir música 4/4 nos meus sets, e olha que demorou. Honestamente prefiro um corte bem feito do que uma mistura mal feita, ao mesmo tempo que acho que passar só música 4/4 sem fazer beatmatching pode não fazer sentido, como também acho que tentar misturar coisas fora do compasso é pior do que um hiato. E também acho que se podem fazer sets muito bons sem qualquer técnica. Não gosto de regras, acho isso uma seca. FEEs – Não existem assim muitas casas em Portugal que paguem um valor justo, e essas casas, infelizmente, não podem receber todos os DJs que andam por aí. Como não sou propriamente uma DJ “internacional”, não estou a par dos cachés praticados lá fora, e se são assim tão diferentes dos praticados por cá. O que sei é que para ganhares dinheiro tens que produzir as tuas próprias festas ou encostares-te a uma determinada franja que consegue entrar em eventos maiores. E esse não é de todo o meu “ramo”, que talvez não exista significativamente em Portugal. Estou fixe com isso. TARAS E RITUAIS – Quando toco em b2b quero sempre escolher a primeira música, antes de ler a reacção do público gosto de ler a dos funcionários dos clubes/bares e tem que haver um vodka melhor do que Eristoff.

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